Dentro de um sistema de realeza, o conde é a figura que assessora o rei nos assuntos mais importantes do reino. Dentro do movimento brega, no Recife, tal posto é ocupado - com louvor -, há 22 anos pelo cantor Conde Só Brega. Reconhecido como um dos grandes nomes da cena, respeitado e admirado pelo público e colegas da música, o artista celebra sua experiência e trajetória no DVD recém-lançado ‘Livre para voar’. O trabalho audivoisual traz um repertório repleto de clássicos e participações de artistas da nova geração como as cantoras Dayanne Henrique e Francyne Ropper; o ‘Diamante Negro, Sheldon; e o poeta Petrúcio Amorim.
Nascido no bairro da Mustardinha, zona oeste do Recife, o Conde apaixonou-se pela música desde muito cedo. O apelido, aliás, também veio da infância. Os avós, que o criaram, o chamavam assim por seus cabelos ‘loirinhos’ que lhe davam ares de nobreza. Mais tarde, o jovem começou a apresentar-se em barzinhos da cidade até que foi descoberto pelo produtor da Banda Só Brega e sua entrada no grupo acabou lhe catapultando à uma carreira de sucesso e reconhecimento.
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O Conde é um dos nomes mais respeitados do brega em Pernambuco. Foto: Reprodução/Instagram
À frente da Só Brega, o Conde eternizou clássicos do brega pernambucano como ‘A vida é assim’, ‘Não devo nada a ninguém', e ‘Espelho do Poder’, entre outras. Essa última, que traz um sutil porém contundente discurso político, demonstra o talento do artista também como compositor, sem falar na sensibilidade de trazer para seu trabalho temas relevantes do cotidiano da população. “Eu queria ter poder pra poder fazer você às vezes dizer sim ao invés do não pra fome, pra saúde pra pobreza, pra miséria e educação”, diz a canção.
O Conde entende, melhor do que ninguém, que o brega atua como ferramenta identitária de quem o consome, sendo uma das culturas que melhor representa o povo pernambucano. “Não só aqui como no Nordeste inteiro e também no Belém do Pará, onde o movimento é forte. O Brasil inteiro curte a música do brega. Isso é ótimo pra gente que canta esse estilo”, diz o artista em entrevista exclusiva ao LeiaJá.
Com uma vida dedicada ao brega, o artista se mostrou muito feliz com o recente reconhecimento ao movimento, intitulado Patrimônio Imaterial Cultural da cidade do Recife. O cantor acredita que além da honraria, o título deve ser usado para a melhoria daqueles que trabalham na cadeia produtiva do segmento. “O bom seria que melhorasse o meio de vida das pessoas que cantam o brega, melhorasse a situação econômica e financeira deles. Seria a melhor coisa, afinal de contas as pessoas que cantam o brega são pessoas que levam emoção pros lares das pessoas, principalmente aquelas pessoas humildes, simples”.
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Em seu novo DVD, o Conde conta com participações especiais, como a do cantor Sheldon.
Para o Conde, os 22 anos de trabalho na música passaram rápido, como tudo aquilo “que é bom”. Nesse espaço de tempo, o cantor assistiu um pouco contrariado à chegada de novidades no movimento que, para ele, não estão de acordo com a real identidade da musicalidade brega. “Essas coisas que o pessoal cria um novo ritmo, começou com a pisadinha, depois veio o tecnobrega, veio os MCs. O brega é o romântico. ‘Abaixa aqui’, ‘senta aqui’, isso não é o estilo brega. O brega toca o seu coração, entra no coração das pessoas. Não concordo em dizer que isso é brega, isso é outro estilo de música”.
Mas, embora não faça muito gosto dessas novas vertentes, o Conde entende que elas podem coexistir e que há público para todos. “Todo mundo consome, ouve, isso é bom, afinal de contas favorece todo mundo”. O veterano está atento às novidades e, inclusive, conta com participações da nova geração no DVD ‘Livre para Voar’. Cantam ao seu lado as cantoras Dayanne Henrique e Francyne Ropper; e o ‘Diamante Negro, Sheldon.
Outra participação especial no trabalho é a do poeta e compositor Petrúcio Amorim. Juntos, o forrozeiro e o ‘bregueiro’ fazem uma homenagem ao cantor Augusto César, outro grande nome do brega pernambucano, falecido em abril deste ano em virtude da Covid-19.
A perda do colega e a gravidade da pandemia tocaram o artista. Vacinado e à espera de sua terceira dose da vacina contra o coronavírus, o Conde demonstra seu apoio à ciência e deixa um apelo para o público. “O problema do brasileiro é a ignorância, a falta de informação. Tem gente que ainda não tomou a vacina, não quer tomar.. O Governo deveria investir mais na mídia, mostrar a necessidade do uso da vacina. Se tivesse 100 vacinas para tomar eu tomaria com todo o gosto. A gente se prevenindo, se cuidando, vai vivendo melhor, né?”.
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Para 2022, os planos do Conde Só Brega envolvem a tomada de consciência da população para que a vida possa voltar minimamente ao normal. Animado com uma nova equipe que passou a assessorar o seu trabalho, da On Produções, o pernambuco espera levar ainda mais longe a sua música e continuar renovando o seu público, que não para de crescer. “Tô me sentindo ótimo, tô bem assessorado pela produtora que me abraçou e tá fazendo todo o possível para que a nossa música chegue não só no Brasil como lá fora também. Estou em boas companhias”.