Ele é forte, bonito, bom, rápido e supera as dificuldades da vida para se tornar um verdadeiro herói Invencível. Quem ele é? O americano, especificamente, o da indústria hollywoodiana. Quantas vezes não nos deparamos com essa mesma figura, multiplicada em várias faces, nos mais diversos filmes que povoaram nossas 'Sessões da tarde' ou insistiam em se fazer presentes nos cassetes que alugávamos nas saudosas locadoras (que Deus as tenha)? A orgulhosa visão do americano sobre si mesmo, difundida pela extrema faixa conservadora do cinema estadunidense, convenceu e emocionou milhões ao redor do mundo: pobres e valentes americanos, como sofreram nas mãos dos sanguinolentos e maldosos japoneses; como lutaram pela paz mundial e esfacelaram o terror do totalitarismo; como resistiram; como sobreviveram; como são corajosos. Ok! Há alguns anos já recebemos, em demasia, estas mensagens. Mas a Angelina Jolie fez questão de nos trazer mais de duas horas de mais… do mesmo.
A armadura do “baseado em fatos reais” também já não é surpresa. Aqui, a narrativa relata a história verídica do americano Louis Zamperini (Jack O’Connell). Descendente de italianos, Zamperini descobre, ainda em sua conturbada infância, o talento para o atletismo. Incentivado pelo irmão, segue carreira no esporte até ser convocado para disputar os Jogos Olímpicos. O recorte do filme pincela, através de flashbacks, essa fase da vida do protagonista, e já rasga os ouvidos do espectador com a retumbante trilha de Alexandre Desplat, ensinando onde abrir um sorriso emocionado, em cada nova (e repetitiva) realização do jovem Louiz. Tudo é mais claro para o atleta. A fotografia nos cenários em que este se encontra parece ganhar mais luz e até seu figurino (o seu traje de competição) é mais claro do que o dos outros atletas. Claro, ele é o americano.
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Sem muito, ou nenhum, desenvolvimento, a trama avança cronologicamente e regressa diegeticamente para Zamperini como combatente dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra. Da mesma forma desinteressante, cheia de cenas e diálogos que não acrescentam nada à película, somos apresentados à escalada de desventuras do protagonista, que começa com o acidente de avião, os 47 dias à deriva em alto mar com dois outros soldados, e termina na prisão em solo japonês. Este segundo ato da obra é o mais problemático. A lentidão da narrativa, o aparente looping de acontecimentos e a falta de empatia dos personagens, carentes de complexidade, naturalidade e verossimilhança, tornam a produção difícil de ser engolida. Cenas como a de um dos sobreviventes do acidente pescando um tubarão com as mãos abusam da inocência e boa vontade do espectador.
Quando o exército japonês entra em cena, o maniqueísmo e o ufanismo do filme, que já haviam começado a dar as caras, são escancaradamente revelados. A fotografia em tudo que circunda “o inimigo” é escura e os próprios militares japoneses são retratados com o máximo possível do estereótipo clichê-histórico. Mas, por incrível que pareça, toda a violência física e emocional impressa ao inquebrável personagem não convence, não emociona, nem muito menos impressiona. Sua “heroificação” já é tão evidente e forçada, desde os primórdios da trama, que ao alcançar certo elixir, parece não ter mais forças para seguir por mais longos 40 minutos. A direção de Angelina Jolie, também produtora do filme, não traz novidades. Se o discurso do roteiro, que tem os irmãos Coen como dois dos autores, beira a sisudez direitista Eastwoodiana, já a falta de criatividade técnica, e até certa preguiça para achar soluções visuais menos clichês por parte da cineasta, lembram Pearl Harbor, do mal fadado Michael Bay.
O que resta é tentar resgatar o gosto nostálgico pelas antigas, e repisadas, histórias de heróis americanos e ousar se deixar levar pelo decurso natural de Zamperini, que vem à tona nas mãos de uma cineasta nova rendida ao antigo modo americano de se mostrar ao mundo: invencível.
Invencível estreia nesta quinta-feira nos principais cinemas do Brasil. Confira a seguir o trailer do filme:
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