Os trabalhadores do primeiro e terceiro turnos aprovaram a proposta de licença remunerada para 940 metalúrgicos e a abertura de um programa de demissão voluntária (PDV) para outros 900, considerados excedentes na unidade da General Motors de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a 90 km de São Paulo.
A proposta apresentada na reunião do último sábado (4), entre a direção da GM e Sindicato dos Metalúrgicos, sob supervisão dos governos municipal, estadual e federal, foi aprovada na manhã desta terça-feira por quase todos os 3,5 mil trabalhadores presentes na assembleia.
##RECOMENDA##Apesar da aprovação do acordo e a suspensão do plano da empresa para uma demissão em massa, a solução não aliviou a pressão sobre os trabalhadores.
"Desde janeiro que estamos tensos, só se ouve falar em demissão lá dentro", comentou o metalúrgico Carlos Roberto Chaves, que trabalha na GM há 32 anos na área de injeção de plásticos. "Só vai aprovar por conta da pressão do momento", criticou.
Para Carlos Macedo, montador há 16 anos no setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA), que compôs a chapa de oposição a atual diretoria do sindicato, foi devido à falta de opção que o acordo foi aprovado. "Essa não é a melhor proposta para nós, perdemos muito tempo e agora ficamos com a faca no pescoço", comentou.
O medo das demissões permanece entre os trabalhadores. "Só mudou a forma da saída, não vão reverter essas demissões", criticou o montador Agnaldo José de Paula. "Agora teremos um novo PDF, programa de demissão forçada", ironizou. Em sua opinião, a pressão deve aumentar. "Agora vem a chefia pressionar mais".
Para os sindicalistas, a aprovação foi a melhor decisão dos trabalhadores. "Isso é fruto da luta, agora pretendemos reverter (a demissão dos) 940 do lay-off", comentou Luiz Carlos Prates, o Mancha.
A proposta foi aprovada depois de uma hora de apresentação feita pelos sindicalistas, o que casou o atraso de uma hora e meia na entrada dos trabalhadores do primeiro turno. No período da tarde está prevista uma segunda assembleia, para os trabalhadores do segundo turno.
Desde as 5h da manhã os sindicalistas marcavam presença na portaria 2 da GM. Antes da votação, músicas de rock foram tocadas até a saída dos trabalhadores do terceiro turno. Mesmo com a aprovação, muitos trabalhadores continuaram afastados do carro de som, não atendendo ao pedido dos sindicalistas para ficarem mais próximos.
Excesso
A GM aponta necessidade de melhorar a condição estrutural na unidade de São José dos Campos, considerada a de maior custo entre todas as unidades da montadora no País, para torná-la competitiva. Segundo o diretor de relações institucionais, Luiz Moan, o excedente atualmente é de 1.840 trabalhadores.
"Se não fizermos investimentos de modernização nas fábricas e produtos, a tendência é morrer. Não achamos justo, por falta de acordo com o sindicato, que a cidade perca o complexo", disse Moan, durante coletiva à imprensa no último sábado.
O complexo industrial de São José dos Campos abriga oito fábricas. Até o fim o ano, a unidade deve começar a produzir um novo modelo na mesma linha de montagem da nova S10, de veículos comerciais leves. O último modelo a ser produzido no MVA, o Classic, teve sua produção limitada a 20 carros por hora, operando em turno único, e ela deve acabar em 30 de novembro, quando vence o período de suspensão dos contratos de trabalho de 940 metalúrgicos.
No último PDV na unidade, entre junho e julho, 356 trabalhadores deixaram a empresa. Somadas as últimas demissões com a projeção dos excedentes, somente no segundo semestre a GM deverá dispensar aproximadamente 30% do seu pessoal no Vale do Paraíba, fechando 2012 com pouco mais de 5 mil funcionários, ante ao efetivo inicial de 7.800 trabalhadores.
Em 60 dias, GM e sindicato discutirão estratégias para a redução de salários, banco de horas e jornadas flexíveis. Havendo acordo, a direção da montadora se compromete a discutir investimentos na unidade, que seria tratada como prioritária para novos projetos.