Alvo de polêmicas e chamado até de caça-níqueis em campanhas eleitorais, as lombadas eletrônicas, radares e os populares "pardais" são importantes ferramentas para disciplinar o trânsito. No Recife, há alguns anos, vários equipamentos foram instalados com o objetivo de reduzir a velocidade dos veículos nas vias, mas o dinheiro vai para melhorias na sinalização? vai para ações educativas de trânsito? Questionada pelo LeiaJá desde a última quinta-feira (8) a PCR não responde, mas a código brasileiro é bem claro.
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O Artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que "a receita arrecadada com a cobrança de multas de trânsito será aplicada exclusivamente, em sinalização, educação de trânsito, policiamento e engenharia de tráfego, de campo e fiscalização", mas não define de que forma o poder público deve prestar contas de onde foi aplicado o dinheiro. No Recife, apenas em 2013, foram aplicadas mais de 65 mil multas por excesso de velocidade, nas três variações da infração - média, grave e gravíssima. Os condutores que cometeram a irregularidade pagaram aos cofres públicos cerca de R$ 6,3 milhões de reais.
Especialista em engenharia de tráfego, o professor aposentado César Cavalcanti defende a existência das lombadas. "Não há como dizem uma indústria de multas, mas uma indústria de infrações. É eficiente o metódo de educação. O adulto não pode ser educado como uma criança, mas o sentido é o mesmo. Ele tem sentir o local do corpo onde mais incomoda: o bolso", afirma ele, que atualmente ocupa o posto de coordenador regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).
A gestão atual da Prefeitura do Recife já instalou novos equipamentos de fiscalização nas avenidas Sul, Engenheiro Antônio de Góes, Cais José Estelita e Rui Barbosa, justamente as que recebem a ciclofaixa móvel aos domingos. Nestas vias, a tolerãncia de velocidade passa de 60km/h para 40km/h nos dias em que o projeto de lazer está funcionando.
A mudança de limites de velocidade confunde os motoristas, segundo Cavalcanti. "É preciso uma padronização. O sujeito passa por uma lombada que exige que ele transite em 60km/h e depois pega uma outra na rodovia que exige 50km/h. Isso cria uma dificuldade das pessoas saberem a que velocidade podem dirigir", diz.
Ao contrário do que muitos pensam, não existe uma tolerância para o infrator que transite acima da velocidade permitida, mas uma margem de erro do equipamento, conforme regulamentação do INMETRO. Esta margem, segundo a COmpanhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP) é de 7km/h para velocidades até 100km/h e de 7% da velocidade medida para as acima dos 100km/h. "Eu acho é um roubo e não acho que reduza os acidentes. Moro na BR (rodovia) e toda hora vejo acidentes", afirma Fábio Melo, 39 anos, supervisor de TI.
Já o taxista Evandro Vicente da Silva, 44, considera válida a existência da fiscalização eletrônica. "É positivo para alertar os motoristas por causa da imprudência. Ajuda a conscientizar", diz ele.
No Recife, há diversos tipos de fiscalização eletrônica. Lombadas, "bandeiras" (como a instalada na ponte Agamenon Magalhães, no Pina), os "pardais" e ainda um carro de fiscalização, implementado em 2012. Segundo a PCR, este carro circula todos os dias pelas ruas do Recife, inclusive nos fins de semana. Ele é equipado com um laser, que mede e registra a velocidade dos veículos que passam por ele, além de verificar se o veículo tem alguma irregularidade.
Talvez pela maior quantidade de equipamentos, o número de multas venha crescendo na capital pernambucana. Até agosto deste ano, o número de multas aplicadas por este motivo já ultrapassou o total do ano passado (59.491), que já havia sido maior do que em 2011 (52.289). Só em Igarassu, provavelmente devido ás rodovias que cortam o município, tem mais multas por excesso de velocidade do que o Recife. Foram mais de 70 mil só neste ano.
Na próxima segunda-feira (19), os "pardais" instalados pela gestão atual da PCR começam a multar, o que deve elevar o número de infrações registradas e também o valor arrecadado. "Não sei para onde vai esse dinheiro. O do IPVA não vai para onde deveria ir", diz Fábio Melo. Neste ponto, o taxista Evandro Vicente concorda. "Vai para o governo, para as ruas e estradas, mas pelo jeito nunca chega", critica.
Tire algumas dúvidas
A máquina pode multar meu carro se outro passar do lado em alta velocidade?
Isto é impossível de ocorrer, uma vez que os radares fotográficos estão posicionados para controlar os veículos de cada uma das faixas de rolamento. Cada registro é analisado individualmente para aproveitamento ou não da imagem. Havendo dúvida sobre qual veículo acionou os sensores, mesmo que tal possibilidade seja remota, a imagem é descartada.
Qual a velocidade máxima permitida nas vias urbanas?
80km/h - Vias de trânsito rápido - Caracterizada por acessos especiais com trânsito livre, sem cruzamentos, sem acessibilidade direta às outras direções e sem travessia de pedestres
60km/h - Vias arteriais - Caracterizada por cruzamentos, geralmente controlada por semáforo
40km/h - Vias coletoras - Destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da cidade
30km/h - Vias Locais - Caracterizada por ter muitos cruzamentos não semaforizados. Destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas
Valor das multas
Art 7455-0 - Transitar em Velocidade Superior à Máxima Permitida em até 20% - Infração Média - R$ 83,13
Art 7463-0 - Transitar em Velocidade Superior à Máxima Permitida de 20% a 50% - Infração Grave - R$ 127,69
Art 7455-0 - Transitar em Velocidade Superior à Máxima Permitida em mais de 50% - Infração Gravíssima - R$ 574,63*
*A infração pode ser aumentada de 2 a 5 vezes, dependendo da velocidade resgistrada
Com colaboração de Débora Mírian
Dados: Detran-PE e CET-SP
Fotos: Pedro Oliveira/LeiaJáImagens