Embora as expectativas em relação à economia brasileira tenham melhorado, com até o Fundo Monetário Internacional (FMI) revendo para cima as projeções de desempenho, os indicadores da economia real continuam ruins, especialmente os de consumo. O cenário é negativo tanto para as vendas neste início de trimestre como para os próximos dois meses. Alguma recuperação é esperada só no ano que vem, concordam especialistas em varejo.
As consultas para vendas no varejo na cidade de São Paulo encerraram a primeira quinzena de julho com queda 9,2% em relação aos mesmo dias de 2015, segundo dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O tombo ocorreu principalmente nos negócios à vista, que dependem da renda e tiveram retração de 14,1% ante o mesmo período do ano passado. Nas consultas para vendas a prazo o recuo foi de 4,3%, nas mesmas bases de comparação.
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"Houve uma pequena redução no ritmo de queda e tudo indica que a recuperação nas vendas pode demorar mais", afirma o economista da ACSP, Emílio Alfieri. No primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2015, a retração no número de consultas para vendas à vista e a prazo tinha sido de 11,1% e nos primeiros quinze dias de julho o recuo foi dois pontos porcentuais menor.
Desemprego e juros em alta e renda em queda prejudicam os negócios. "Na verdade, o novo governo tomou medidas para enxugar o orçamento, mas isso não estimula o consumidor", diz o economista da ACSP. Na sua avaliação, a recuperação está mais no plano das expectativas e na área empresarial.
Intenção
Esse quadro que já aparece no movimento do varejo no início deste semestre é confirmado pelo cenário de consumo traçado para os próximos dois meses. Pesquisa de Intenção de Compra no Varejo realizada pelo Instituto Brasileiro de Executivos no Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) mostra que apenas 37% dos paulistanos pretendem ir às compras entre julho e setembro. É o resultado mais baixo de intenção de compras para o período em 14 anos. A enquete, feita com cerca de 500 consumidores na cidade de São Paulo, mostra que a intenção de compras ainda é negativa para a maioria dos itens pesquisados.
"Mudou o governo federal, mas a trajetória do consumo continua em queda", diz o presidente do Ibevar, Claudio Felisoni de Angelo. Ele destaca que um dado importante da pesquisa é que sobra ainda muito pouco da renda disponível para compras, cerca de 5%, depois de pagas todas as despesas obrigatórias.
Além disso, Felisoni observa que variáveis importantes para o consumo, como o desemprego e o medo de ficar desempregado, continuam em alta, além do fato de a taxa de juros estar em níveis elevados, o que inibe as compras a prazo.
Por causa desses fatores, o presidente do Ibevar acredita que a retomada das vendas no comércio varejista será muito lenta. "Acho que poderá ocorrer alguma reação a partir do final do primeiro trimestre de 2017."
Também para Alfieri, da ACSP, o crescimento no varejo deve ocorrer só no ano que vem, quando o governo baixar os juros e as empresas pararem de demitir.