Carlos Saldanha cai na risada com a pergunta do repórter. Ele virou o novo Midas da animação de Hollywood? Rio, o primeiro filme com as aventuras de Blu, faturou US$ 485 milhões em escala planetária. Rio 2, que o repórter pensara haver faturado menos, ultrapassou os números superlativos na semana passada. Faturou US$ 490 milhões e ainda tem de estrear em algumas praças da Ásia e Oceania, o que significa que vai passar fácil dos US$ 500 milhões. Justamente o Brasil foi um dos raros países em que o público diminuiu, mas não foi nada alarmante. Rio (o primeiro) teve 6 milhões de espectadores. Rio 2, ficou em 5,2 milhões de pagantes.
Vem aí o 3? "Acho que sim, estamos começando a conversar. Já surgiram algumas ideias", esclarece o animador brasileiro que bombou em Hollywood. Mas ele não tem certeza de que dirigirá um provável Rio 3. Saldanha já trabalha em seu novo projeto. Ainda não é o casting - "A escolha do elenco vem numa etapa posterior", diz. Atualmente, ele e sua equipe trabalham nos movimentos de O Touro Ferdinando. A história é um clássico da literatura infantil nos EUA e já deu origem a um curta de Walt Disney, de 1938. Baseado na obra The Story of Ferdinand, de Wilnerd Monroe Leaf (Munro Leaf), conta a história de um filhote de touro diferente de todos os demais do rebanho.
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"Tem a ver com o direito à diferença, com aceitação. É uma história bonita, e superatual", define o diretor. Depois de dois filmes inspirados nas cores e na cultura do Brasil, Saldanha volta-se para a Espanha, cuja musicalidade e cor também lhe parecem bem estimulantes. Ele recém-começa a ensaiar os movimentos dos personagens e ainda trabalha na história, mas a produção terá de estar concluída no primeiro semestre de 2017. Três anos para fazer tudo. Parece muito, mas Saldanha esclarece. "Na verdade é apertado, mas trabalhamos com grandes profissionais, acostumados à pressão. O processo da animação é sempre demorado, além de caro." Por falar em números, quanto? Saldanha fecha-se em copas. Ele pode alardear os números da bilheteria, mas não o da produção. Será, de qualquer maneira, outra parceria da produtora Blue Sky com a Fox.
Saldanha contou tudo isso numa entrevista por telefone, do Rio, onde veio lançar o DVD e o Blu-Ray de Rio 2, já nas lojas. Embora baseado nos EUA, ele viaja com frequência ao Brasil, e não apenas a trabalho. Veio com os filhos para assistir a jogos da Copa no Maracanã. Adorou. Não a seleção, claro, mas a qualidade das partidas que viu também na TV. "Foi uma Copa muito bem organizada. Quem torcia pelo fracasso, quebrou a cara. De decepcionante, só o time do Brasil." Quem viu Rio 2, sabe que, a par da paisagem amazônica, o filme englobou elementos da cultura popular do País, isto é, carnaval e futebol. O DVD traz como extra uma cena deletada, com Blu e Jade. "Achei que seria uma pena o público não ter acesso a um trabalho tão caprichado da equipe. Coloquei como extra."
Ele também comenta sua experiência de live action, o episódio de 7 minutos para Rio, I Love You, Rio, Eu Te Amo, produzido pela Conspiração. "Queria muito trabalhar com live action e esse projeto surgiu na hora certa. Quer dizer, em termos de timing até foi complicado, porque estava em plena finalização de Rio 2, mas consegui tirar duas ou três semanas. Meu episódio foi o primeiro a ser filmado. Gostei de reencontrar Rodrigo Santoro, agora de corpo inteiro, e não apenas como voz. E também foi bacana filmar num cenário que sempre me atraiu, o Teatro Municipal do Rio. Foi corrido, mas deu certo."
Tendo tomado gosto pela live action, Saldanha tem planos para um longa, que terá de esperar, por conta de seu comprometimento com O Touro Ferdinando. "Um dos nossos temas, e é um assunto da maior importância, é o bullying e é o que Ferdinando sofre por ser diferente." O repórter aproveita para conversar sobre a nova safra de animações de Hollywood. Saldanha não viu Como Treinar Seu Dragão 2, mas lembra - "Gostei muito do primeiro." Aviões 2, como o 1 e Carros, não conseguiram motivá-lo. Sobre Frozen, diz - "Não consegui me conectar com a história, mas meus filhos, que eram o público-alvo, adoraram." Sobram elogios para O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que venceu o Cristal de melhor filme e também ganhou o prêmio do público no Festival de Annecy, na França. "Estava lá e fui testemunha da acolhida. No ano passado, o Brasil já havia ganho com Uma História de Amor e Fúria, de Luis Bolognesi. A animação brasileira está abrindo seu espaço no mundo."
Réveillon e a floresta no Brasil para exportação
Para ver a primeira live action de Carlos Saldanha, o espectador só precisa esperar até 11 de setembro, quando Rio, Eu Te Amo chega às telas de todo o Brasil. Para (re)ver Rio 2 basta comprar o DVD ou o Blu-Ray.
"Alô-alô, Rio! Vem brincar com nós!" É assim - com esse chamado que atropela o português - que se abre Rio 2, com direito à tradicional trilha da 20th Century Fox em ritmo de samba. É réveillon, e a animação de Saldanha começa nas areias de Copacabana, no Rio, de onde a ação se transfere para a floresta amazônica.
Réveillon tem de ter samba, e carnaval. A surpresa é que, na floresta amazônica, para onde terminam indo Blu, Jade e os três filhotes, a família descobre que não está sozinha. Existem outras araras azuis (e até de outras cores). E tudo, a disputa por espaço, se resolve numa partida de futebol - no ar.
Feito para ser lançado antes da Copa do Mundo, Rio 2 incorporou o futebol para pegar carona num evento que daria, e deu, superexposição ao Brasil.
Na entrevista acima, Saldanha fala dos números superlativos do filme que, no mundo todo, já bateu o 1. Bateu na bilheteria, mas não na qualidade. Nenhum problema com a parte técnica, realmente brilhante. A história, e os novos coadjuvantes, é que não são tão bons, ou divertidos.
No lançamento nos cinemas, Saldanha até explicou para o repórter que tentou colocar o buldogue - que rouba tantas cenas do primeiro filme - na trama, mas ficava muito complicado (e tomava tempo) explicar como ele, saindo do Rio, conseguia encontrar os amigos alados na Amazônia. O conflito entre vida selvagem e civilização e a presença de um sogro irritadiço com o Robert De Niro da série Entrando numa Fria não introduzem grandes novidades, mas o Brasil para exportação agradou mais lá fora do que aqui, onde houve uma ligeira queda do público.