Tópicos | Na quadrada das águas perdidas

"Na Quadrada das Águas Perdidas", de Wagner Miranda e Marcos Carvalho, poderia ser chamado de puro documentário etnográfico, não tivesse como único ator o formidável Matheus Nachtergaele. É ele quem carrega o filme nas costas - e não se veja aqui um comentário pejorativo. Tanto os diretores como o próprio ator tiveram a coragem de assumir a opção desse papel solo, como uma espécie de possibilidade de estudo do ser humano em contato com um ambiente tido como hostil.

Nachtergaele interpreta Olegário, o sertanejo que se situa, de modo exemplar, na chamada economia de subsistência. Vive do que produz. Mas num dado momento precisa ingressar na microeconomia da sua região. Ou seja, precisa comercializar algum bem para trocá-lo por dinheiro e, com este, comprar alguma coisa que ele mesmo não pode produzir e da qual tem necessidade.

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Assim, ele deixa sua casinha para vender um animal e, com o dinheiro que receber, comprar fumo de corda, feijão, pregos, essas coisas. A viagem é longa e revela-se (para o espectador) uma verdadeira iniciação na natureza da caatinga, da qual o sertanejo tira o essencial para sobreviver, nas mais áridas condições. Olegário ora entra em harmonia com a natureza, ora a contraria para tirar o seu precário sustento. É uma história feita de malícia, sabedoria, silêncio e ações.

O filme passou por alguns festivais, como os do Ceará e Recife, sem grande alarde, apesar da fama do seu protagonista. Esse tipo de projeto tem algo contra si o hábito do espectador por um cinema já formatado para o diálogo. Olegário está só, diante de um meio ambiente que parece caprichoso o suficiente para lhe merecer todas as atenções e cuidados. Não existe um antagonista, pelo menos não no sentido clássico do termo. O antagonista seria o sertão. Mas, para quem o conhece, ele pode ser um aliado.

É um documentário sobre a caatinga, que veste a roupa da ficção e conta com um ator que tudo diz sem pronunciar uma única palavra. Digamos que é um documentário ficcional de viés etnográfico.

O título é homônimo da música de Elomar Figueira Mello. A trilha é assinada por Elomar, Geraldo Azevedo e grupo Matingueiros. Em sua aparente modéstia, "Na Quadrada das Águas Perdidas" não é pouca coisa, não. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS

Direção: Wagner Miranda e Marcos Carvalho. Gênero: Drama (Brasil/2013, 75 min.). Classificação: Livre.

O longa Na Quadrada das Águas Perdidas, estrelado por Matheus Nachtergaele e dirigido pelos cineastas pernambucanos Wagner Miranda e Marcos Carvalho tem pré-lançamento marcado para o dia 26 de abril em Petrolina, Sertão de Pernambuco. O longa, que narra a saga de um catingueiro numa pitoresca odisseia pelo único bioma exclusivamente brasileiro, vai ser exiibdo no Dia Nacional da Caatinga.

Na sessão, estarão presentes o ator Matheus Nachtergaele e toda equipe técnica do filme, além de convidados especiais como o cineasta e professor da Universidade de Brasília (UNB) Vladimir Carvalho e o Presidente do Conselho Nacional de Educação, Prof. Dr. José Fernandes Lima, entre outros. O longa entra em cartaz no Brasil no segundo semestre de 2013.

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Serviço

Pré-lançamento Na Quadrada das Águas Perdidas

Dia 26, às 19h

River Shopping - Salas da Orient Filmes (Petrolina)

A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe e a Secretaria de Cultura estadual divulgaram, nesta quinta (31), os escolhidos pela comissão do Funcultura para receberem o incentivo do Edital Audiovisual. São, ao todo, R$ 11,5 milhões a serem distribuídos entre os 103 projetos aprovados, nas categorias longa-metragem, curta-metragem, produtos para TV, difusão, pesquisa e formação e desenvolvimento do cineclubismo.

O edital e a distribuição de valores foi definida em conjunto com o setor do audiovidual pernambucano, por meio da participação de entidades como a Associação Brasileira de Documentaristas, a Associação de Produtores e Cineastas de Pernambuco (ABD/APECI), a Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC) e a Associação das Produtoras Brasileiras de Audiovisual (APBA). Também participaram o Fórum do Audiovisual da RMR, a Comissão Setorial do Audiovisual e a Comissão Deliberativa do Funcultura. A comissão julgadora dos projetos foi composta por Comissões Técnicas e Temáticas divididas por categorias.

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O valor deste ano representa um acréscimo de R$ 3,5 milhões em relação ao último edital. Entre os contemplados encontram-se desde jovens realizadores até produtoras consagrados no cenário audiovisual. O incentivo do Funcultura prevê aporte de recurso para várias etapas da realização dos filmes e cineclubes, do desenvolvimento de projetos e criação, passando pela produção, até a distribuição.

