Quem pensa que a popularização da internet e dos smartphones pôs fim à cultura das declarações de amor, se engana. O serviço de telemensagens, que atingiu seu auge na virada do milênio, ainda se sustenta por aqueles que conservam o romantismo à moda antiga. Enquanto as atividades econômicas sofreram um baque com a pandemia, as 'mensageiras do amor' se surpreenderam com a procura e comemoram o sucesso do Dia dos Namorados.
Carro com luzes coloridas, fogos de artifício, playlist romântica, balões e uma declaração que emociona até os corações mais ríspidos. A fórmula caracteriza o orgulho dos clientes em externar aos quatro cantos seu sentimento pela pessoa amada e, por incrível que pareça, essa vontade foi estimulada com as restrições decorrentes da Covid-19. "Eu nunca tive tanto pedido, ainda tô tentando assimilar as coisas [...] foi um aumento grande", conta Alda dos Santos, idealizadora da Desperte Corações.
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Há 20 anos no mercado, ela relembra que apostou em anúncios grátis para dar o pontapé no seu negócio e, hoje, se orgulha por ter criado os filhos com o pagamento dos eventos. Em uma rotina que não permite descanso, Alda trabalha de domingo a domingo, pelo valor de até R$ 170 por visita, e não imaginava que o Dia dos Namorados deste ano fosse tão rentável. "Começou a chover pedidos", celebra. Uma semana com cinco eventos já era motivo de alegria, pois mal sabia que nos últimos dias iria precisar se desdobrar para conseguir realizar cinco eventos diários. "Imagina a correria que não tá? Dificilmente, tem dia que eu só faço um 'carro'", esclarece.
Desde às 11h espalhando carinho, Alda não sabe a hora que vai encerrar o expediente neste dia 12, mas sabe do esforço para concluir o roteiro que se estende por bairros distantes como Parnamirim e Boa Viagem. Devido à circulação, toma precauções contra o novo coronavírus e decidiu suspendeu a entrega de flores. "Eles querem que levem a mensagem, as músicas bonitas, que solte uns fogos e pronto. Não precisa levar nada mais, nem chocolate ou buquê", aponta.
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Com clientes em todas as áreas do Recife, a Desperte Corações faz a maioria das homenagens em edifícios, mas a recomendação para evitar aglomerações não impede que a mensagem seja entregue. "Eu falo lá debaixo e já abrange um público maior. As pessoas interagem, aplaudem, ouvem as mensagens e acabam me procurando nas redes sociais", detalha.
Embora as declarações de amor sejam fruto de um sentimento tão singelo, há quem evite ser surpreendido com as homenagens por achar que a prática é brega e ultrapassada. "Eu já ouvi dizer que é brega, mas a maioria gosta. Eu fico triste de ouvir isso e, inclusive, quando as pessoas falam comigo rindo porque quer um carro para 'tirar onda' com alguém, eu já não gosto", rebate Alda, que acrescentou, "eu levo muito a sério o que faço. Então, não contrate com o intuito de fazer palhaçada ou querer fazer uma pessoa passar vergonha. Eu trabalho com muito amor e tem um sentimento ali".
"Já mandei mensagem desse tipo e hoje trabalho com ela"
Desde às 4h de pé para finalizar os últimos preparativos de uma das datas mais lucrativas para o setor, a criadora da Tele Carinho, Vanessa Cavalvanti, revela que a telemensagem foi sua saída para o desemprego. "Quem vê, pensa que não tem ligação, que não dá lucro, que é um negócio esquecido, mas tem muito pai e mãe de família que sobrevive com isso [...] se não parar para almoçar e jantar, a gente vai se empolgando e recebendo pedidos", aponta.
Imagina atender uma ligação misteriosa e ouvir palavras de afeto por cerca de dois minutos? Esse é o serviço que ela assumiu no início deste ano. "É algo bastante antigo e tem gente que até acha brega, e faz assim: 'ainda existe mensagem fonada?' Mas, por incrível que pareça, é um setor que dá pra você sobreviver, dá pra você pagar suas contas e ter o pão de cada dia", avalia.
Com acesso a um banco de mensagens online, ela cobra R$ 15 por telefonema e se encarrega de escolher o depoimento que se encaixa com o perfil do cliente. Realizando mais de 15 ligações por dia, ela também credita ao distanciamento, o sucesso na pandemia. "A pandemia tá fazendo com que as pessoas até tentam se comunicar mais, mandar mais mensagem e procurar meu serviço. Tem gente que não tá saindo de casa, então de alguma forma querem fazer uma homenagem", complementou.