No último dia 15, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, comemorava o que os petistas apontavam como o primeiro gol da sua campanha: a aliança com o PSB e a consequente indicação da deputada Luiza Erundina como vice na sua chapa.
O anúncio seria feito naquela tarde, em um hotel na capital paulista. Minutos antes, Haddad conversou com Erundina. Queria avisá-la sobre outro "gol" da campanha: o PP, de Paulo Maluf, seria colega de palanque, trazendo 1min35s de propaganda eleitoral na TV. Erundina não reagiu mal nem se opôs. "São os sapos que se engole na política", resumiu.
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Nos bastidores, porém, o sinal amarelo acendeu. O secretário-geral do PP paulista, Jesse Ribeiro, queria a confirmação de que o ex-presidente Lula iria à casa de Maluf selar o acordo PT-PP, dali a três dias. A visita estava no pacote, acertado em dois encontros na casa do ex-prefeito, com os presidentes nacional e municipal do PT, Rui Falcão e Antonio Donato, e o deputado José de Filippi (PT-SP).
No dia seguinte ao evento com Erundina, em um sábado, Haddad ligou para Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo, que ao lado do presidente estadual do PT, Edinho Silva, e do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, formam a trinca de operadores informais da campanha. Pediu a ele, hoje um dos petistas mais próximos a Lula, que falasse com o ex-presidente e insistisse na visita.
Incomunicável em razão de uma biópsia feita dois dias antes na laringe, região onde teve câncer, Lula não havia dito sim. Assessores buscavam a solução intermediária, como a ida de Maluf ao Instituto Lula ou a um local neutro.
Mas Maluf queria "casamento na igreja". Marinho foi atrás do ex-presidente convicto de que a aliança poderia não sair. Na segunda-feira, na clínica de São Bernardo onde Lula faz fisioterapia na perna, o convenceu a ir até Maluf. Poucas horas depois, as fotos do encontro estampavam os principais portais de notícia. Erundina, que havia comido uma pizza na casa de Haddad na noite anterior e não falara de desistência, anunciou que não seria mais candidata.
A crise estava instalada na campanha. Em 2011, Lula deu a Marinho a missão de procurar o então ministro da Educação em Brasília para informá-lo de que o queria candidato. Em restaurante à beira do Lago Paranoá, passou o script enviado pelo ex-presidente e, do ABC, ajudou a colocar de pé a "operação Haddad": costurou o apoio da Construindo um Novo Brasil, maior facção do PT. Depois, atuou para engavetar a prévia.
O envolvimento de Marinho no episódio Maluf alimentou o fogo amigo. Apontado como "estrangeiro" em território paulistano, onde o petismo até recentemente orbitava em torno da senadora Marta Suplicy, Marinho foi bombardeado pela campanha de Haddad e por críticos no Instituto Lula, como Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae, a ponto de Lula reclamar dos ataques.
Fronteira
Cotado para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Marinho aumentou nos últimos anos sua influência para além do ABC, pegando para si parte do espólio do ex-presidente do PT José Dirceu. Começou a incomodar. No mês passado, um armisítico teve que ser costurado entre Emídio e os aliados Marinho e Edinho: o prefeito de Osasco terá o apoio deles para disputar a presidência estadual do PT - Edinho trabalhava pelo seu vice, Rafael Marques.
A volta de Lula para São Bernardo, em 2011, num momento de reclusão por causa do câncer, aproximou os dois. Se por um lado ele se fortaleceu - petistas passaram a ter acesso a Lula por seu intermédio -, por outro o prefeito virou alvo no próprio partido. "Marinho virou uma instância no PT", atacou um petista.
Ministro de Lula no Trabalho e na Previdência, aproximou-se dele nos anos 1980 no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o qual presidiu entre 1996 e 2003. Nos anos 90, na crise das montadoras no ABC, destacou-se ao costurar acordos com o empresariado. "Ele nunca teve relação de confronto, mas de negociação", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. Entre 2003 e 2005, foi presidente da CUT.
Ao lado de Haddad, Emídio e do ministro Alexandre Padilha (Saúde), Marinho, de 53 anos, se fortaleceu com a tese de Lula de tentar ampliar o eleitorado do PT na eleição paulista ao romper com o revezamento Marta e Aloizio Mercadante, que vem de 1998. Para isso, Lula quer que Marinho faça de sua gestão uma vitrine que o deixe bem posicionado na eleição de 2018, já que em 2014 a tendência seria de reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). "Ele não é candidato a governador. Vai cumprir os quatro anos como prefeito", disse o deputado Vicentinho (PT-SP). Ontem, ele se lançou à reeleição, com o apoio de 17 siglas - do PP ao PC do B.
As alianças refletem a ampla base governista no Legislativo. "Decidimos apoiar a administração graças ao trabalho de Marinho com Kassab", disse o vereador Fabio Landi (PSD), ex-DEM. Marinho se aliou ao prefeito paulistano na construção dos palanques PT-PSD pelo Estado, contra o PSDB, de Alckmin.
Acesso
Com Lula como padrinho de sua vitrine, ele esbanja acesso ao governo federal, algo raro entre prefeitos. Além de verbas, leva ministros para anunciar investimentos. Neste mês, Padilha visitou a obra do Hospital de Clínicas, orçado em R$ 124 milhões e pago majoritariamente pelo governo federal. Em abril, Ana de Hollanda (Cultura) foi à cidade dar outros R$ 14 milhões para o Museu do Trabalhador, projeto de Marinho que abordará o movimento sindical.
Na disputa para vender os caças à FAB, recebeu carta branca do Planalto para negociar com Boeing, Dassault e Saab investimentos para criar um polo aeroespacial na cidade.
Dono de um orçamento de R$ 4 bilhões - o segundo maior do Estado, atrás da capital -, conseguiu mais do que dobrar os repasses federais desde 2009, quando assumiu. Em 2008, a cidade recebia R$ 152 milhões. O valor foi para R$ 413 milhões em 2011, crescimento de 170%, acima da média de 29% das cidades paulistas.
"O crescimento na cidade foi puxado pelo do País. Não por causa de gestão do governo local", ataca o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), que também é da região.
Na mira do PT e dos adversários, Marinho parece fazer de São Bernardo a escala do seu projeto político. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo