Tópicos | Reggae pernambucano

Conhecida como um dos principais nomes da cena reggae de Pernambuco, a N’Zambi chega à maioridade ratificando seus discursos, porém, descortinando outros tons. Para comemorar os 18 anos de estrada, a banda criada no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, lança o álbum Palavras de Amor - o terceiro da carreira -, que traz tal sentimento universal como protagonista, mostrando-o como força motriz para as lutas pessoais e coletivas.  

Criada em meados de 2003, a N’Zambi consolidou-se no cenário musical pernambucano se valendo da mistura de ritmos de matriz africana como Ska, Dub, Rap, Ragga, Blues, Frevo, Cumbia e o Jazz. Cria de um bairro de alta efervescência cultural, a Várzea, o grupo rapidamente demarcou seu espaço na cena recifense com um trabalho autoral que se destacou entre os ‘covers’ que costumavam dominar o segmento regueiro local e, certamente, funcionou como ‘gatilho’ para seu crescimento. “Quando a gente aposta na música autoral, feita com o sotaque da gente, com a cara da gente e a gente vê o incentivo do público, a gente começa a ver que de fato tem o nosso espaço, espaço para o reggae pernambucano. Cada vez mais a gente consegue enxergar a diversidade de bandas de reggae aqui em Pernambuco, que têm buscado também esse caminho da música autoral de qualidade”, diz George de Souza, vocalista e guitarrista da N’Zambi, em entrevista exclusiva ao LeiaJá.

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Bancar o trabalho autoral, ainda por cima, de forma independente, não foi tarefa fácil. A banda recifense passou os últimos 18 anos em um verdadeiro ‘corre’ que acabou servindo como ‘escola’ para seus integrantes, sobretudo ao longo dos últimos 12 meses em que a pandemia do novo coronavírus acometeu o mundo, forçando a humanidade a se adaptar a desafios inéditos. “Não é tão simples hoje você manter um trabalho artístico-cultural dentro dessa realidade que a gente tem enfrentado. Não só pela própria dificuldade que já é trabalhar a arte quanto por esse contexto de pandemia e incerteza. Mas a gente resiste. Acho que, na verdade, quanto mais longa a estrada, maiores são as condições que você acaba se fortalecendo para poder seguir. Acho que tem muito a ver isso, quanto mais estrada, isso vai te encorajando pra poder caminhar. Isso também é um aprendizado”, diz George.

'Palavras de Amor' já está disponível nas principais plataformas digitais. Imagem: Reprodução

Sendo assim, a N’Zambi deu continuidade ao trabalho como pôde e desse movimento surgiu o terceiro disco de sua carreira, Palavras de Amor. O álbum, segundo o vocalista do grupo, é fruto de “uma fase de muitas composições”, assinadas por ele próprio e pelo baixista da banda, Diego ILarráz. As 10 faixas, produzidas por Buguinha Dub, trazem um elemento um tanto novo à obra da banda, transformando o resultado no que George classifica como: “disco amoroso”. “O amor é uma arma poderosíssima e cada vez mais se torna assim. É o que tem faltado na nossa sociedade, então a gente fala em amor entre pessoas, numa relação, mas também amor à ancestralidade, à sua história, à própria música, à vida; o amor nas várias dimensões”.

O tom amoroso, no entanto, não eliminou o caráter de resistência e reivindicação do reggae da N’Zambi. Aqui, o sentimento é usado como ferramenta de luta, tanto quanto a revolta, como bem ilustra a faixa ‘Derruba o Bozo’: “Quando a gente dá o grito, quando a gente fala que quer derrubar o presidente (isso) é o amor às pessoas do nosso país, ao nosso povo, à nossa sociedade. Muito mais do que o ódio que  a gente tem pelo cara, é o amor que  a gente tem pelo povo que faz a gente gritar e resistir”.

Do topo de seus 18 anos de história, a banda recifense se mostra confortável e encontrada com sua identidade. O reggae ‘de maior’ da N’Zambi consolidou seu tom de forma natural, e com a mesma gana do início, porém, com um pouco mais de doçura, quer continuar disseminando sua mensagem, hoje mais madura e consciente. “Palavras de Amor é um disco que reafirma o nosso compromisso com a luta por dias mais iguais, dias melhores, isso na verdade é o que tem movido a gente. Talvez se não fosse o amor a gente não teria 18 anos aqui hoje”, sintetiza George.  

A N'Zambi já tinha na praça outros dois discos, 'Mas Se Oriente' (2008) e 'Pra Verdade Estremecer' (2014). Foto: Divulgação/Sori Galtama

Live

O terceiro disco da N’Zambi, Palavras de Amor, já está disponível nas principais plataformas digitais. Em abril, a banda planeja apresentar o novo trabalho através de uma live, contemplada pelo edital de incentivo da Lei Aldir Blanc. A migração para o meio digital, aliás, é um dos principais projetos do grupo neste ano de 2021.

Motivados pela pandemia, eles querem desbravar o meio virtual para driblar o período difícil e, de quebra, levar sua música mais longe. “A gente acredita que entrou muito tarde nas plataformas digitais, então, a gente quer insistir nessas ferramentas, ainda mais agora que tá complicado. A gente acha que o desafio agora é adentrar mais nesse universo digital para chegar em outros locais a partir dessas plataformas”, explica George. A data da live do grupo será divulgada em breve. 

A N’zambi se prepara para lançar o clipe da música Pra Verdade Estremecer, faixa que leva o mesmo nome do segundo disco da banda de reggae, lançado no começo deste ano. Com direção de Gabriel Muniz, as imagens foram gravadas em diversas áreas do bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. 

O videoclipe retrata a banda e o protagonista Antônio ‘Rasta’ em vários momentos, seja em pleno Rio Capibaribe ou contrastando com o meio urbano e o trânsito da cidade. O trabalho encontra-se em fase de finalização. 

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A N'zambi é formada por George de Souza (voz e guitarra), Baba (bateria e voz), Diego Ilarrás (baixo e voz), Seu Bola (guitarra e teclados), Mauro Delê (percussão e voz), Deco (Trombone e voz), Marcinho Racional (Trompete) e Marquinhos Ralph (Sax e voz).  O novo cd, intitulado Pra Verdade Estremecer disponível para download, foi gravado no Fábrica Estúdios e masterizado e mixado no Stúdio Mundo Novo, com produção de Buguinha Dub.

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