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Troças, clubes de frevo, clubes de bonecos, blocos de pau e corda, maracatus de baque solto e de baque virado, caboclinhos, tribos de índios, ursos, bois de Carnaval e Escolas de Samba. Essas 11 modalidades de agremiações desfilam no Carnaval do Recife levando aos foliões muito colorido, alegria e diversão. A cultura popular é o grande diferencial da folia recifense e atrai um grande número de turistas à cidade nos dias da festa momesca. O que muitos não sabem é como estes grupos fazem para colocar suas brincadeiras na rua. Do apoio financeiro vindo do poder público à venda de produtos e até ajuda dos próprios brincantes, as agremiações se viram como podem para garantir um carnaval de beleza e emoção.
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Na Escola Gigante do Samba, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, o trabalho para o Carnaval 2016 começou desde agosto de 2015. Um grupo com mais de 100 pessoas, entre carnavalescos, aderecistas, costureiras, serralheiros e marceneiros, entre outros, botam a 'mão na massa' logo cedo para garantir o desfile da escola. A diretora da Gigante, Marize Félix, garante que não é barato fazer um carnaval: "É caro porque não tem um planejamento como tem que ser. Se os empresários e o poder público tivessem um olhar voltado para a cultura popular, talvez fosse mais fácil", diz a ex-rainha de bateria, pedagoga de formação que, há 9 anos, assumiu a direção da agremiação.
Ao longo do ano, a escola arrecada dinheiro alugando sua sede para festas, se apresentando em eventos privados e também promovendo festas próprias nas quais há uma renda de venda de bebidas. Outra fonte financeira é a subvenção paga pelo governo municipal, que ajuda a custear o desfile no Carnaval, e o valor da premiação do concurso de agremiações (cerca de R$ 20 mil): "Essa verba tem que ser bem dividida", explica Marize, que lamenta pelos valores serem pagos muito em cima do período carnavalesco, o que dificulta na organização dos preparativos.
Além disso, a Gigante conta com o apoio da comunidade. Pequenos comerciantes da área fornecem alguns produtos, quando necessário, formando uma parceria entre a escola e o comércio local. Para brincar, não são vendidas fantasias ou postos: "A Gigante é uma escola em que a maioria dos desfilantes são de classe C e D, eles não podem nos ajudar nem nos bancar", diz a diretora. Para algumas fantasias mais caras, os brincantes chegam a pagar um valor simbólico em torno de R$ 20: "A escola banca bateria, baianas, e as alas de destaque de carro são responsabilidade dos próprios destaques." Para fantasias de madrinha, princesa e rainha, são promovidas festas que ajudam no custeio dos figurinos.
Marize conta que a luta para pôr o carnaval na rua é grande, mas garante que o esforço vale a pena: "É desgastante porque não temos recurso, mas nunca saímos um carnaval devendo". Ela lamenta por algumas escolas não desfilarem mais por conta da dificuldade financeira e fala que o carinho dos desfilantes e da comunidade pela agremiação, da qual faz parte desde os sete anos de idade, são os impulsos para seguir adiante a cada carnaval: "O que mantém a Gigante em pé é o amor".
Na Nação de Maracatu de Baque Virado Almirante do Forte, do bairro do Bongi, Zona Oeste do Recife, a realidade não é diferente. A nação depende, basicamente, da subvenção (cerca de R$ 10 mil no total, este ano), e da própria renda de seu líder, o presidente e mestre Antônio José da Silva Neto, mais conhecido como Mestre Teté: "Aqui é só o dinheiro do meu suor e o da Prefeitura", conta. No desfile de 2015, a nação gastou por volta de R$ 40 mil para sair na passarela. Muitas vezes, a diretoria chega a pedir dinheiro emprestado para viabilizar a saída da agremiação.
