É cada vez mais comum conhecermos pessoas que consomem drogas lícitas ou ilícitas no meio em que vivemos. No entanto, o problema é que estas substâncias podem causar muitos danos à saúde do usuário como, principalmente, a dependência. Por isso, a intervenção de um profissional para ajudar a diminuir ou então parar de consumir os entorpecentes é extremamente importante. Neste caso, encontrar orientação e tratamento para deixar o vício das drogas na cidade recifense não é difícil. Isso porque atualmente para cada Região Político Administrativa (RPA) do município existe um Centro de Atenção Psicossocial para Atendimento aos Usuários de Álcool e Outras Drogas (CAPSad).
Um apoio importante para a reabilitação dos dependentes, já que os Caps mudaram a forma de oferecer tratamento para dependentes químicos, iniciado após a reforma psiquiátrica em 1990. De acordo com a Assistente Social, Doutora em Sociologia das Drogas, Roberta Uchôa, com a reformulação no modelo de atendimento aos usuários de drogas foi preciso uma descentralização de serviços. “Os CAPs por si só não responde pelas muitas necessidades de um usuário. Ele (CAPs) precisa de uma série de equipamentos de saúde que são importantes para poder prestar um serviço de qualidade, porque o fato de várias pessoas usarem drogas não quer dizer que todo mundo é igual. Por isso, precisamos ter opções de escolha de cuidados”, pontuou.
##RECOMENDA##Sendo assim, o CAPs é um instrumento central dentro de uma rede de atenção que precisa da atuação de vários profissionais para trazer uma maior eficácia na assistência aos dependentes. Entre eles estão os agentes redutores de danos que através dos Consultórios de Rua, indo aos territórios de consumo de drogas, já identificados em pesquisas, realizam abordagens aos usuários. Se houver acordo e se eles quiserem buscar tratamento, são encaminhados aos centros de atenção onde terão a disposição equipes multiprofissionais que irão propor um projeto terapêutico singular para cada um dos usuários.
Tendo em vista que R$ 8 milhões do montante destinado para a saúde do Estado, este ano, serão destinados para reestruturar os CAPs, segundo a especialista o valor ainda não é suficiente. “O Recife vem avançando muito no atendimento aos dependentes de drogas, mas o modelo econômico de distribuição de verba no país efetivamente não dá suporte para solucionar o problema. Esse dinheiro vai trazer boas melhorias para assistência prestada pelos centros como, por exemplo, o funcionamento das unidades por 24 horas. No entanto, para garantir uma melhor estrutura a essa pessoas seriam necessários três Caps para cada RPAs. Mesmo assim, o nosso modelo de assistência do Recife chega ser referência para outros estados do Brasil”, frisou Roberta Uchôa.
Segundo ela, um dos grandes problemas enfrentados no combate as drogas está no consumo de bebidas alcoólicas que, atualmente, ocupa o topo do ranking das drogas que mais matam no Brasil, principalmente por acidentes de trânsito causados depois do consumo. Cerca de 70% da população brasileira consome álcool, destes consumidores, 15% serão dependentes de bebida alcoólicas e terão algum problema grave de saúde decorrentes do vício.
Já para o crack, o número de consumidores em todo o país é de 1% e destes usuários, muito provavelmente, 90% são ou serão dependentes da droga. Fazendo um comparativo com estes dois exemplos, existem mais pessoas sendo prejudicadas com o álcool do que com o crack. “De acordo com literaturas internacionais, mesmo com o melhor tratamento oferecido ao percentual de pessoas dependentes de álcool, cerca de 50% terão recaídas. Ou seja, eles se tratam, passam um tempo sem beber, mas depois voltam a consumir”, revelou Roberta Uchôa.
Ainda segundo ela, para o crack não existe este balanço. Mas, um estudo esta sendo levantado no Recife para saber como o usuário da droga se comporta ao realizar o tratamento. A previsão é que no próximo mês esta análise estaja concluída. Existe outros comportamentos que não são muito falados, o da sociedade, que interfere nos resultados. “As pessoas estão sendo estimuladas ao consumo, a beberem, a terem prazeres imediatos. Você pode, você deve, você tem direito, escutamos isso a todo momento. Então não depende só da saúde para dar conta das drogas. Agora, lógico que é um pilar muito importante”, frisou a especialista.
Essa é uma problemática social que precisa da atenção das diversas áreas sociais e econômicas da sociedade brasileira. Já que independente da assistência prestada ao usuário, será sempre ineficiente se não acontecer uma mudança no comportamento das pessoas. Hoje considerada a sociedade do consumo e do prazer imediato, faz com que cada vez mais os jovens consumam drogas. Sejam elas lícitas ou ilícitas.
Uma equipe de pesquisadores foi nos seis distritos sanitários da Cidade do Recife para estudar todos os prontuários dos pacientes que procuraram tratamento nos Caps do município de 1° de julho de 2010 a 31 de junho de 2011. No protocolo, foram preenchidos dados dos usuários como nomes, idades, drogas que usaram, se também possuem problemas psiquiátricos associado, entre outras informações pessoais. Serão abordados aproximadamente 2 500 usuários de crack do Recife. “No primeiro momento de revisão dos prontuários, podemos observar que a grande maioria dos usuários de crack, que estão em tratamento, usam outras drogas como álcool, loló, cigarro, maconha e usam a mais tempo essas outras drogas”, enfatizou Roberta.
O uso do crack, em geral, é em menor tempo, mas faz com que os dependentes busquem tratamento mais rápido. Isso não quer dizer que usou a primeira vez se torna dependente. “A droga tem o que a gente chama, cientificamente, de virulência muito grande. Ou seja, o potencial de causar dependência muito grande e há uma tendência que o problema se instale mais rapidamente. Isso porque os usuários já são poli-usuários de drogas, na maioria das vezes", ressaltou a doutora.
De acordo com pesquisas publicadas pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), dos usuários que procuraram a unidade de tratamento na universidade, cerca de 30% morrem no período de até cinco anos. O principal motivo é a cultura violenta do tráfico, devidos os usuários ficarem com tamanha fissura para consumir o crack. Mas eles também são acometidos por outras causas como problemas pulmonares, cardíacos e hepáticos.
Mesmo assim, ela acredita que o modelo de assistência prestada ao dependente químico através dos centros de atenção do Recife é adequado e que o apoio da família é fundamental para a reabilitação dos usuários.
Assista ao vídeo da especialista sobre a abordagem dos CAPs: