Tópicos | Gonzaga - De Pai pra Filho

O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro premiou na noite desta quarta (13), na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, os melhores filmes nacionais de 2012. O longa de Breno Silveira  Gonzaga de Pai para Filho foi o grande vencedor da noite.

O filme recebeu 15 indicações e foi premiado nas categorias de Melhor Ator (Júlio Andrade), Melhor Longa-metragem de Ficção, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Montagem de Ficção e Melhor Som.

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Raul - o início, o fim e o meio, de Walter Carvalho, ganhou quatro prêmios: melhor documentário, melhor montagem de documentário e melhor direção de arte - dividido com Xingu e Heleno - além de ser eleito melhor documentário pelo voto popular. O longa Heleno, de José Henrique Fonseca, faturou quatro troféus: melhor direção de fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, e melhor maquiagem. Dira Paes foi eleita melhor atriz, por sua atuação em À beira do caminho.

Ângela Leal levou para casa o título de melhor Atriz Coadjuvante na atuação do filme Febre do Rato, do diretor Cláudio Assis. O longa também ganhou o prêmio de melhor Roteiro Originalcom Hilton Lacerda. Leandra Leal, filha de Ângela, levou também o título de Melhor Atriz Coadjuvante pelo trabalho como Silvia, no longa Boca.  

A atriz Ruth de Souza foi a grande homenageada deste ano. Ruth começou a carreira nos palcos em 1945, sendo a primeira atriz negra a se apresentar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ainda foi a primeira brasileira a receber uma indicação a um prêmio internacional, o Leão de Ouro em Veneza, em 1954, por Sinhá moça.

Confira os vencedores em cada categoria:

Melhor longa-metragem de ficção

Gonzaga - De Pai Para Filho, de Breno Silveira  

Melhor longa-metragem de ficção - voto do público

Febre do Rato, de Claudio Assis  

Melhor longa-metragem em documentário

Raul - O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho  

Melhor longa-metragem em documentário - voto do público

Raul - O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho  

Melhor longa-metragem infantil

Peixonauta - Agente Secreto da O.S.T.R.A, de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo  

Melhor longa-metragem em animação

Brichos - A Floresta É Nossa, de Paulo Munhoz  

Melhor direção

Breno Silveira, por Gonzaga - De Pai Para Filho

Melhor atriz

Dira Paes como Rosa, por À Beira do Caminho

Melhor ator

Júlio Andrade como Gonzaguinha 35/40 anos, por Gonzaga - De Pai Para Filho

Melhor atriz coadjuvante

Ângela Leal como Dona Marieta, por Febre do Rato e Leandra Leal como Silvia, por Boca

Melhor ator coadjuvante

Claudio Cavalcanti como Dr. Ismael, por Astro - Uma Fábula Urbana em um Rio de Janeiro Mágico e João Miguel como Miguelzinho, por Gonzaga - De Pai Para Filho

Melhor direção de fotografia

Walter Carvalho, por Heleno

Melhor direção de arte

Cassio Amarante, por Xingu; Daniel Flaksman, por Corações Sujos e Marlise Stochi, por Heleno

Melhor figurino

Rita Murtinho, por Heleno

Melhor maquiagem

Martín Marcías Trujillo, por Heleno

Melhor efeito visual

Carlos Faia, Gus Martinez e Xico de Deus, por 2 Coelhos

Melhor roteiro original

Hilton Lacerda, por Febre do Rato

Melhor roteiro adaptado

David França Mendes, por Corações Sujos, adaptado da obra homônima de Fernando Morais  

Melhor montagem de ficção

Afonso Poyart, André Toledo e Lucas Gonzaga, por 2 Coelhos

Melhor montagem de documentário

Pablo Ribeiro, por Raul - o Início, o Fim e o Meio

Melhor som

Alessandro Laroca, Armando Torres Jr., Eduardo Virmond Lima, Renato Calaça e Valéria Ferro, por Gonzaga de Pai para Filho

Melhor trilha sonora

Paulo Jobim, por A Música Segundo Tom Jobim

Melhor trilha sonora original

André Abujamra e Marcio Nigro, por 2 Coelhos

Melhor curta-metragem ficção

Laura, de Thiago Valente  

Melhor curta-metragem documentário

Elogio da Graça, de Joel Pizzini  

Melhor curta-metragem animação

Cabeça de Papelão, de Quiá Rodrigues  

Melhor longa-metragem estrangeiro

Intocáveis (França), de Olivier Nakache e Eric Toledano  

Melhor longa-metragem estrangeiro - voto do público

Intocáveis (França), de Olivier Nakache e Eric Toledano

Adaptar personagens reais para o cinema é sempre um desafio. A missão exige ainda mais engenho quando o biografado se trata de um ícone musical responsável por rasgar o Brasil cantando para o povo, além de ter colocado a música nordestina no mundo.

