Tópicos | Márlon Reis

Um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), juiz Marlón Reis, disse, em entrevista ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que as propostas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff são "boas, mas tópicas".

O magistrado - um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa - afirmou que as sugestões apresentadas atingem apenas as consequências da corrupção e não as causas, que, destacou, só serão resolvidas com a aprovação de uma reforma política.

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"A principal medida passa por algo que todos os candidatos estão falando, que é a reforma política. O sistema eleitoral passa por uma crise", disse ele, defensor de um sistema misto - público e privado - de financiamento eleitoral. "A matriz brasileira da política é do abuso do poder econômico. As empresas que não doam, investem", completou.

O juiz disse esperar que o próximo presidente, quem quer que seja a partir de 2015, assuma o compromisso de deflagrar uma reforma política tão logo assuma.

Ainda assim, Márlon Reis afirmou que a proposta que torna crime o enriquecimento sem comprovação do agente público é "fundamental" para inibir a corrupção. Ele disse também que a devolução de recursos públicos ou bens comprados como produto do crime já existe, mas essa forma de ressarcimento precisa ser aperfeiçoada.

Ele sugeriu, por exemplo, que em casos de condenação pela Lei de Improbidade não deveria precisar o trânsito em julgado (quando não há mais recursos disponíveis) para assegurar a devolução dos bens ao erário público.

O magistrado não quis dizer se Dilma está em vantagem no combate à corrupção em relação aos adversários. "Prefiro não fazer uma avaliação que envolva aspectos de vantagem partidária por causa da minha condição de juiz", disse.

Congresso

Desde 2007, o Congresso Nacional tem propostas que correspondem, integral ou parcialmente, às sugestões "lançadas" pela presidente Dilma na semana passada para combater a corrupção e a impunidade no País. Levantamento do Broadcast Político aponta que a maioria das iniciativas - algumas delas apresentadas por aliados de Dilma durante a sua gestão - está parada em comissões da Câmara ou do Senado.

Mesmo sendo um dos temas mais discutidos durante a campanha, Dilma foi, até agora, a única candidata entre os principais presidenciáveis a apresentar propostas concretas para aumentar o rigor e a eficácia no combate à corrupção. Até o momento, tanto a candidata do PSB, Marina Silva, como o tucano Aécio Neves têm preferido abordar o assunto criticando denúncias de irregularidades durante o mandato da petista.

Na defensiva, por conta das denúncias de corrupção que envolvem a Petrobras, a presidente lançou um pacote com cinco iniciativas contra a impunidade. A primeira delas é a que modifica a Lei das Eleições para, segundo ela, tornar a prática de caixa dois crime. Atualmente, a conduta é punível apenas com a desaprovação das contas do partido ou candidato e, em caso de comprovado abuso de poder econômico, pode levar ao cancelamento do registro da candidatura ou cassação do diploma do eleito.

O atual primeiro-vice-presidente do Senado, o petista Jorge Viana (AC), apresentou, em julho do ano passado, logo após o início das manifestações de rua que tomaram conta do País, uma proposta que torna crime, com pena de cinco a dez anos de prisão, usar recursos em campanha fora da contabilidade formal. O texto foi remetido para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas ainda não teve sequer relator para analisar o mérito da matéria. Se aprovada na comissão, poderia seguir diretamente para a Câmara, caso não houvesse recurso de senadores para levá-la ao plenário da Casa.

Uma segunda proposta anunciada por Dilma prevê punir com rigor agentes públicos que apresentem enriquecimento sem justificativa ou que não consigam comprovar a origem dos ganhos patrimoniais. Um projeto com esse mesmo teor foi apresentado no dia 31 de outubro de 2007 na Câmara pelo deputado petista Praciano (AM).

A proposta de Praciano prevê pena de prisão de cinco a 12 anos para este crime, mais multa. A pessoa que contribuir para a prática do crime também pode incorrer na mesma pena.

Judiciário

A presidente também propôs a criação de uma nova estrutura no Poder Judiciário para aperfeiçoar o julgamento de autoridades que detenham foro privilegiado. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada em novembro de 2011 pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), integrante da base aliada, se assemelha à sugestão feita por Dilma. A PEC, que está parada na CCJ da Câmara, estabelece preferência para julgamento de crimes que tramitam em regime de foro privilegiado.

As outras duas propostas de Dilma não têm projetos em tramitação, o que significa que ela terá de encaminhar, caso reeleita, os textos para o Congresso Nacional: a de criação de um novo tipo de ação judicial - a ação civil pública de extinção de domínio - que permita declarar a perda de propriedade ou bens fruto de atividade ilícita e outra iniciativa que altera a legislação processual para acelerar o julgamento de processos judiciais que digam respeito a desvio de recursos públicos.

Um dos articuladores para a aprovação da Lei da Ficha Limpa, o juiz Márlon Reis afirmou nesta quinta-feira (10) ser um "erro grosseiro" considerar o pedido de registro na Justiça Eleitoral como marco inicial de uma candidatura. Esse é o principal argumento do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR), condenado na quarta (9) por improbidade administrativa, para defender a possibilidade de concorrer novamente ao cargo.

"Quem registra a candidatura é o Tribunal Regional Eleitoral quando defere o pedido, e não o candidato quando pede", disse Reis, ressaltando que fala em tese, sem tratar de caso específico. Ele explica que o processo para registro de candidatura é feito em cinco passos, sendo o pedido do candidato apenas o primeiro deles.

