[@#galeria#@]
Um recente levantamento elaborado pelo jornal Folha de São Paulo em parceria com o Instituto Datafolha apontou a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) como uma das 10 melhores universidades brasileiras. A instituição ocupa a 10ª posição, em um levantamento que analisou 191 universidades e 41 faculdades ou centros universitários. No entanto, na semana da pessoa com deficiência, a universidade não tem muitos motivos para comemorar, segundo relatos de professores e alunos que frequentam a universidade diariamente.
##RECOMENDA##
O professor efetivo de educação inclusiva da UFPE, Francisco José Lima, 48 anos, pessoa cega em decorrência de glaucoma congênito, não poupa críticas à falta de acessibilidade e respeito para com os alunos e educadores da instituição. Descumprimentos das leis que versam sobre acessibilidade são relatados pelo professor paulista, erradicado no Recife há 10 anos, mesmo tempo que trabalha na Federal. As queixas são inúmeras. Entre elas, degraus irregulares (ora mais altos, ora mais baixos) e falta de sinalização adequada nas escadas, falhas que aumentam os riscos de acidentes, principalmente quando são enceradas ou estão empoeiradas e nos dias de chuva. Ele também reclama da ausência de rampas e da existência de plataformas elevatórias que “nunca funcionam”, estruturas que facilitariam a acessibilidade dos cadeirantes, cegos e pessoas de baixa visão ao piso superior da universidade.
O professor também questiona a aplicação errada dos pisos táteis, a sinalização visual ineficiente e relata que os banheiros do Centro de Educação (CE) não estão em acordo com as normas técnicas.
Francisco Lima revela que, enquanto professor com deficiência, sente na pele o ônus da falta de acessibilidade. “Galhos de árvore no rosto, torções de pé nas calçadas, golpes na coluna por desníveis não sinalizados, frustração no acesso a informações que me seriam úteis, prejuízo acadêmico e econômico por razão de inacessibilidade aos editais e formulários disponibilizados. São editais que, por exemplo, tratam sobre progressão profissional”, explica. Sem falar sobre o assédio moral por parte de meus pares, quando tento reivindicar direitos de acessibilidade e riem na minha cara, enquanto me negam os meus direitos”, desabafa.
Os casos de desrespeito às leis relatados pelo professor foram constados pela reportagem do LeiaJá, que, enquanto observava o quantitativo de vagas para pessoas idosas e com deficiência, flagrou um taxista parar em uma vaga das duas vagas reservadas. A passageira não tinha nenhuma deficiência.
Para o aluno do 3º de pedagogia, Luiz Fernando de Bezerra, 24, a UPFE não está bem preparada para receber pessoas com deficiência, especialmente visual e física. O universitário, que aos 10 anos recebeu o diagnóstico de espondilite anquilosante (doença inflamatória crônica, incurável por enquanto, que afeta as articulações do esqueleto axial, especialmente as da coluna, quadris, joelhos e ombros), lamenta o fato de o elevador destinado às pessoas com deficiência do bloco que estuda (CE) não funcionar. “Devido à minha doença, não posso ficar fazendo grandes esforços, mas as salas dos professores e os centros de estudo ficam no piso superior e só temos acesso pelas escadas porque o elevador não funciona. E não é só esse elevador que não funciona, até o do CFChinho, que foi inaugurado há cerca de um ano, está parado”, comenta o rapaz em frente ao equipamento que está trancado e tem teias de aranha na parte interna.
A cada novo período, Luiz também se preocupa com a localidade que a sua turma será levada. “Até agora a minha turma teve aula no piso inferior do prédio, mas se tiver que ir para as salas da parte superior do prédio será complicado para mim, pois não posso ficar subindo escadas sempre”, relata. O universitário ainda comenta as dificuldades que enfrenta ao passar pelas catracas que dão acesso a entrada da UFPE. “Tem dias que é complicado para eu passar nelas e não vejo necessidade que elas existam. Para um cadeirante então é impossível passar por essas catracas. Para eles, a única opção é entrar pela reitoria, única entrada que não tem catracas”, diz Luiz.
Na parte pedagógica, a falha fica por conta da ausência de tradutor de Libras para atender os alunos que têm deficiência auditiva. No edital de contratação de novos professores, não está listado profissional da área. “Além disso, há poucos livros em Braille e não existe uma máquina para produzir livros em Braille. O balcão da biblioteca é alto demais, o que dificulta os alunos cadeirantes, que têm que ficar gritando para um funcionário venha lhes atender”, lamentou o universitário.
Segundo o professor Francisco, as queixas feitas à nossa reportagem foram transmitidas a universidade ao longo dos 10 anos que nela trabalha. Porém, o professor avalia que a UFPE, “descumpre descarada e vergonhosamente a lei, deixando ao trabalhador e demais pessoas com deficiência, que dessas acessibilidades necessitam, em situação de risco e frustração”.Sem obter sucesso nas solicitações encaminhadas à universidade, o professor procurou a Justiça Federal para que a UFPE ofereça igualdade de condições às pessoas com deficiência que nela trabalham e estudam. “O juiz de sobrenome Batista analisou e julgou favorável o meu pedido na sexta-feira 30 e a UFPE já deve ter sido notificada. Espero que cumpra com as determinações judiciais e que nós (deficientes) possamos ser atendidos de maneira isonômica”, comemorou o professor.
“Infelizmente a universidade tem muitas barreiras físicas e arquitetônicas que dificultam a acessibilidade das pessoas com deficiência. Apesar da UFPE promover muitas palestras que tratam sobre o tema, ela não está preparada para nos receber”, completou Luiz.
A reportagem do LeiaJá entrou em contato com a assessoria da UFPE, que ficou de responder sobre as demandas relatadas. No entanto, em outro momento afirmou que as respostas teriam que ser dadas pela Prefeitura da Universidade. A reportagem tentou entrar em contato, por telefone, com a prefeitura da UFPE, mas não conseguiu ser atendida.