Em 'Gonzaga - de Pai pra Filho' bate um coração

Cinebiografia do Rei do Baião dirigida por Breno Silveira tem o drama e a música como elementos-chave

por Marina Suassuna sex, 26/10/2012 - 10:35
Divulgação Acerto de diferenças entre pai e filho, gravado em fita por Gonzaguinha, é o ponto de partida para narrar a vida do Rei do Baião Divulgação

Adaptar personagens reais para o cinema é sempre um desafio. A missão exige ainda mais engenho quando o biografado se trata de um ícone musical responsável por rasgar o Brasil cantando para o povo, além de ter colocado a música nordestina no mundo.

No entanto, mais difícil ainda é quando a sua história se mistura e até se confunde com a de seu filho, outro ícone da música brasileira. Sem cair na narrativa tradicional das cinebiografias, o diretor Breno Silveira apostou no tema da paternidade para contar a trajetória musical do Rei do Baião em Gonzaga - De Pai pra Filho. Daí já é de se esperar a reação do público, uma vez que o fio condutor escolhido por Breno é o ingrediente principal de seus trabalhos anteriores (Dois Filhos de Francisco e À Beira do Caminho), feitos para emocionar.



Um Gonzaga humano e latente, que se reencontra com o filho depois de anos e leva uma vida inteira para reconquistá-lo é o que se vê na tela. A dificuldade para criar o primogênito enquanto realizava shows pelo Brasil fez do Rei do Baião uma figura ausente e questionável para o próprio herdeiro. “Você não passa de uma foto, de um cartaz. Que rei é esse?” é o que se vê em uma das cenas em que Gonzaguinha, interpretado de forma vigorosa por Julio Andrade, cobra um acerto de contas com o pai.

Criado no Morro de São Carlos, favela do Rio de Janeiro, pelos padrinhos Xavier (Luciano Quirino) e Dina (Silvia Buarque), Gonzaguinha carregou consigo o peso da diferença cultural entre ele o pai, inclusive no que diz respeito a fazer a música que cada um acredita.

Em entrevista concedida ao filho, que gravou todo o reencontro numa fita cassete, Gonzagão permite uma sessão de terapia com Gonzaguinha, que passa a entender por que foi abandonado, quem era sua mãe e toda a sua história de vida. A fita foi o ponto de partida escolhido por Breno para contar a história dos dois, separados pela vida, mas unidos pela música. Imagens de arquivo, entre elas as da turnê Vida de Viajante, de 1981 - primeira vez em que pai e filho se encontraram no palco - fora utilizadas na montagem. 



A adolescência do Rei - quando aprendeu a tocar sanfona na cidade de Exu, sertão do Cariri, onde nasceu – é um dos períodos determinantes de sua história explorados no filme. O alistamento no exército na década de 1930 para fugir de um amor proibido com a filha de um coronel e a viagem para o Rio de Janeiro em busca do reconhecimento artístico também compõem o recorte escolhido por Breno.

O filme também mostra a luta para aproximar a música nordestina - cercada de preconceitos - do povo brasileiro, que teve seu momento decisivo quando Luiz Gonzaga se apresentou no programa de rádio de Ary Barroso. Tudo isso deixando de lado aquilo que lhe era familiar, inclusive o filho, mas sempre remontando a sua origem e transmitindo-a para o povo.  Aliás, Gonzaga fazia questão de tocar em locais abertos para o público que não podia pagar.

Em mais um trabalho, Breno se utiliza da música para contar uma história brasileira. Porém, na cinebiografia, a obra de Gonzaga deixa de ser o ponto central da história e torna-se coadjuvante, dando o lugar de protagonista à intimidade do biografado para com o público. E nem apenas como trilha sonora funciona, no filme, a música do artista. Ela é, sobretudo, parte do roteiro, na medida em que informa algo que não se vê na tela e ajuda a contar a história.



Interpretado em três gerações por Land Vieira (adolescente), Chambinho do Acordeon (fase adulta) e Adélio Lima (depois dos 50 anos), Luiz Gonzaga ganha sustentação na tela não só pela semelhança física com os atores – sobretudo Chambinho e Adélio – mas pela essência nordestina extraída dos intérpretes, que souberam transmitir a verdade gonzagueana.



A atuação de Nanda Costa como Odaléia, primeira esposa de Luiz Gonzaga e mãe de Gonzaguinha, mesmo que curta, não passa despercebida. Familiarizada com o cinema, Nanda ganha destaque pela dedicação à personagem, que se firma como uma das principais atenções da obra na fase em que o universo familiar começa a ganhar contornos na vida de Gonzaga.

Gonzaga - De Pai pra Filho é um eco para o Brasil se ver como relação humana, o que faz a obra ter um alcance popular devido ao drama familiar. Cara a cara com a tela, não é difícil perceber que cada um de nós tem muito de Luiz Gonzaga.



O longa, baseado no livro Gonzaguinha e Gonzagão – uma história brasileira de Regina Echeverria, entra em cartaz em todo o Brasil nesta sexta-feira (26). No Recife, a estreia ocupa sei salas nos cinemas UCI Tacaruna, Casa Forte e Recife, além do Box Cinema.

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