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A região etíope de Amhara foi alvo de foguetes durante a noite, reforçando os temores da extensão do conflito em um país com fortes tensões entre muitos grupos étnicos. Amhara é vizinha de Tigré, onde o Exército federal combate as autoridades locais.

Os projéteis caíram nos aeroportos das cidades de Gondar e de Bahir Dar, capital de Amhara, a cerca de 200 quilômetros da fronteira com o Tigré, e causaram "danos", informou a célula de crise do governo. Testemunhas relataram explosões e disparos na sexta-feira à noite (13).

Um médico de Gondar disse à AFP que duas pessoas morreram, e 15 ficaram feridas, todas militares. Ainda não há números de Bahir Dar.

"O conselho da TPLF usa as últimas munições de seu arsenal", continuou a célula de crise, referindo-se à Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF), que dirige a região e contra a qual o primeiro-ministro Abiy Ahmed, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019, lançou uma ofensiva militar em 4 de novembro passado.

O presidente do Tigré, Debretsion Gebremichael, disse à AFP neste sábado (14) não estar a par dos disparos, mas lembrou que os dirigentes da TPLF consideram que "qualquer aeroporto usado para atacar o Tigré seria um alvo legítimo".

Os aeroportos de Bahir Dar e de Gondar são usados por aparelhos civis e militares. A Força Aérea etíope já lançou vários ataques sobre o Tigré, e a TPLF afirma que esses bombardeios deixaram vítimas civis. Essa informação não pôde ser verificada, de forma independente, até o momento.

Ambas as cidades estavam tranquilas na manhã deste sábado, de acordo com os moradores.

- 'Massacre' -

Se a TPLF estiver por trás desses foguetes, o partido estaria demonstrando sua capacidade de levar o conflito para fora de seu reduto. No início deste mês, o chefe do Estado-Maior do Exército Federal, general Berhanu Jula, havia garantido que "a guerra não chegará ao centro do país".

Muitos observadores temem que o conflito leve a uma guerra comunitária incontrolável na Etiópia. Trata-se do segundo país mais populoso da África, com mais de 100 milhões de habitantes e um mosaico de povos unidos em um "federalismo étnico".

Milhares de milicianos Amhara (o segundo maior grupo étnico, depois dos Oromo) estão lutando no Tigré ao lado do Exército federal etíope contra a TPLF, de acordo com autoridades regionais. Os Tigré representam 6% da população.

Na quinta-feira, a Anistia Internacional denunciou um "massacre" de civis no Tigré, segundo testemunhos que afirmam que as vítimas eram Amhara e foram mortas pelas forças da TPLF. Debretsion rejeitou a denúncia.

Um Oromo que se tornou primeiro-ministro em 2018, graças a um movimento de protesto popular nas regiões de Oromo e Amhara, Abiy Ahmed foi progressivamente marginalizando a TPLF do poder. No passado, essa frente dominava a política nacional.

As tensões entre Abiy e a TPLF aumentaram em setembro deste ano, quando, após a suspensão das eleições nacionais devido ao coronavírus, a região seguiu em frente com sua própria disputa eleitoral, insistindo em que Abiy é um líder ilegítimo.

"São medicações mais seguras [...] sem causar dependência ou intolerância”, diz psicanalista sobre antidepressivos. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

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Duas horas atrasada, Alice* chegou à sede do LeiaJá, no Centro do Recife, desculpou-se com a reportagem e contou as novidades. Ela deixou um emprego de oito horas, está se programando para cursar agroecologia e resolveu plantar um jardim. A rotina, comum para uma jovem de 26 anos, tenta seguir seu curso natural diante da tentativa de suicídio mais recente, ocorrida poucos dias antes da entrevista que conduz esta reportagem. Distante dos estereótipos associados às pessoas acometidas por transtorno de ansiedade, Alice veste um alegre vestido florido, mantém os cabelos elegantemente cortados e ouve atentamente às perguntas. Após sofrer uma overdose de medicamentos, a jovem prova que escancarar as feridas é a maior demonstração de força e que não há melhor valorização à vida do que lutar por ela.

“Em 2012 comecei a sentir os primeiros sintomas, muitas crises de choro, dor de barriga e vômito, mas a coisa explodiu mesmo em 2016. Procurei um psiquiatra e iniciei o tratamento clínico, mas parece que piorei com os remédios. Creio que o primeiro profissional não teve tanta empatia comigo, aí procurei outra psiquiatra. Estou com ela até hoje”, conta Alice. Apesar das irregularidades causadas pelas medicações em aspectos como o peso e o sono- seja dormindo demais e se atrapalhando nas tarefas cotidianas, seja enfrentando a dificuldade para repousar- Alice destaca sua boa resposta à metodologia da nova psiquiatra, que reduziu a quantidade de medicações que ela ingeria; é prova da importância do acompanhamento médico e defende a importância de buscar aliar o processo clínico a práticas integrativas, como yoga e meditação.

