Profundas olheiras, magra, abatida e com semblante tensionado. Esta foi a presidente Dilma que aterrissou, ontem, em Pernambuco, para inaugurar uma estação de bombeamento do projeto de Transposição das águas do São Francisco. Um super esquema de segurança a protegeu de qualquer hostilidade durante a sua passagem, que durou duas horas.
Mas nem precisava. Distante 30 km do centro de Floresta, de acesso complicado, a estação elevatória da Transposição foi devidamente preparada para um evento fechado, onde só era possível entrar mediante convite. Que, aliás, foram distribuídos pelos movimentos sociais, à frente o MST, cujo coordenador estadual, Jaime Amorim, foi o mais aplaudido, depois de Dilma, claro.
Os convidados foram levados de vans e ônibus. E capricharam no traje: camisas do PT e bonés do MST. Um dos presentes, tratado na plateia como “Poeta”, exagerou na dosagem e desfilou com uma camisa vermelha com uma foto da presidente destacando a frase: “Mãe Dilma”.
Anfitriã, a prefeita Rorró Maniçoba (PSB) disse que se surpreendeu com o público, porque temia ser um fracasso. “Não pude mobilizar muita gente, até porque ninguém me pediu ou ofereceu as condições”, relatou a socialista, que usou a sua fala, a primeira do ato, para fazer uma defesa ardorosa do Governo Dilma, com frases de efeito contra o impeachment.
Percebendo o ambiente petista e com cheiro de movimentos sociais, o governador Paulo Câmara fez um discurso discreto, primeiro para agradecer ao Governo pela forma séria, segundo ele, como está conduzindo a Transposição, depois pelos recursos liberados aos três Estados nordestinos (PE. CE e PB), da ordem de R$ 280 milhões, para ampliar a oferta de água nas comunidades que margeiam os canais da obra.
Percebendo que os organizadores haviam caprichado no evento, a presidente se soltou. “Vivemos em um País democrático com um Governo que tem um compromisso: o de superar a crise. Nada vai me demover desse caminho! Eu tenho orgulho de ter um patrimônio: meu nome, o meu passado e o meu presente. A gente pode dar até uma envergadinha, mas não quebra”, desabafou.
O desabafo, claro, se deu em razão do processo de impeachment instalado pela Câmara dos Deputados, mas que voltou à estaca zero com a decisão do Supremo Tribunal Federal de dar superpoderes ao Senado. A presidente afirmou, que, apesar de qualquer dificuldade, o seu Governo irá concluir a obra de integração do Rio São Francisco em 2016.
“O Brasil é grande o suficiente para, ao mesmo tempo que faz equilíbrio fiscal nas contas públicas do governo, investir em obras como esta (da transposição do rio São Francisco)”, disse. “O ‘Minha Casa, Minha Vida’ é outro programa que não vamos parar de jeito nenhum”, ressaltou, citando o evento de entrega de moradias do qual participou mais cedo, na Bahia.
OBRA PARA 2016– Sobre as obras de transposição do São Francisco, a presidenta Dilma garantiu que, "com a dificuldade que for", o Governo não deixará de concluir esse empreendimento no ano que vem. "Considero essa obra prioritária pelo efeito que terá na vida de milhões de pessoas no semiárido. Estamos enfrentando o quinto ano de seca. Esse país é grande o suficiente para, ao mesmo tempo que faz equilíbrio fiscal nas contas do governo, investir em obras como essa", afirmou, em discurso lido e no final improvisado.
Humberto deu uma mãozinha– O senador Humberto Costa deve ter dado uma contribuição decisiva na montagem da claque vermelha que foi, ontem, a Floresta, bater palmas para a presidente Dilma. Na duas vezes em que seu nome foi citado pelo cerimonial acabou sendo bastante aplaudido, assim como o prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque, que é do PT.
Desvio de R$ 35 bilhões– O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, abriu, ontem, um processo administrativo para apurar se 21 empresas e 59 pessoas – executivos e funcionários das companhias –, se uniram para a prática de cartel na Petrobras. Segundo o Cade, a soma dos contratos nos quais há evidência da atuação do chamado "clube das empreiteiras" é de R$ 35 bilhões.
Pernambuco na liderança– Segundo relatório do Ministério da Saúde, Pernambuco é o Estado com maior número de casos suspeitos de microcefalia: 1.031. Em seguida, vêm Paraíba e Bahia, com 429 e 271 casos, respectivamente. O Rio Grande do Norte e a Bahia são os estados com maior número de óbitos sob suspeita da doença: dez casos. A maioria esmagadora dos casos de microcefalia está relacionado ao vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue e da chikungunya.
Irrigantes sem energia– Insatisfeito com o tratamento do Governo aos efeitos nefastos da seca, o prefeito de Petrolândia, Lourival Simões (PR), não foi paparicar a presidente Dilma na sua passagem ontem por Floresta. Para ele, um Governo que deixa os produtores das áreas irrigadas sem energia não pode ser levado a sério. “A Celpe cortou a energia dos irrigantes por três dias, alegando calote de R$ 4 milhões, mas, estranhamente, religou na sexta-feira passada, quando a visita de Dilma foi confirmada”, diz ele.
CURTAS
MENOS CISTERNAS – Elogiada por Dilma, ontem, em seu discurso, a ONG Asa, que constrói cisternas no Nordeste em parceria com o Governo, teve um corte de R$ 55 milhões em seu montante conveniado com a União. Vai causar um impacto tremendo no programa caso a presidente Dilma Roussef não reveja a ação da sua tesoura.
BOA ESTRADA– Muito elogiado o trecho da estrada ligada Ibimirim a Floresta, percorrido por autoridades e convidados para inauguração da estação de
bombeamento da Transposição por Dilma naquele município. A obra foi tirada do papel e executada pelo secretário de Transportes, Sebastião Oliveira.
Perguntar não ofende: Advinha o que tem deixado Dilma com tantas olheiras?