Para muitas pessoas, fazer uma viagem ao exterior é uma meta de vida. No entanto, apesar das dificuldades econômicas, estudantes da rede pública de ensino de Pernambuco, através do Programa Ganhe o Mundo (PGM), têm realizado o sonho de estudar fora do país. Agora, devido à pandemia do novo coronavírus, ocasionando a Covid-19, o sonho foi interrompido.
De Pernambuco para terras estrangeiras
##RECOMENDA##Aprender línguas estrangeiras agrega valor ao repertório de qualquer estudante, ainda mais se esse exercício for praticado nos países de origem dos idiomas. O sonho de aprender inglês tornou-se realidade para a estudante Thaís de Souza Alves Barbosa, 17 anos, aluna da Escola Técnica Alcides do Nascimento Lins, localizada em Camaragibe, na Região Metropolitana de Recife. Em entrevista ao LeiaJá, a jovem do ensino médio nos conta que “nenhum dinheiro pagaria a experiência” que teve nos Estados Unidos.
Thaís vivenciou os momentos de aprendizagem e interação em solo norte-americano na cidade de Turner, localizada no estado de Maine, região Nordeste dos EUA. No ano passado, estudantes da rede pública de ensino de Pernambuco tiveram a oportunidade de participar do Programa Ganhe o Mundo, ligado à Secretaria de Educação e Esportes do Estado (SEE). No programa, os alunos teriam aulas de línguas estrangeiras, como inglês, espanhol e alemão.
Após o período de aprendizado teórico no país de origem, o estudante passa por prova de nivelamento para verificar se está apto para prosseguir na próxima etapa, praticando a língua no tão sonhado intercâmbio. Durante dois meses de viagem, Thaís diz que conquistou uma oportunidade de ‘ouro’ que proporcionou experiências que a tornou madura. “Todos os momentos que eu vivenciei lá [nos EUA], me fizeram mudar, me fizeram crescer, amadurecer, me fizeram olhar para o mundo de uma forma mais crítica”, afirma a intercambista.
A chegada da pandemia
Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, República Popular da China, a epidemia do novo coronavírus já davam sinais da alta virulência para o restante do mundo. Em março deste ano, Organização Mundial da Saúde (OMS) passa a considerar a Covid-19 como pandemia. Neste período, intercambistas brasileiros já estavam em terras estrangeiras.
A intercambista pernambucana conta que o coronavírus ainda não era pautado no estado de Maine (EUA), até o primeiro caso ser confirmado na região. Um das medidas adotadas pela cidade foi o fechamento de todas as escolas e faculdades. Em seguida, outras medidas foram aplicadas, como aulas online, isolamento social e higienização das mãos e locais, conforme recomendação emitida pela OMS.
Cuidados e decisões preventivas
De acordo com cronograma do PGM, os estudantes deveriam passar quatro meses em intercâmbio, mas devido à pandemia, a dinâmica do programa mudou. Como forma de proteger os estudantes, a SEE esclareceu que, devido à redução de voos internacionais e nacionais, o retorno ao Brasil de 157 estudantes exigiu uma logística diferenciada, que representou um grande desafio dada as limitações.
A Secretaria ainda informa que durante toda a viagem, “todos os estudantes que retornaram, receberam materiais específicos com orientações sobre o isolamento que devem ter neste retorno ao Brasil, no período de sete dias, e também dicas de prevenção e cuidados de higiene de acordo com as recomendações da Secretaria Estadual de Saúde”.
A intercambista diz ter realizado todos os procedimentos, que iniciou nos EUA até chegar em Pernambuco. Ao chegar no Brasil, sua temperatura foi aferida e, mesmo não apresentando alterações, a jovem foi encaminhada para isolamento social, em sua residência em Pernambuco, conforme recomendação da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Relação com a familia
Agora em casa, cumprindo o isolamento recomendado, a estudante segue com aulas online e com os estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Thaís pretende tentar uma vaga para medicina, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Em casa, a família é o ponto essencial para manter uma rotina que contribui neste processo de isolamento social necessário. Para a família de Thaís, a “ficha só caiu” quando o vírus chegou aos EUA. Através de aplicativo de mensagens, a estudante pôde tranquilizar a família, sempre mantendo contato durante todo período que esteve em quarentena em terras norte-americanas.
O irmão de estudante, Thiago Souza, 25, destaca que a preocupação maior era “saber como ela estava com relação à pandemia". "Porque como ela estava em outro país, querendo ou não, o sistema de saúde é totalmente diferente do Brasil”, desabafou Thiago em entrevista ao LeiaJá.
Agora, a mãe da pernambucana, Lucia Maria de Souza, 47, e o pai, Orlando Alves Barbosa, 47, e o irmão respiram aliviados com retorno da estudante e expressão gratidão por ter ela em casa. Para a família norte-americana, que inicialmente recebeu a intercambista, também ocorreram mudanças.
A estudante recebeu a comunicação de que teria que mudar para outra casa. A medida previa isolamento antes do retorno ao Brasil. Após o período de isolamento que durou sete dias, a estudantes trilhou o caminho de volta para casa.
O sonho interrompido
Ao saber do retorno, a estudante conta que a decepção acaba sendo inevitável. Mas, analisando a situação de forma crítica, a pernambucana entende que foi necessário retornar ao Brasil.
“Eu sempre procurei me precaver dessa situação de uma forma tranquila, de uma forma calma, sem ficar frustrada, porque é assim quando você amadurece”, desabafou a intercambista.
Ao todo, são 591 intercambistas da rede estadual de ensino público distribuídos nos países: EUA (236), Canadá (161), Austrália (84), Nova Zelândia (48), Argentina (27), Colômbia (20) e Inglaterra (15). Do total informado, retornaram 157 intercambista do Canadá (12), EUA (6), Espanha (23) e Chile (116).
A Secretaria de Educação esclarece que todos os pais foram devidamente informados sobre a decisão de trazer os estudantes para o país de origem, mas informa que o retorno dos grupos restantes está a critério da avaliação de acordo com situação de cada país.
Desfecho
Em nota, a SEE reforça que “neste momento, a decisão é de manter no intercâmbio os estudantes que ainda estão no exterior”, devido às complicações em conseguir voos nacionais ou internacionais, reduzidos em prevenção a propagação do coronavírus.
A Secretaria afirma que todos os estudantes passam bem e são monitorados diariamente pela equipe do Programa Ganhe o Mundo e pelas instituições internacionais parceiras do programa. A nota ainda explica que está em licitação para a seletiva do PGM 2020 e que qualquer definição sobre o PGM 2019.2 serão tomadas após o período da pandemia do coronavírus.
Enquanto isso, Thaís e outros 156 intercambista pernambucanos aguardam com esperança um retorno positivo do programa que proporcionou tantas “experiências inexplicáveis”.