O rombo causado pelo banco BVA no sistema financeiro chegou a cerca de R$ 8 bilhões, um dos maiores da história do mercado bancário brasileiro. O que aconteceu na instituição, em liquidação desde junho do ano passado, terminou de ser apurado neste mês pelo Banco Central. E as conclusões do inquérito já foram enviadas à Justiça de São Paulo, que deve decidir se decreta ou não falência da instituição.
O documento produzido pelo BC é sigiloso e deverá ser encaminhado ao Ministério Público estadual, que vai apurar responsabilidades pela quebra da instituição. Caberá ao Ministério Público Federal apurar fraudes ou crimes contra o sistema financeiro.
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Com base no relato de diversas pessoas que de alguma forma estiveram ligadas ao processo de liquidação e ao relatório do liquidante, o Estado reconstruiu o modus operandi do banco e como chegou à bancarrota. Além do número do rombo, que originalmente se imaginava ser de apenas R$ 500 milhões, surpreende a rapidez com que tudo aconteceu.
Em apenas cinco anos, a instituição teve uma forte ascensão e uma queda brusca, deixando um rastro de prejuízos a milhares de investidores, fundos de investimentos, fundos de pensão e até mesmo a empresas que tomaram empréstimos no banco. Entre 2009 e 2012, o banco cresceu 500% atingindo um ativo próximo a R$ 5 bilhões. Logo depois do auge sofreu intervenção e em junho de 2013 teve sua liquidação decretada porque seu patrimônio não suportava suas operações.
Para um banco conceder crédito, precisa de capital e começa com o dinheiro dos acionistas. Depois vai buscar recursos com clientes, que investem em Certificados de Depósitos Bancários, Letras Financeiras, Letras de Crédito Imobiliário, etc.
Para crescer tão rapidamente, o banco foi agressivo. De um lado oferecia CDBs para alguns clientes com retornos de 36% ao ano, quase cinco vezes o que rende a caderneta de poupança. Atraiu grandes investidores. Na outra ponta, emprestava para empresas pequenas e médias, focando principalmente em construtoras. As garantias muitas vezes não eram em valor suficiente para cobrir o empréstimo, em caso de calote. O prazo para pagamento era longo e o desembolso dos recursos era feito com base no cronograma da obra. O que ficava retido, era aplicado no próprio banco.
Para poder girar o dinheiro mais, o BVA cedia parte da sua carteira de crédito para fundos de investimentos de sua gestora de recursos, a Vitoria Asset Management - que tinha como principais cotistas fundos de pensão -, e também com venda direta às fundações. Essa cessão de crédito é que ajudou a inflar o rombo no sistema para além do próprio banco BVA e, por isso, o valor de R$ 8 bilhões.
Círculo vicioso
A bicicleta girava bem até que os primeiros empréstimos começaram a vencer e muitas empresas ficaram inadimplentes, exigindo provisionamentos expressivos para perdas, de acordo com regras do BC, que foram minando a capacidade do banco em suportá-las. Precisava de mais capital, mas a fonte começou se esgotar. Os grandes investidores como o grupo Caoa, que fabrica carros da Hyundai, começaram a tirar recursos da instituição, piorando a situação do banco, segundo relata o liquidante em processo judicial movido contra o grupo. Nesse processo acusa o grupo de ter informação privilegiada por ser acionista da instituição e ter se apropriado indevidamente de garantias do banco. O Caoa é o maior credor, fora o
Fundo Garantidor de Crédito, na lista que deverá ser divulgada nesta semana pelo liquidante do BVA.
Outro grande credor é Cleber Faria, empresário que foi dono da Cervejaria Petrópolis e que também foi sócio do BVA. Mesmo sendo grandes credores, não necessariamente terão grandes prejuízos, segundo dizem algumas fontes, já que quando aplicaram o dinheiro no banco recebiam rentabilidades bem acima das oferecidas no mercado.
Caoa e Faria chegaram ao BVA por meio do então presidente do banco Ivo Lodo. O executivo por sua vez foi levado pelo dono, José Augusto Ferreira dos Santos, e que tinha por intenção transferir aos poucos a instituição para Lodo.
Foi na sua gestão que o banco deixou de ser um banco pequeno para figurar entre os médios e com foco nas construtoras. Muitas dessas empresas, entretanto, quebraram com o banco. Como parte do dinheiro ficava retido em CDBs e era liberado de acordo com o cronograma da obra, quando o banco quebrou esses recursos pararam de chegar às empresas.
Voltar a financiar essas construtoras é uma das propostas que será apresentada pelo BTG Pactual aos credores. O banco quer comprar a parte podre do BVA e por meio de uma taxa tentar recuperar os créditos de forma mais rápida do que aconteceria em um processo de falência. Mas para isso precisa da aceitação dos credores.
O liquidante já ingressou com execuções na Justiça que cobram R$ 2 bilhões em dívidas. O rombo no banco, ou seja, o passivo que não é coberto pelos ativos é de R$ 5 bilhões. Os fundos de investimentos também já estão recuperando créditos. Os três administrados pela gestora Vila Rica, por exemplo, que têm R$ 693 milhões em patrimônio já renegociaram R$ 200 milhões em dívidas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.