Logo no primeiro domingo de março deste ano, durante um encontro da oposição ao governador Paulo Câmara (PSB) denominado “Pernambuco Quer Mudar”, composto por políticos conhecidos pelo desejo antigo de comandar Pernambuco como os senadores Armando Monteiro Neto (PTB), Fernando Bezerra Coelho (MDB) e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM), uma informação em particular divulgada durante o ato gerou muita curiosidade: o de que o movimento lançaria apenas um nome para disputar a eleição no estado. No entanto, passado quase três meses, o concorrente de Paulo Câmara ainda não foi divulgado.
Na ocasião, a data marcada para lançamento seria no dia 7 de abril durante mais um evento do grupo, que aconteceu no município de Ipojuca, na Mata Sul de Pernambuco. Depois, passou para o dia 28 de maio e seria realizado no Hotel Marriot, no bairro de Boa Viagem, mas foi novamente alterado para o dia 4 de junho sob a justificativa da “grave crise de abastecimento de combustíveis que afeta a vida da população”.
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O lançamento do pré-candidato a governador de Pernambuco da oposição foi adiado novamente, desta vez, para acontecer no dia 11 de junho. Em nota, a Frente das Oposições composta pelo PTB, DEM, PSDB, Podemos, PV, PRB e PPS explicou que o adiamento aconteceu “em respeito e solidariedade” aos pernambucanos por causa da paralisação dos caminhoneiros.
O questionamento que fica por uma parte da sociedade se intensifica: Por que a oposição não revelou o nome de quem disputará a eleição no estado desde a primeira data marcada? Há quem aposte que uma ''briga de vaidades” pode ter interferido na decisão. Mendonça Filho chegou a dizer, ao LeiaJá, que seria necessária muita discussão para escolher um nome entre tantos que foram cotados da oposição. Ele falou que a avaliação seria em cima de quem teria as melhores condições para governar Pernambuco e “liderar esse grande e amplo movimento político”.
Em entrevistas ao LeiaJá, tanto Mendoncinha, FBC, como também Armando Monteiro não esconderam o “entusiasmo” de disputar o Governo de Pernambuco. Os três são os mais cotados ao lado também do filho de Bezerra Coelho, o ex-ministro de Minas e Energia Fernando Filho (PSB).
O otimismo de Armando Monteiro
No encontro do Pernambuco Quer Mudar, em março, quando foi revelado que a oposição se uniu para derrotar Paulo Câmara, uma parte do público que participou do evento realizado na Arena Caruaru, no antigo Paladium, se mostrou curioso com um fato que passou despercebido pela maioria: em um palanque repleto de políticos, o último a falar foi Armando Monteiro. No geral, em eventos do tipo, os pronunciamentos que merecem “mais destaques” ficam por último. No caso, alguns associaram de imediato que ele seria o escolhido.
Palpites à parte, com ou sem sentido, a verdade é que o petebista parece ter aceitado a derrota de 2014, quando perdeu a eleição no estado para Paulo Câmara, mas já ressaltou que o cenário atual é diferente: sem a presença do ex-governador Eduardo Campos, que faleceu em acidente aéreo no mesmo ano. “Já não há mais o ex-governador, que era uma figura muito grande e poderosa presença no cenário político de Pernambuco”, salientou em referência que o escolhido por Eduardo foi Paulo Câmara à época.
Em maio passado, Fernando Bezerra chegou a afirmar que o candidato do Pernambuco Quer Mudar será Armando. A declaração foi concedida por Bezerra durante uma entrevista à imprensa de Petrolina, no Sertão de Pernambuco. “Estamos trabalhando de forma muito integrada e unida. De fato, o nome de Armando vem ganhando muita força e deverá ser o nosso candidato a governador a ser anunciado”, antecipou na ocasião.
Disputa pelo poder
A cientista política Priscila Lapa acredita que a oposição, além de estar aguardando uma definição no que diz respeito aos partidos no plano nacional, há um ponto maior: a disputa pela liderança entre os nomes mais cotados sendo FBC, Mendonça Filho e Armando contribui para a demora. “Esses atores tiveram certo protagonismo agora nesses últimos dois anos no governo de Michel Temer. Acho que todos esses atores estão enxergando nessa eleição uma grande oportunidade de firmar o seu nome como uma liderança do estado”.
“Você tem aí senadores disputando com deputado federal e aí quem é que pode mais neste momento? Acho que é essa grande questão. Como vão acomodar em uma chapa só pessoas que têm pretensões política imediatas? Dividir neste momento é extremamente complicado porque podem pensar que se ceder para o colega agora pode nunca mais ter esse espaço. É aquela história de que a política se constrói muito pelas oportunidades do momento. Se você deixa passar, você pode não reconquistar uma oportunidade desse tamanho daqui a quatro anos na próxima eleição”, explicou.
Lapa ainda ressaltou que a estratégia de se unirem, embora com a dificuldade de um consenso, se deve ao fato de que a divisão seria pior já que cada um sabe as intenções de votos que possuem e que teriam um percentual pequeno, individualmente. “Juntar um grupo de oposição é muito mais visualizando esse projeto de poder maior do que simplesmente ganhar a eleição para governador, eles visam somar para principalmente fazer uma bancada maior de deputados estaduais e federais. Tentam montar uma chapa alternativa, o que pode representar uma vitória de certa forma na composição dessas bancadas. Pode não ganhar a eleição para governador, mas pode ganhar uma bancada significativa no Congresso e na Assembleia Legislativa”.
Lapa ressaltou que o não lançamento de um nome é muito ruim estrategicamente porque quem está no poder já é uma figura conhecida ainda que tenha uma avaliação negativa e um desgaste. “Porque é alguém que pode trabalhar com a memória do eleitor reforçando realizações e também para construir alianças com mais pujança. Quem está na oposição é que precisa firmar o nome, se tornar conhecido pelo eleitor e mostrar para o eleitor qual é a proposta que tem em relação a representar uma alternativa e conquistar a confiança do eleitor”, explicou.
Lapa acredita que houve um erro estratégico do tempo. “Acho que eles já perderam o tempo de fazer esse lançamento para que consigam firmar com mais eficiência e para que o eleitor se identifique mais claramente esse grupo de oposição. O tempo é um fator primordial para ganhar espaço”.
A cientista também acredita que a demora pode demonstrar para os eleitores um oportunismo eleitoral. “Como uma grande parte das pessoas que vão estar nesse palanque, de alguma forma, participaram do palanque de Paulo Câmara na última eleição e apoiaram o governo até um pouco tempo atrás, não vai ficar muito claro para o eleitor porque rompeu, o que pode parecer muito mais um oportunismo eleitoral do que a construção de um projeto porque um projeto você não constrói do dia para a noite”.