No entanto, mais difícil ainda é quando a sua história se mistura e até se confunde com a de seu filho, outro ícone da música brasileira. Sem cair na narrativa tradicional das cinebiografias, o diretor Breno Silveira apostou no tema da paternidade para contar a trajetória musical do Rei do Baião em Gonzaga - De Pai pra Filho. Daí já é de se esperar a reação do público, uma vez que o fio condutor escolhido por Breno é o ingrediente principal de seus trabalhos anteriores (Dois Filhos de Francisco e À Beira do Caminho), feitos para emocionar.

Um Gonzaga humano e latente, que se reencontra com o filho depois de anos e leva uma vida inteira para reconquistá-lo é o que se vê na tela. A dificuldade para criar o primogênito enquanto realizava shows pelo Brasil fez do Rei do Baião uma figura ausente e questionável para o próprio herdeiro. “Você não passa de uma foto, de um cartaz. Que rei é esse?” é o que se vê em uma das cenas em que Gonzaguinha, interpretado de forma vigorosa por Julio Andrade, cobra um acerto de contas com o pai.

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Criado no Morro de São Carlos, favela do Rio de Janeiro, pelos padrinhos Xavier (Luciano Quirino) e Dina (Silvia Buarque), Gonzaguinha carregou consigo o peso da diferença cultural entre ele o pai, inclusive no que diz respeito a fazer a música que cada um acredita.

Em entrevista concedida ao filho, que gravou todo o reencontro numa fita cassete, Gonzagão permite uma sessão de terapia com Gonzaguinha, que passa a entender por que foi abandonado, quem era sua mãe e toda a sua história de vida. A fita foi o ponto de partida escolhido por Breno para contar a história dos dois, separados pela vida, mas unidos pela música. Imagens de arquivo, entre elas as da turnê Vida de Viajante, de 1981 - primeira vez em que pai e filho se encontraram no palco - fora utilizadas na montagem. 

A adolescência do Rei - quando aprendeu a tocar sanfona na cidade de Exu, sertão do Cariri, onde nasceu – é um dos períodos determinantes de sua história explorados no filme. O alistamento no exército na década de 1930 para fugir de um amor proibido com a filha de um coronel e a viagem para o Rio de Janeiro em busca do reconhecimento artístico também compõem o recorte escolhido por Breno.

O filme também mostra a luta para aproximar a música nordestina - cercada de preconceitos - do povo brasileiro, que teve seu momento decisivo quando Luiz Gonzaga se apresentou no programa de rádio de Ary Barroso. Tudo isso deixando de lado aquilo que lhe era familiar, inclusive o filho, mas sempre remontando a sua origem e transmitindo-a para o povo.  Aliás, Gonzaga fazia questão de tocar em locais abertos para o público que não podia pagar.

Em mais um trabalho, Breno se utiliza da música para contar uma história brasileira. Porém, na cinebiografia, a obra de Gonzaga deixa de ser o ponto central da história e torna-se coadjuvante, dando o lugar de protagonista à intimidade do biografado para com o público. E nem apenas como trilha sonora funciona, no filme, a música do artista. Ela é, sobretudo, parte do roteiro, na medida em que informa algo que não se vê na tela e ajuda a contar a história.

Interpretado em três gerações por Land Vieira (adolescente), Chambinho do Acordeon (fase adulta) e Adélio Lima (depois dos 50 anos), Luiz Gonzaga ganha sustentação na tela não só pela semelhança física com os atores – sobretudo Chambinho e Adélio – mas pela essência nordestina extraída dos intérpretes, que souberam transmitir a verdade gonzagueana.

A atuação de Nanda Costa como Odaléia, primeira esposa de Luiz Gonzaga e mãe de Gonzaguinha, mesmo que curta, não passa despercebida. Familiarizada com o cinema, Nanda ganha destaque pela dedicação à personagem, que se firma como uma das principais atenções da obra na fase em que o universo familiar começa a ganhar contornos na vida de Gonzaga.

Gonzaga - De Pai pra Filho é um eco para o Brasil se ver como relação humana, o que faz a obra ter um alcance popular devido ao drama familiar. Cara a cara com a tela, não é difícil perceber que cada um de nós tem muito de Luiz Gonzaga.

O longa, baseado no livro Gonzaguinha e Gonzagão – uma história brasileira de Regina Echeverria, entra em cartaz em todo o Brasil nesta sexta-feira (26). No Recife, a estreia ocupa sei salas nos cinemas UCI Tacaruna, Casa Forte e Recife, além do Box Cinema.

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