O longa Na quadrada das águas perdidas, premiado no último Cine PE, foi contemplado com uma verba para distribuição; o programa Pé na Rua, exibido pela TVPE, garantiu a realização de mais uma temporada; os cineclubes Iapôi, Pajeú e Amoeda Digital recebem incentivo para sua manutenção; projetos de formação como o CinEscola e o MiraDocs -curso de documentários estão entre os contemplados; e na categoria Difusão, festivais como a Janela Internacional de Cinema, o ANIMAGE e a Mostra Play the Movie também figuram entre os projetos aprovados.

Quase R$ 5 milhões foram destinados aos longas-metragens. Os curtas receberam mais de R$ 2 milhões, assim como os programas para TV e ações de difusão, pesquisa e formação. Os cineclubes R$ 170 mil.

Confira a lista completa de contempladois do Funcultura Audiovisual 2012 no link abaixo:

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A noite desta terça (1º) marcou a exibição dos últimos filmes da mostra competitiva do Cine PE Festival do Audiovisual. Dois longas pernambucanos encerraram a programação do festival, que teve mais uma noite de problemas técnicos, desta vez durante a exibição dos curtas metragens.

Os portões foram abertos às 19h15, quando uma grande fila já estava formada no saguão do Centro de Convenções, que abriga o Teatro Guararapes, local de exibição dos filmes do festival. A programação da noite começou com a exibição do curta de animação pernambucano Dia Estrelado, feito com massa de modelar e utilizando a técnica de stop motion.

Apesar da técnica e do material usados, comumente associados a filmes infantis, Dia Estrelado tem uma temática séria. Sem diálogos, mostra uma situação de seca e penúria extremas, em que o sol castiga e o vento é marcante no cotidiano de seus personagens. Há alguns momentos engraçados e até tocantes, como a relação de um menino com uma flor em meio à falta d'água. Ele chega a regá-la com lágrimas, quando ela se abre em uma bonita cena.

O curta é muito bem acabado e foi resultado de um longo trabalho, como explicou a diretora Nara Normande: "Demoramos um bom tempo para fazer (o filme), foram quatro anos de trabalho", disse quando foi apresentar o filme.

Também com um tema pesado, A Fábrica conta a história de um preso que convence a mãe a levar um celular para ele no dia da visita. Um certo suspense se faz, dando a entender que o aparelho será usado para a prática de algum crime. De cenas fortes, o curta dirigido por Aly Muritiba termina com o preso falando com a filha pelo celular, o real motivo da arriscada empreitada: era aniversário dela, e ele não pode ir pois "estava trabalhando na fábrica".

O terceiro curta da noite e último da mostra competitiva do Cine PE 2012 foi Sonhando Passarinhos, do Distrito Federal. Dirigido por Bruna Carolli, o filme é um mergulho no universo infantil e se utiliza muito bem de recursos de animação para representar a imaginação da pequena personagem principal. Sonhando e Fábrica tiveram suas exibições interrompidas por problemas técnicos, infelizmente uma constante nesta edição do festival, o público chegou a aplaudir ironicamente e ouviu-se até algumas vaias, principalmente quando o problema aconteceu pela segunda vez na noite desta terça.

Mesmo com problemas, o público mostrou ter gostado dos três filmes, que fecharam com qualidade a mostra de curtas metragens do Cine PE. Após um intervalo, foram exibidos dois longas pernambucanos, últimos fimes da mostra competitiva que premia nesta quarta (2) os vencedores do Troféu Calunga em todas suas categorias.

Na quadrada das águas perdidas, de Wagner Miranda e Marcos Carvalho tem apenas um ator em cena, Matheus Nachtergaele. Apenas um ator humano, porque a presença de outros animais é marcante na película, especialmente um onipresente urubu, que permeia toda a obra avisando da proximidade com a morte no ambiente inóspito em que acontece a ação.

Sem diálogos, o filme estampa a luta pela sobrevivência nos confins do sertão nordestino. Uma qualidade do longa está na sonoplastia e na trilha sonora, que por vezes se confundem de forma orgânica. Um tanto repetitivo, Na quadrada é um filme que, talvez intencionalmente, demora a passar. Ao fim do primeiro longa, muita gente foi embora, ainda que faltasse mais um filme para encerrar a mostra.

O último filme da mostra competitiva do festival foi exibido, Estradeiros, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, documentário que trata de viajantes. Com jogos de câmera, montagens e sobreposições de imagens, o longa acompanha diferentes personagens e momentos dos "malucos de BR", viajantes que geralmente vivem de sua arte e seguem sem rumo definido de cidade em cidade, atravessando fronteiras e indo a vários países da América Latina.

Sem se fixar em nenhum personagem ou definir uma linguagem, Estradeiros acaba sendo um mosaico, quase uma colagem, de situações e depoimentos às vezes descontextualizados e acaba se perdendo, por exemplo quando foca nos "freegans", veganos radicais que levam uma vida à margem da sociedade de consumo utilizando o que é descartado por ela.

Mas o longa acerta em mostrar o lado humano de artistas para os quais muitas vezes se torce o nariz em sinais de trânsito, ônibus e praias, locais onde se apresentam ou vendem seu artesanato, tocam ou realizam apresentações circenses.

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