Jake Gyllenhaal e Rene Russo perambulam pelas ruas de Los Angeles, na escuridão da noite, à caça de histórias mórbidas e com muito sangue, em "O Abutre" (Nightcrawler).
O filme dirigido por Dan Gilroy mergulha no mundo dos chamados "nightcrawlers", os jornalistas free-lancers que rastreiam as grandes cidades americanas em busca de acidentes ou crimes sangrentos, cujas imagens são vendidas por uma fortuna às televisões locais.
##RECOMENDA##
O filme, que estreia nesta sexta-feira nos Estados Unidos, só será lançado em 25 de dezembro nos cinemas brasileiros.
Gyllenhaal interpreta Lou Bloom, um jovem sem-teto que se torna de forma inesperada um repórter graças a sua capacidade de percorrer as ruas e pela aparição em sua vida de Nina, uma produtora de TV interpretada por Rene Russo, que vê todo seu potencial.
Mas a pressão deste novo mundo e o instinto de sobrevivência o transformam em um "psicopata" que arrisca a sua vida e a de outras pessoas para conseguir as melhores imagens de crimes, não mostrando nenhuma empatia pelas vítimas.
"Supõe-se que a responsabilidade do jornalismo é conseguir informações para alimentar a audiência a qualquer custo", afirma o ator de 33 anos, durante uma mesa redonda com jornalistas em Los Angeles.
"Ele não faz nada que possa ser considerado ilegal, porque não comete nenhum crime. Mas será que ele é realmente inocente?", questiona o ator, que em 2006 foi indicado ao Oscar por "O Segredo de Brokeback Mountain".
"Gilroy e eu conversamos muito sobre os coiotes e os animais selvagens que andam pelas ruas de Los Angeles à noite. Representam o mundo selvagem que acaba por se mostrar nas megalópolis", afirma Gyllenhaal, fazendo uma comparação com o que ocorre a seu personagem.
O ator precisou perder dez quilos por exigências do roteiro para entrar na pela de um homem que sofre os estragos da fome.
"Em uma cena (Lou) pede um cheeseburger, mas acaba por deixá-lo porque o sem queijo é 99 centavos mais barato", lembra o intérprete.
Influência de uma mulher
Nina percebe que Lou é uma mina de ouro e o leva a romper barreiras para conseguir as melhores histórias para seu próprio benefício.
O que mais causa obsessão nesta produtora de televisão são os eventos que alimentam a paranoia da classe média americana, as histórias sobre assaltos em áreas residenciais na periferia das grandes cidades.
"Nina também é uma sobrevivente", defende Russo. "Ela teve de desistir de muitas coisas na vida, mas finalmente encontrou o seu lugar", diz a atriz sobre sua personagem.
Lou torna-se um especialista em sua nova profissão, embora minta, manipule e chantageie: o fim justifica os meios.
A única preocupação dos produtores de televisão é se suas decisões editoriais podem causar problemas com a lei.
Gilroy, que se coloca pela primeira vez atrás da câmera, considera que Lou sofre as consequências de ter sido "abandonado e abusado" quando muito jovem. "Não sente empatia pelos outros".
"Suas ações são menos graves do que quando um CEO cancela o seguro desemprego" de seus funcionários ou "demite milhares de trabalhadores" para ganhar em lucros que logo serão revertidos em caprichos, assegura o diretor, que também escreveu o roteiro para o filme.
"Vivemos em um mundo brutal, onde o que conta é o que nós ganhamos, e Lou enxerga isso. Acredito que se fôssemos encontrá-lo 10 anos depois, estaria dirigindo um grande canal de televisão", indica Gilroy.