Brasília - Tensão e trocas de acusações marcaram a reunião desta terça-feira (26) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga o envolvimento de agentes públicos com Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela Polícia Federal, acusado de comandar esquema de jogo ilegal em Goiás, dentre outros crimes. Enquanto o relator da comissão, Odair Cunha (PT), fez questão de afirmar que a convocação de pessoas ligadas ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), era fundamental para as investigações, parlamentares da oposição o acusavam de direcionar os trabalhos por critérios partidários.
A reclamação veio depois do início do depoimento do arquiteto Alexandre Milhomen, que trabalhou na reforma da casa onde o bicheiro foi preso. O imóvel, localizado em um condomínio de luxo em Goiás, pertenceu a Perillo. “A postura do relator, não sei se cumprindo missão partidária, é muito ruim para a CPI. Diz ao Brasil que podemos postergar a oitiva de Fernando Cavendish, mas precisamos ouvir o arquiteto”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), ao reclamar que a CPI não precisaria ouvir o arquiteto que não teria ligação com o grupo de Cachoeira, mas deveria convocar Fernando Cavendish, ex-presidente da empreiteira Delta, ligada ao contraventor e que já financiou campanhas do PT.
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“Cada coisa no seu tempo e no seu momento”, respondeu o relator, abrindo a possibilidade de a CPI investigar posteriormente o envolvimento de outros governos com Carlinhos Cachoeira e ressaltando que a convocação do arquiteto foi tomada em decisão colegiada. Cunha afirmou, também, que não iria bater boca com Sampaio, que estaria “fazendo o seu papel” como aliado de Perillo. Ainda segundo ele, a importância do depoimento do arquiteto seria para comprovar que a decoração foi feita antes da venda pelo governador, confirmando assim a relação com Cachoeira.
Depoimento
O arquiteto Alexandre Milhomen disse que foi contratado pela mulher de Carlos Cachoeira, Andressa Mendonça, que viu um trabalho dele no Google e resolveu contratá-lo. Segundo ele, primeiramente ele faria uma casa nova, mas depois Andressa pediu que ele reformasse a casa que foi de Perillo, onde ficaria provisoriamente até que a residência definitiva fosse feita. Na CPI, ele disse que a reforma custou cerca de R$ 500 mil. Milhomen afirmou ainda que não conhece o governador de Goiás e que não sabia quem era Carlos Cachoeira, apenas que era um empresário.
Silêncio
A CPI também convocou o ex-assessor de Perillo, Lúcio Fiúza, e um dos sócios da empresa Mestra Administração e Participações, Écio Antônio Ribeiro, que apresentaram um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), assegurando o direito de ficarem em silêncio em risco de autoincriminação. Acompanhados de advogados, os dois foram dispensados da reunião.
CPI
Nesta quarta (27), está previsto o depoimento do ex-tesoureiro da campanha do governador de Goiás em 2010, Jayme Eduardo Rincón, citado em ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal. Ele já havia sido convocado pela CPMI, mas alegou problemas de saúde. Outra que não compareceu na primeira vez em que foi convocada foi a ex-chefe de gabinete de Marconi Perillo, Eliane Gonçalves Pinheiro, acusada de repassar informações sobre operações policiais. O último depoimento do dia será do radialista Luiz Carlos Bordoni, que prestou serviço na campanha de Perillo em 2010, através da empresa Alberto & Pantoja Construções, apontada pela PF como uma empresa de fachada de Cachoeira para um esquema de lavagem de dinheiro da empreiteira Delta Construções S.A.
Na quinta (28), a programação da CPMI prevê os depoimentos de pessoas ligadas ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que teriam envolvimento com o grupo de Cachoeira. Serão ouvidos o ex-chefe de gabinete do governador, Cláudio Monteiro; o ex-assessor da Casa Militar do DF, Marcello de Oliveira Lopes; e o ex-subsecretário de Esportes do DF, João Carlos Feitoza.