Por ser um meio de comunicação rápido, a internet vem sendo a maior proliferadora de notícias e, com a ajuda das redes sociais, essa abrangência se tornou maior. Neste sentido, a web pode ser uma faca de dois gumes: tanto pode ser algo verdadeiro, como, o famoso "Hoax", termo usado para designar boatos que se espalham via e-mail ou redes sociais (Facebook, Twitter, Google+, etc). Um exemplo trágico disso foi o caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que morreu nesta última segunda-feira (5), dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo.
Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
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Podemos entender o hoax como um SPAM, ou seja, mensagens não solicitadas que são enviadas a várias pessoas. O conteúdo de um SPAM pode ter diversas finalidades. No caso do hoax, é o de gerar boatos pela internet de forma que a "informação" chegue ao maior número de pessoas possíveis. “Com o uso desenfreado da internet, observamos que é comum a proliferação de boatos, que infelizmente ainda consegue um enorme número de compartilhamentos e seguidores. Na internet tudo "pode" ser feito, as pessoas não tem limites, você pode mudar um conteúdo em um site, pode divulgar uma notícia falsa, e como neste caso, pode acarretar a morte de alguém", diz a analista de mídia digital, Giselly Andrade.
A página Guarujá Alerta, conta com mais de 50 mil curtidas. A população do Guarujá, segundo dados do IBGE de 2013, é de 290.752. Fazendo uma comparação, a página conta com um número considerável de curtidores. Desta forma bastou um retrato falado para que os moradores do local associassem a foto à figura de uma vizinha e cometessem o linchamento.
“Como as pessoas não compartilham informações que não lhes interessam, os hoaxs precisam de conteúdo forte e apelativo, primeiro para chamar a atenção, depois para convencer o indivíduo. Por conta de um texto e foto fortes, as pessoas tendem a ler a mensagem e compartilhar, achando até mesmo que estão fazendo um bem. Não é a primeira vez que se utilizam as redes sociais e mensageiros instantâneos para enviar boatos às pessoas. No entanto, este foi um dos únicos casos que uma morte foi ocasionada por conta de um hoax", continua.
Segundo o presidente da Comissão de Tecnologia da OAB, Frederico Duarte, o julgamento do caso deverá passar primeiro pela identificação de onde se originou o boato e a participação de todos que promoveram a divulgação. "A primeira coisa a ser feita é identificar a participação das pessoas que divulgaram o boato. As pessoas precisam entender que internet não é terra de ninguém. Muitas pessoas não se preocupam em saber a veracidade do que está compartilhando ou postando. Tudo agora é motivo para compartilhamento e repasses.”
Duarte também alertou que não é apenas em redes sociais que esse problema surge. "A questão da praticidade de se viabilizar uma notícia é grande nas redes sociais, no entanto, os emails também são difusores desse problema, pois ele não deixam de ser uma forma de repassar uma notícia, que foi redigida e enviada para as pessoas". Para o advogado, o ideal é que as pessoas parem de acreditar e repassar tudo que veem." Um grande problema é que as pessoas pessoas pararem de acreditar em tudo, repassar tudo, e achar que a internet é anônima."
Para ele, esse jeito mais solto de “falar na internet” se dá por conta do “anonimato” que muitos acham que existe. “O anonimato não existe na internet, o que acontece é você aparecer com outro nome. No entanto, quando se quebra os IPs e se apura realmente, se acha imediatamente quem foi o autor das coisas. As pessoas precisam se conscientizar de que o que é feito na internet sofre as mesmas consequências do que é feito na vida 'real'. Ao compartilhar, você será a fonte, então sempre se pergunte se realmente você está querendo dizer aquilo e tem condições de atestar o que está sendo publicado."
O LeiaJá entrou na página do Guarujá Alerta, responsável pela divulgação do material. Segundo os administradores da página, em postagens, o Guarujá Alerta sempre informou os seguidores de que a situação da "sequestradora" era apenas um boato. No entanto, a página assume que publicou um retrato falado semelhante ao da vítima. A página ainda afirma que por ora estão contribuindo com as investigações e não se manifestarão sobre o ocorrido.
Abaixo seguem exemplos de outros boatos, não tão sérios, mas que deram dor de cabeça a muita gente:
Renato Aragão e a demissão do funcionário de um shopping - Um caso recente de boatos na internet com famosos foi o de Renato Aragão, o famoso Didi, que segundo as redes sociais, teria pedido a demissão de um funcionário de um shopping do Rio de Janeiro, após ter pedido para tirar uma foto com ele. O motivo do pedido é que o funcionário, que era manobrista, fez com que Didi se atrasasse na entrega do carro.
O dia em que Tapacurá estourou nas redes sociais - Quem não lembra do fatídico dia em que a capital pernambucana "viveu" o estouro de Tapacurá? Ninguém sabe de onde o boato surgiu, apenas que a proliferação dele foi mais pelo Twitter, que aliou as enchentes da época ao estouro da barragem. Sem nenhum indício de que algo estava para acontecer, os recifenses viveram um dia de pânico, tanto que várias escolas, shoppings e repartições públicas fecharam as portas mais cedo.
Avião da Praia de Barra de Catuama - Um avião teria caído na Praia de Barra de Catuama, em Goiana, Litoral Norte de Pernambuco. Muitos afirmaram terem escutado até o estrondo, e que mesmo de longe, dava para ver o logotipo da empresa TAM. Neste momento a internet e o Facebook se tornaram as verdadeiras fontes das notícias. O boato foi tão grande, que até a Polícia Rodoviária Federal afirmou que se tratava de um avião bimotor e os bombeiros deslocaram várias viaturas para o local. O engano só foi confirmado depois que as autoridades foram ao local e viram que na realidade a imagem era de uma peça era uma plataforma de petróleo transportada por um navio.
(Foto: Reprodução/Twitter/@mLucianaAzevedo)