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O segundo é a publicação do edital com a lista das candidaturas deferidas pela Justiça Eleitoral. Em seguida é aberto o prazo para pedidos de impugnação, a produção de provas e finalmente o julgamento, cujo prazo se encerra em 5 de agosto. "Pedir registro não é registrar candidatura", disse.

Na quarta-feira passada, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal ratificou a condenação em primeiro grau de Arruda por atos de improbidade administrativa. Em 2010, o ex-governador renunciou ao cargo e chegou a ser preso pelo envolvimento no esquema de compra de apoio político conhecido como mensalão do DEM, partido ao qual era filiado na época.

Nesta quinta, o diretório do PSOL no Distrito Federal entrou com pedido de impugnação das candidaturas de Arruda (PR) ao governo do DF e de Jaqueline Roriz (PMN) a deputada federal. Roriz também foi condenada por envolvimento no mensalão do DEM. O partido argumenta que ambos estão impedidos de concorrer porque se enquadram na Lei da Ficha Limpa e tiveram condenações por crimes de improbidade confirmadas antes da homologação da candidatura pela Justiça Eleitoral.

Arruda, entretanto, argumenta que tem direito de pedir votos este ano porque a condenação aconteceu depois do pedido de registro de candidatura. "Eu sou candidato a governador do DF dentro do que estabelece a legislação brasileira. O registro da minha candidatura (foi) no dia 5 de julho, a data de corte prevista pela legislação eleitoral e tomada como base em toda a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi respeitada", disse.

A aposta para viabilizar a reforma política já para 2014 do juiz Márlon Reis, um dos coordenadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, é um projeto que não exija mudanças na Constituição. Sem alterar a Constituição, em vez de três quintos dos votos, é necessário apenas maioria simples dos votos na Câmara e no Senado, metade mais um.

O objetivo é conseguir 1,5 milhão de assinaturas até o dia 4 de agosto, o que faria com que o projeto de reforma do Movimento Eleições Limpas chegasse ao Congresso Nacional com um tempo razoável para ser aprovado. Para valer em 2014, o projeto de iniciativa popular precisa ser aprovado na Câmara e no Senado até o dia 4 de outubro, um ano antes da eleição.

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O número de assinaturas obtidas até o momento é um mistério, já que o movimento não tem como contabilizar o número coletado pelas diversas frentes de divulgação do movimento, como igrejas, OABs e Maçonaria, por exemplo. As assinaturas eletrônicas, colhidas pelo site do movimento somam cerca de 70 mil. "O tempo do Congresso é um tempo político. Se a sociedade mostrar com as assinaturas que esta é uma demanda, é possível aprovar em um tempo menor que esse", afirma.

Projeto

A principais mudanças no projeto apresentado são sobre o sistema eleitoral e o financiamento. No financiamento, a proposta é limitar as doações às pessoas físicas com um limite de até R$ 700. O projeto elimina a contribuição de empresas.

A mudança proposta no sistema eleitoral prevê a eleição de vereadores, deputados estaduais e federais em três etapas. A primeira etapa seria a realização de primárias dentro dos partidos e os candidatos seriam ordenados de acordo com a votação. Em um segundo momento, aconteceria o primeiro turno da eleição com as pessoas votando em partidos, não em candidatos. A proporção de voto recebida por cada partido determina quantas cadeiras ele terá. No segundo turno das eleições, cada partido lança dois candidatos por vaga conquistada, os nomes que disputam esta eleição são os mais bem colocados na primária. O eleitor vota mais uma vez e escolhe os futuros parlamentares.

O juiz eleitoral no Maranhão Márlon Reis, um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), rebateu nesta sexta-feira a declaração do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que atacara a Lei da Ficha Limpa, classificando-a de "completamente absurda". Para o juiz, essa análise, partindo de Dirceu, "está desautorizada" pelo fato de ele ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão e estar enquadrado na Ficha Limpa.

Em discurso na quinta-feira (21) em Chapecó (SC), Dirceu declarou: "Criaram a Lei da Ficha Limpa, que é uma lei completamente absurda. Porque ela retroagiu. No Brasil, pela Constituição, você só pode ser considerado culpado quando transitado em julgado na última instância. Só que, agora, vale na segunda instância. Até mesmo quando é na primeira instância já está eliminado."

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Membro do comitê nacional do MCCE, que recolheu assinaturas pela aprovação da nova regra, Márlon Reis disse que a reação de Dirceu não causa surpresa. "Não é de surpreender que pessoas afetadas, que sejam impedidas de se candidatar, fiquem ressentidas. Nesse caso em particular (do ex-ministro), em que foi aplicada uma pena relativamente alta, de dez anos e dez meses de prisão, isso implica no mínimo 18 anos de inelegibilidade. Não é de surpreender que esteja havendo essa inconformidade, essa falta de estima por uma lei que, pelo contrário, é uma das mais estimadas pela sociedade."

Para o juiz eleitoral, o critério estabelecido pela Lei da Ficha Limpa, de que haja decisão por órgão colegiado, é "muito razoável". "A necessidade de que se aguarde o trânsito em julgado é uma tese ultrapassada e minoritária na comunidade jurídica. Nem mesmo a OAB compactua com essa tese", afirmou o juiz do Maranhão.

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