Lançado na última sexta-feira (19), o clipe da música “Você não presta”, que marcou o retorno da cantora Mallu Magalhães, foi acusado por internautas de racismo. Nas redes sociais, os seguidores apontam que há hipersexualização do corpo do negro e reforço de estereótipos racistas. “Você não presta” é o primeiro single do novo álbum da artista, com estreia prevista para este ano.
Ao compartilhar o vídeo em seu perfil, a cantora recebeu várias críticas. Uma das seguidoras chamou atenção sobre o uso do negro como figura exótica. “O que me constrange é um modelo de artista que não se supera e nem faz autocrítica. A abolição foi em 1888 e em 1922 tem a Semana de Arte Moderna, no ano seguinte Tarsila surge com a obra A Negra. Os traços, o retrato, a visão do negro como exótico é tão anos 20. Só que eu entendo isso naquele momento do que hoje, trinta e poucos anos depois da abolição não espero muito da elite branca, já em 2017, uma cantora que nega o mainstream, colocar negros com um viés de exóticos num videoclipe é tão argh. Tem um série de filmes, livros, ativistas negros, músicas críticas e desconstruções dessa figura do exótico, que é um lugar desumanizador e objetificador, então gente por que os artistas brancos não avançam? Cansei de negro exótico, de negro em situação de rua e de negro em favelas em fotografias, quadros, filmes e exposições 'transgressoras' de brancos. Cansei da visão branca que negros estão por aí com corpo brilhando de óleo sem camisa”, disparou a internauta.
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Diante da repercussão negativa do clipe, Mallu Magalhães emitiu nota, nesta quarta-feira (24), em seu perfil em uma rede social. Na publicação, a musicista se diz decepcionada pelo vídeo ter ofendido alguém e se desculpa pelo ocorrido. Segundo ela, a ideia era produzir um clipe com dançarinos que despertasse a vontade de dançar nos expectadores. Veja, a seguir, a nota na íntegra:
Fico muito triste em saber que o clipe da música “Você não presta” possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido. Gostaria de pedir desculpas a essas pessoas. Meu trabalho e minha mensagem têm sempre finalidade e ideais construtivos, nunca, de maneira nenhuma, destrutivos ou agressivos. A arte é um território muito aberto e passível de diferentes interpretações e, por mais que tentemos expressar com precisão uma ideia, acontece de alguns significados, às vezes, fugirem do nosso controle. Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato. Li cada uma das críticas, dos posts e comentários, e o debate me fez refletir muito sobre o tema. Entendo as interpretações que derivaram do clipe, mas gostaria de deixar claro minhas reais intenções. A ideia era ter um clipe com excelentes dançarinos que despertassem nas pessoas a vontade de dançar, de se expressar. Foram convidados pela produtora e pelo diretor os bailarinos Bruno Cadinha, Aires d´Alva, Filipa Amaro, Xenos Palma, Stella Carvalho e Manuela Cabitango. Com a última, inclusive, tive a alegria de fazer aulas para me preparar para o vídeo. É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender. Espero que, após este esclarecimento, seja aliviado deste espaço de conversa qualquer sentimento de ofensa ou injustiça, ficando os fundamentos nos quais tanto acredito: a dança, a arte e o convite à música.