Entregue pela mãe biológica à sua mãe adotiva ainda bebê, Alice conta que teve uma adolescência conturbada, a qual considera um dos gatilhos para seu transtorno de ansiedade. “Sempre senti o processo da rejeição, pois elas eram vizinhas. Além disso, a família que me criou é evangélica e me descobri bissexual, algo muito novo para mim. Inicialmente, resolvi procurar uma psicóloga, porque tinha medo de precisar tomar remédios”, lembra. Atualmente, contudo, ela comemora sua melhor resposta às medicações e a redução das dosagens proposta por sua psiquiatra. “Tomo apenas três remédios e dois deles ela juntou em uma só cápsula. Parece besteira, mas minha mente se sente mais confortável, é uma questão de autoestima”, confessa. Além disso, Alice aderiu aos óleos essenciais e se matriculou em um curso de yoga. “Ajudou muito, mas tenho dificuldade de dar continuidade nas coisas, não consigo ficar muito tempo em uma coisa”, lamenta.

Alice destaca importância do diálogo com a médica em seu tratamento. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

A paciente atribui a aceitação da necessidade da ingestão dos medicamentos ao diálogo que conseguiu estabelecer com sua médica. “A gente criou um vínculo forte, ela me deu o telefone dela para que eu ligasse em caso de emergência. Tenho vergonha, mas sei que ela não vai me julgar, como da outra vez. Ela só disse que eu deveria ter entrado em contato, porque poderia ter morrido devido à intoxicação”, afirma.

Para Kátia Petribu, afiliada à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), professora associada de psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE) e presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria (SPP), a cumplicidade entre médico e paciente é fundamental para que todas as dúvidas sobre a medicação sejam sanadas. “Existe muito preconceito com os remédios. Já tive pacientes que tinham medo de engolir o remédio por medo de passar mal, embora eles já estivessem mal o tempo todo. Às vezes, é a própria ansiedade, o medo do tratamento, um quadro fóbico”, coloca.

A psiquiatra defende ainda que, atualmente, as drogas de primeira escolha são os antidepressivos. “Porque são medicações mais seguras com estudos que comprovam a sua eficácia nos transtornos de ansiedade, sem causar dependência ou intolerância”, conclui.

Seja um transtorno do pânico ou um transtorno de ansiedade generalizada, o tratamento da ansiedade, de forma geral, começa quando o paciente procura acompanhamento psiquiátrico. “A partir disso, a gente faz o diagnóstico de que tipo de ansiedade o paciente pode sofrer, lembrando que existem diagnósticos duplos (quando o indivíduo sofre de mais de uma modalidade). A terapia se baseia em psicofármacos, que serão prescritos de acordo com o tipo de ansiedade”, explica Kátia Petribú.

O procedimento clínico inclui ainda psicoterapias, geralmente cognitivos comportamentais. “Outro tipo de terapia que também parece ser bem eficaz nesses casos é a Eye Moviment Dessensitation and Reprocessing (EMDR), uma abordagem psicológica que lida com a situação do trauma”, comenta.

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Em carta ao Conselho de Psiquiatria de Pernambuco, a Associação Brasileira de EMDR introduz que a técnica psicológica foi elaborada pela renomada psicóloga norte-americana Francine Shapiro, em 1987, e é “comprovada cientificamente como um dos melhores recursos para tratamento de pessoas que apresentam TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)”. De acordo com o texto, a terapia, focada no reprocessamento das memórias dolorosas a partir de estimulações cerebrais, usa procedimentos psicoterapêuticos específicos para: “1) acessar informação existente; 2) apresentar informação nova; 3) facilitar o processamento da informação; e 4) inibir o acesso de informação”.

Kátia Petribu lembra ainda que fatores como exercício físico e boa alimentação são importantes para o sucesso do trabalho clínico. “As pessoas comem muito fast food e a gente sabe o papel tóxico das substâncias que esse tipo de comida carrega. Elas estimulam ocitosinas pró-inflamatórias, ativando o eixo do cortisol, liberando substâncias ansiogênicas por natureza. Não precisa entrar na ‘neura’, mas a pessoa não pode comer só isso por uma questão de facilidade”, alerta. Além disso, a psiquiatra reconhece que atividades como a meditação e a yoga podem auxiliar o tratamento médico, desde que não substituam o procedimento formal. “Existem técnicas de meditação que a pessoa pode fazer sozinha, recursos para auxiliar nesse processo que podem melhorar a qualidade de vida. A Universidade de Orxford desenvolveu um protocolo muito legal, que foi validado no Brasil, e está disponível na internet".

