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Começou com um projeto de conscientização ambiental. A partir dele, alunos da rede pública de Belém aprenderam sobre ciência e tecnologia, foram destaques em feiras científicas, além de promoverem a inclusão de jovens com necessidades especiais. Essa é a história do Projeto Reusetech, pelo qual alunos da Escola Estadual Tiradentes I, no bairro da Batista Campos, criaram robôs a partir de material reciclável.
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Segundo o professor Anselmo Fernandes, um dos coordenadores do projeto, o Reusetech surgiu de um projeto piloto chamado Recicla Tiradentes I. “A gente começou a levar para a sala de aula, algumas discussões sobre o problema do lixo despejado no meio ambiente. E a gente começou a observar que alguns objetos despejados no pátio da escola poderiam ser reutilizados, então surgiu a ideia de nós fazermos robôs não articulados e também brincos, cordões, pulseiras e puffs feitos com garrafas pets”, disse.
O professor Anselmo também relata que os trabalhos chamaram atenção do coordenador do NTE (Núcleo de Tecnologia Educacional), Rafael Herdy, que ofereceu a oportunidade de um curso de formação para os alunos com o intuito de automatizar os robôs. “Fizemos uma seleção de alunos das quatro turmas com que trabalhamos e selecionamos 14 alunos. Esses alunos tiveram aula de programação e neuróbica, que são estímulos para que eles tivessem vontade e motivação para aprender programação”, falou.
Após as aulas de programação, os alunos construíram quatro robôs automatizados com material reciclável, um dragão, um boneco de guerra, uma iguana e um camaleão, que renderam prêmios para os estudantes. “Nós nos inscrevemos na Mostra de Ciência e Tecnologia de Abaetetuba (MCTEA), em dezembro do ano passado, e conseguimos o primeiro lugar em engenharia no ensino fundamental. Concorrendo com diversos estados e países, a gente conseguiu esse primeiro lugar”, relatou o professor Anselmo.
Anselmo considera o projeto Reusetech como um “celeiro de ideias”, já que os alunos podem pensar em outros projetos a partir dos robôs automatizados e da consciência ambiental, e comemora os benefícios que o projeto traz para o aprendizado dos alunos. “No projeto nós temos sustentabilidade, matemática, ciência e engenharia. A gente oferece para os alunos e vê o potencial deles. Em termos práticos, eles têm melhorado as notas deles na escola, passado de ano, não tem evasão escolar. O próprio sonho de eles quererem ter uma profissão já começou a ser cogitado. Tem um que fala que pensa em ser astrônomo, por exemplo. Então o projeto dá essa possibilidade de sonhar”, concluiu.
Um dos aspectos mais importantes do projeto é a inclusão de alunos com necessidades especiais. “O projeto tem várias nuances e uma delas trata da inclusão de maneira bem delicada. Todos se ajudam, todos são importantes no projeto. Não existe um melhor ou pior. Todos entendem que um precisa do outro um”, explicou a professora Mariana Menezes, também coordenadora do projeto.
Dos 14 alunos do projeto, quatro possuem necessidades especiais: duas alunas são surdas, uma aluna é autista e um aluno possui paralisia cerebral. “As alunas surdas confeccionaram uma iguana com LED. A iguana é colorida, se mexe e tem sensor de luz. A aluna autista fez o banguela, o dragão. Ele mexe as asas, acende as luzes de LED. O de paralisia cerebral não fala, mas ele trazia o notebook, a gente colocava as figuras e ele com o dedinho colocava tudo que ele queria e aprendeu a linguagem de programação. A criatividade deles é ilimitada. Eles ajudam muito os outros, porque eles conseguem enxergar coisas que os outros não conseguiam”, disse a professora Mariana.
Além dos conhecimentos obtidos, o grande benefício para os alunos com necessidades especiais foi a valorização e o respeito, segundo a professora Mariana. “Eles não têm mais vergonha de se mostrar. Anteriormente eles tinham vergonha. Agora eles vão, mostram, falam e isso é um ganho muito grande: o respeito e a valorização das pessoas especiais”, concluiu.
“Eles me deram algumas peças de lixo e aí eu fiquei imaginando onde ia ficar cada peça”, disse a aluna do 6º ano Ana Clara Barroso, uma das crianças com necessidades especiais. Junto com outros colegas, ela construiu o dragão que recebeu o nome de Banguela e falou que gostou de tudo envolvendo o projeto. Ela também já pensa sobre o que vai fazer no futuro. “Eu quero ser designer de games e estou fazendo o próximo robô, que é a Filha da Luz”, comentou.
Quem também já sonha com uma profissão é a aluna Yasmim dos Santos, também do 6º ano, que construiu o robô robocop. “Meu sonho é ser cientista um dia”, falou. Yasmim também disse que aprendeu várias coisas com o Projeto Reusetech, entre elas como reutilizar os materiais descartados e a olhar o mundo como um lugar melhor.
Os alunos Marcos Pantoja e Lucas Paes, ambos do 8º ano, construíram juntos o robô Camaleão e ficaram muitos satisfeitos em participar do Reusetech. “Foi muito divertido. A gente não sabia de nada e os professores foram ensinando e a gente foi aprendendo. Aí quando a gente se deparou, já tinha montado um robô. Fiquei surpreso com o que eu era capaz”, disse Lucas. “A parte que eu mais gostei do projeto foi aprender programação. E a parte de montar o robô foi muito incentivadora para mim em proteger o meio ambiente, porque reciclando os materiais sólidos a gente ajuda muito o meio ambiente”, completou Marcos, que já pensou no seu próximo projeto: um dispositivo automático para alimentar peixes no aquário.
Através de um interprete de Libras, as alunas Jhullyene Taíssa, do 9º ano, e Maria Eduarda, do 8º ano, falaram como foi participar do projeto e construir um robô iguana. Jhullyene disse que o trabalho a ajudou nas outras disciplinas da escola. Maria Eduarda falou que também gostou do trabalho e que Jhullyene a ajudou muito durante a construção do robô. Ambas já pensam na profissão que querem seguir. Jhullyene pensa em trabalhar com tecnologia e engenharia, e Maria Eduarda quer ser professora e ensinar outras crianças surdas.
As conquistas dos alunos no projeto Reusetech são motivos de felicidade também para os pais e familiares. “Ela é muito inteligente. Tenho certeza que ela vai muito longe nesse projeto”, disse José Felix Solano, avô de Jhullyene. Ele também falou sobre o projeto Reusetech: “É muito bom, não só para nós que somos avós, mães e pais, como para os próprios alunos como ela. Bom para os professores, bom para a escola. É bom pra todo mundo”.
Por Felipe Pinheiro.