Mergulhado em uma crise de credibilidade, o Grupo X contabiliza atrasos no cronograma de vários projetos, como os portos do Sudeste e do Açu, ambos no Rio de Janeiro. A constante revisão de prazos é mais uma reclamação de investidores preocupados com o rumo atual das empresas.
Chamado de "Roterdã dos trópicos" pelo empresário Eike Batista, o Porto do Açu deveria ter iniciado operações até o fim de 2012. A meta mais recente adia esse prazo em um ano. Problema semelhante vive o Porto Sudeste, projetado para escoar a produção de minério de ferro da MMX e de outras companhias do setor de Minas Gerais.
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Em nota, a MMX informa que precisou revisar o início das operações do Porto Sudeste "em função de atrasos no fornecimento de alguns equipamentos importados do projeto". A empresa garante, porém, que "o terminal portuário iniciará as operações no último trimestre de 2013".
"Quem frustra as expectativas consistentemente não está azarado. O problema está na gestão", afirmou Ricardo Correa, analista-chefe da Ativa Corretora. O executivo lembra que, no comando das empresas X, o empresário Eike Batista criou uma "inflação de expectativas". Uma estratégia perigosa a ser desenvolvida por um grupo com tantos projetos a serem tirados do papel ao mesmo tempo.
Outro que culpa o modelo de gestão pelos atrasos em projetos do grupo é o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Segundo ele, os problemas de gestão se concentram na petroleira OGX, criada para ser a estrela das empresas X.
A entrada da companhia na fase comercial, com a entrega da primeira carga de óleo produzido em Waimea, na Bacia de Campos, foi adiada diversas vezes. A previsão inicial era fim de 2010, mudou para setembro e outubro de 2011, depois dezembro, mas, só aconteceu mesmo em janeiro de 2012.
Na Colômbia, o cronograma também está atrasado. Inicialmente, a meta era perfurar o primeiro poço em 2013. Agora, a companhia trabalha com a previsão de primeiro semestre de 2014. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a petroleira postergou o cronograma de nove áreas no mês passado.
Em nota, a OGX informou apenas que os projetos estão sendo "implementados de acordo com as expectativas da empresa".
Segundo Pires, os atrasos são preocupantes mas ficam em segundo plano quando se analisa a frustração dos investidores com os rumos do grupo X. "A OGX informou números muito abaixo do esperado. A companhia se endividou demais para produzir pouco petróleo."
Foi exatamente em torno da OGX que o inferno astral de Eike Batista começou. Em junho do ano passado, a companhia divulgou um potencial de reserva muito abaixo do esperado para o poço de Tubarão Azul, na Bacia de Campos. O anúncio decepcionou o mercado financeiro, que passou a olhar com desconfiança para outras previsões feitas por empresas do grupo.
O problema, pondera Pires, é que a maioria dos projetos de Eike gira em torno da petroleira, como o caso da OSX, companhia de construção naval e offshore. Na semana passada, a empresa demitiu cerca de 80 funcionários que trabalhavam no estaleiro em fase final de construção no Porto do Açu.
Projetada para tirar do papel as plataformas necessárias à campanha exploratória da petroleira, a OSX busca outra fonte de renda. A empresa negocia com a Petrobras a venda de plataformas, antes encomendadas para uso da OGX.
Mudança de Rota
O chefe da área de análise da Ativa Corretora menciona que todas as termelétricas da MPX, braço de energia do empresário Eike Batista, entraram em operação com atraso. Mas, hoje, a situação da companhia é bem diferente. Uma pesquisa na página na internet da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revela que os projetos em construção estão dentro do cronograma fixado pelo órgão.
Como única do grupo a entregar resultados, a MPX tem sofrido menos o desgaste de imagem das empresas X. Tanto que conseguiu atrair um sócio para o negócio, o grupo alemão E.ON. "O único risco hoje é a MPX ser sangrada para salvar outras empresas ou ser usada para uma movimentação acionária leonina", avaliou Correa.
Apesar dos percalços das empresas da holding EBX, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) se mostra otimista quanto ao futuro do Porto do Açu. Segundo ele, o projeto é importante para o País, por isso, aposta em uma ajuda do governo para viabilizar o empreendimento. "Tem investimentos que a Petrobras pode fazer por lá que não são ruins. O pior seria deixar quebrar o projeto", considerou.
Em nota, a LLX, responsável pelo porto, explica que o atraso no cronograma se deve à mudança no escopo do projeto, que foi ampliado para aumentar a quantidade de movimentação de carga.