Uma nota publicada pela ABP em maio deste ano, contudo, alerta a população a respeito de procedimentos inadequados. “Nos últimos anos muitos profissionais denominados como ‘coachs’ têm propagado tratamentos não científicos e diagnósticos inadequados para diversos transtornos mentais (autismo, depressão, esquizofrenia, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade e outros), feitos por profissionais sem formação adequada em áreas da saúde mental”, destaca a instituição.

Mestrando em psicologia cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Northon Ferreira está desenvolvendo a pesquisa “Efeitos do Mindfullness baseado em promoção da saúde sobre a regulação emocional”, tomando por base o protocolo do médico norte-americano John Kabat-Zinn, que, após passar uma temporada no Tibet absorvendo a cultura dos monges budistas, trouxe ao ocidente, nos anos 1990, sua leitura do conceito que prega o foco no momento presente. Para os tibetanos, este é o melhor caminho para aliviar a dor e o sofrimento. “A ‘sati’ (do idioma pali) foi traduzida para o inglês como mindfullness e, para o português como atenção plena e é um dos principais ensinamentos do budismo, que não é uma religião, mas um estilo de vida. Trata-se de um conjunto de técnicas, envolvendo meditação, respiração e autocontrole”, comenta.

Confira a entrevista com Northon Ferreira:

De acordo com o pesquisador, apenas oito semanas são necessárias para que o paciente aprenda a praticar o mindfullness sem acompanhamento. “Um dos exemplos do que ensinamos é a técnica do caminhar consciente, atravessando uma sala de uma lado a outros, da forma mais lenta que pudermos. Então damos sugestões de como pisar no chão, prestando atenção no próprio corpo, tudo consiste no presente”, coloca Northon Ferreira. O tempo demandado para que a terapia faça efeito varia de paciente para paciente. “Em alguns casos, já vemos resultado na quarta semana. Fazemos um encontro semanal, mas passamos as atividades de casa, então a prática pode ser desenvolvida durante toda a semana”, afirma.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a quantidade de procedimentos envolvendo práticas integrativas no Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu de 157 mil para 335 mil (126%), entre os anos de 2017 e 2018. No mesmo intervalo de tempo, também aumentou o número participantes de atividades do gênero, de 4,9 milhões para 6,67 milhões (36%). Quando o SUS começou a implementar sua Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, em 2006, apenas cinco delas eram oferecidas: medicina tradicional chinesa/acupuntura, homeopatia, medicina antroposófica, termalismo e fitoterapia. Agora, a população dispõe de 29 atividades, sendo as mais recentemente acrescentadas ao programa a biodança, dança circular, musicoterapia, reiki, shantala, quiropraxia e o yoga.

Confira a entrevista com Maprem Zaki:

A terapeuta ayurvédica, professora de yoga e idealizadora do espaço 'Pura Luz Yoga', localizado no Recife, Maprem Zaki, explica que, na visão védica, a origem da ansiedade está ligada ao sentimento de insatisfação. “Em geral, estamos todos insatisfeitos, porque a gente não consegue usufruir daquilo que a gente queria que fosse da maneira que projetamos. O ser humano está constantemente querendo que as coisas saiam como ele planejou, com medo de não dar certo. A gente é escravo do desejo, você anseia por algo o tempo todo porque não percebe que já é”, coloca.

Tendo como base de trabalho a Svadhyaya, ou seja, o estudo de si mesmo, o yoga estimula o autoconhecimento de seus praticantes. “Quando você se entende, não vai desejar coisas que seu corpo não alcança, aprendendo a aceitar quem é e vencendo a ansiedade. A ideia é trabalhar com o contentamento, que na lógica do yoga, não é conformação, mas entender que esse momento que não pode ser transformado precisa ser aceito, porque ele é necessário para você”, defende.

*Nome fictício

Reportagem integra o especial “Ansiedade”. Produzido pelo LeiaJá, o trabalho jornalístico detalha como a doença afeta pessoas de todo o mundo, bem como mostra as formas de tratamento. Confira as demais matérias:

1 - 'Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis'

2 - Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo

3 - Dependência tecnológica: ansiedade pode ser gatilho

4 - Depressão e ansiedade podem andar juntas

As bebidas muito quentes "provavelmente" provocam câncer de esôfago, anunciou nesta quarta-feira a agência especializada em pesquisas de câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), assinalando que, servidos em temperaturas "normais", o café e o mate não possuem efeito cancerígeno.

"O consumo de bebidas muito quentes é uma causa provável de câncer de esôfago e é a temperatura - não a bebida em si - que parece ser a causa", disse Christopher Wild, diretor da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês), ao apresentar o estudo realizado por um comitê de 23 especialistas.

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As bebidas "muito quentes" são aquelas consumidas a temperaturas superiores a 65 graus, segundo a IARC.

Estudos realizados na China, Irã e Turquia, e no caso do mate na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, onde as infusões geralmente são ingeridas a pelo menos 70 graus, demonstraram que o risco de câncer aumenta com a temperatura da bebida, destaca a agência da OMS.

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