Carioca, Nena Queiroga chegou ainda criança ao Recife. Em Pernambuco, transformou-se em artista, sendo hoje uma das mais representativas cantoras do Estado. Em 12 de abril de 2012, Nena ganhou o título de cidadã pernambucana, em reconhecimento a sua obra e contribuição para a cultura de Pernambuco. Com uma extensa atuação no cenário musical local, canta diversos ritmos regionais, como o frevo e o forró.
Considerada a Rainha do Carnaval Pernambucano, Nena Queiroga completa, em 2014, 30 carnavais e 30 anos de carreira. Há mais de 10 anos, ela é a voz feminina do Galo. A cantora grava neste domingo (16) o seu primeiro DVD intitulado Nena Queiroga: Pernambuco para o Mundo. O álbum comemora as três décadas de sucesso que solidificam a carreira da artista até hoje. A celebração acontece no Cais da Alfândega, a partir das 18h, aberta ao público e conta com vários convidados especiais. Em conversa com o LeiaJá, Nena falou sobre sua trajetória e a sua relação com o frevo.
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Início da carreira
Na minha família, minha mãe, Mêves Gama, foi cantora famosa em Pernambuco e meu pai, Luiz Queiroga, radialista. Todo mundo começou na música muito cedo. Eu acompanhava muito minha mãe nos ensaios de orquestras, nos estúdios e comecei a participar das coisas cedo. Profissionalmente, comecei a cantar com 15 anos, mas com 11 já gravava em estúdio. Cresci, casei, tive filhos e continuei cantando. Primeiro como vocalista com outros artistas e depois segui a carreira solo.
Identificação com o frevo
Começou quando eu cantava na orquestra do maestro Guedes Peixoto e minha mãe era cantora de frevo, da orquestra de Nelson Ferreira. Eu vivia nesse meio. Claudionor Germano cantava com minha mãe na orquestra e produzia discos. A minha primeira gravação foi ainda na Rozenblit, no disco de Expedito Baracho. Claudionor foi que me colocou pra cantar no coral, ainda pequena, dizendo: "Essa menina decora tudo, coloca ela ali no meio". A música foi Touradas em Madrid. Minha mãe não queria que eu fosse cantora por causa dos preconceitos da época.
Outras gerações
Meus filhos começaram mais cedo que eu. Ylana e Yuri gravaram com 4 anos de idade. Yuri é produtor de bandas e discos; e Ylana acabou de lançar o disco dela. Todo mundo no mesmo trilho. Assim como eu, Ylana e Yuri não escolheram a música, foi uma coisa natural por causa do convívio. Às vezes eu não tinha com quem deixar eles, a babá ia embora e eu trabalhava em estúdio e levava eles. A gente agora está sem se ver por conta dos projetos de cada um, mas eu sou muito feliz porque a gente fala a mesma língua, sou fã deles, trocamos muitas experiências relacionadas ao trabalho. Meus netos já se relacionam com a música. Já cantam, Vão pra estúdio, já gravam...Foi assim como minha mãe.
Paixão pelo frevo
Não tem nenhum dia em que eu não me emociono quando canto frevo. Quando eu esperava minha mãe ensaiar, ficava apaixonada pelo barulho de quando a orquestra começava a tocar, todo mundo junto, aqueles sons dos metais. Muita gente lembra da infância, dos pés de manga, das brincadeiras. Eu não tive isso, minha saudade é de quando eu brincava no Teatro do Parque, nas coxias do Teatro de Santa Isabel, enquanto minha mãe ensaiava. Na escola pública em que eu estudava, tinha aulas de frevo com Nascimento do Passo, aprendi a dançar também. A convivência com o meio fez com que eu me apaixonasse pelo frevo. Toda minha memória afetiva está ligada ao frevo. Conheci todo mundo ainda pequena. Convivi com o lado mais contemporâneo do frevo, com meu irmão já compondo.
O DVD
Eu tive a ideia de gravar o DVD em novembro de 2013. É uma festa afetiva minha, de celebração de toda maturidade dos meus 30 anos de carreira. Essa gravação vai ser linda. Eu quero um registro do que eu sou. Fiz todo o roteiro e direção do show. Quanto à escolha dos convidados, Ivete foi quem me deu o título de Rainha do Frevo, do Carnaval. Elba é minha rainha da música. Quando eu começei a cantar, Elba já cantava e eu já era fã dela como cantora e como artista. A garra dela sempre me impressionou. Luiza e Gadu são minhas amigas mais novas e já cantaram comigo frevo e se apaixonaram pelo ritmo e pela música pernambucana. Lenine é irmão, é de casa.
Projeto de Lei Momento do Frevo
Participei incentivando o projeto, mas não gosto muito da coisa obrigatória, não precisava disso. Mas já que se precisou fazer essa pressão, já que ninguém naturalmente tocava frevo, a gente tem que valorizar o ritmo. Antes do projeto, a rádio Folha e a rádio universitária já tocavam frevo. Na rádio Folha tem o 'Momento do Frevo', que toca frevos lindos fora do carnaval. Tem muito frevo com letras maravilhosas, com melodias maravilhosas, tem o frevo instrumental também. Por que não escutar um frevo, como se escuta um jazz, uma bossa nova. Essa luta foi travada e meio que silenciada pela concessão e não concessão. Antes o preconceito era com o forró.
Frevo: valorização e renovação
O Paço do Frevo é maravilhoso, motivo de muito orgulho. O frevo é o nosso cartão postal, tanto que recebeu o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade, então a gente tem que dar essa evidência ao frevo, sem esquecer de todos os outros ritmos. Achei feliz a iniciativa e agora o frevo não tem uma casinha simplezinha, ele tem um palácio, as pessoas vão ter orgulho de levar outras pessoas para conhecer. É a devolução da autoestima. Nós estamos voltando a ter autoestima. O Paço do Frevo é um grande passo para isso. Estou com muita esperança nessa nova gestão, dos cuidados que eles estão tendo com a nossa cultura. Pdi ao prefeito mais espaço para nós, artistas da terra. Nunca fui contra à vinda de artistas nacionais, é maravilhoso eles beberem na fonte e gerarem mídia nacional pra gente. Só não se pode conceder a parte maior.
30 anos de carreira
A primeira coisa que vem à minha cabeça é minha mãe, porque tudo começou através dela, na admiração que eu tinha por ela cantando frevo. Depois vem Capiba, as orquestras, os maestros, o ambiente que cresci. Outra coisa muito forte que me marca são os meus filhos acompanhando os meus ensaios, meu crescimento, meu amadurecimento. Foram muitas conquistas, muitas tristezas, muitas alegrias, muitas histórias e muito frevo. A fase com André Rio, quando eu comecei a trabalhar com essa coisa mais popular, me descobri ali. Gosto de cantar para o povo, para multidão de gente na rua, e foi André que me impulsionou na carreira solo e de compositora. Gustavo Travassos, com o Galo, me fez crescer muito dentro do frevo, e muitas outras pessoas importantes. Sou do grupo das pessoas que não quer sair de Pernambuco. Eu quero trabalhar aqui, trabalhar pela qualidade cultural, para ajudar as novas gerações.