O Almirante, uma das nações mais tradicionais do Recife com 84 anos de história, também é Ponto de Cultura, certificado pelo Ministério da Cultura. A participação neste e em outros editais, quando ganhos, garantem alguma renda para a agremiação. Ademais, o Mestre Teté conta com a ajuda do seu filho, Antônio José da Silva, o Toinho, que é vice-presidente da agremiação, montador de profissão, e de alguns brincantes que, em algumas ocasiões, colaboram com pequenos materias e necessidades para que o desfile aconteça. O carinho pela tradição também fala mais alto na hora de preparar o carnaval: "A gente bota na rua porque gosta mesmo", diz Toinho.
Na área central da capital pernambucana, no bairro dos Coelhos, o Boi Faceiro também 'sua' durante todo o ano na preparação do seu carnaval. Os boizinhos, como são chamados os grupos desta manifestação cultural, são os que recebem o menor valor, tanto de subvenção (cerca de R$ 8 mil) quanto de premiação do concurso: "Se formos contar só com isso não tem como", diz o presidente do Faceiro, e da Federação dos Bois e Similares de Pernambuco (Fecbois), Aelson da Hora. As apresentações que o Faceiro realiza ao longo do ano (o boi está presente praticamente em todos os períodos festivos do calendário) é o que ajuda a manter o grupo, que no último mês de dezembro completou 18 anos: "A gente precisa funcionar como uma empresa, temos um produto - que são as apresentações - e clientes - que são os contratantes. A gente consegue fazer acontecer por conta dessa rentabilidade", explica Aelson. Ele também fala sobre a demora do recebimento da verba que vem do Governo de Pernambuco: "Você tem que ter um caixa porque o governo só paga depois".
O Boi Faceiro vai pra rua com cerca de 200 componentes no Carnaval - este número chega a cair para 50 em espetáculos menores - e, assim como no Maracatu e na escola de samba, ninguém paga para brincar. Aqui também há a colaboração da comunidade que empresta sua mão de obra e muitas vezes equipamentos para que os desfiles aconteçam. Aelson conta que terminado o período carnavalesco, em menos de 20 dias, já se inicia a produção da festa do ano seguinte. Ele também garante que o coração fala mais alto na manutenção do brinquedo e da tradição: "É preciso ter muito amor porque financeiramente não compensa".
Solidariedade
Apesar de disputarem entre si na avenida, as agremiações costumam se ajudar no que for possível. É comum que alguns grupos façam doações de figurinos, materias e instrumentos para que outros possam estar presentes no Carnaval. O sentimento é o de preservação das tradições e agremiações existentes, como salientou a diretora da Escola Gigante do Samba, Marize: "A Gigante está ajudando outras escolas para que não se acabem". Além disso, também é comum a doação de mão de obra e de integrantes que desfilam em outros grupos no sentido de colaborar com o produto final.
Outra realidade
Em um outro carnaval tão famoso quanto o do Recife, a realidade das agremiações é bem diferente do que a vivida na capital pernambucana. No Rio de Janeiro, as escolas de samba promovem desfiles suntuosos e caríssimos, que, além de receberem financiamento e patrocínios bem aquém do que os praticados por aqui, também têm uma visibilidade bem maior. Segundo o jornal O Dia, só no ano de 2015, a Liga das Escolas de Samba (Liesa) recebeu do governo municipal o valor de R$ 2 milhões para cada agremiação do grupo especial (12 grupos, no total), o dobro do valor praticado em 2014.
Além disso, as escolas lucram com a venda de fantasias - que custam entre R$500 e R$1.700 - ingressos para os ensaios da bateria, venda de artigos promocionais - como bonés, camisetas e chaveiros, entre outros, ingressos para o sambódromo nos dias de Carnaval, além dos patrocínios privados e o direito de imagem cedido para as redes de televisão.
Repasse - A Prefeitura do Recife começou a repassar verba para agremiações que abrilhantarão o Carnaval 2016. O valor passa de R$ 1,4 milhão. Confira a reportagem.