Jair, Eduardo, Flávio e Carlos poderiam ser nomes comuns se não tivessem um sobrenome que remete a “polêmicas” e “poder” à vista de muitos: Bolsonaro. O clã da família começa pelo pai Jair Bolsonaro (PSC). Sua trajetória na política, para o bem ou para o mal, fala por si só: ele já cumpre o sétimo mandato na Câmara dos Deputados. Se isso já revela um pouco da influência do deputado, mais um fato surpreende: os mandatos que ele exerceu foram consecutivos, ou seja, passará 28 anos ininterruptos no cargo parlamentar.
O “poder de Jair Bolsonaro” o fez conseguir algo comum entre políticos: ingressar os filhos na carreira. Sendo assim, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC), 33 anos, também exerce o mesmo cargo do pai e se encontra em seu primeiro mandato na Câmara. Além disso, Eduardo segue um perfil parecido com o do pai: polêmico, posturas duras e não se intimida ao falar sobre temas diversos.
##RECOMENDA##Por sua vez, Flávio Bolsonaro (PSC), aos 36 anos, segue o mesmo caminho: é deputado estadual pelo estado do Rio de Janeiro, desde 2003, e foi eleito para o quarto mandato em 2014. Um pouco mais discreto, ele também é de comentar e defender o pai, no entanto, de uma forma mais ponderada. Carlos Bolsonaro (PP), o menos polêmico, é vereador do Rio de Janeiro, mas aos 34 anos, já exerce o quinto mandato. Em 2016, Carlos foi o vereador mais votado entre os concorrentes.
O “crescimento” da família, mais especificamente do pai, provavelmente, o levará a um patamar sonhado por muitos políticos e alcançado por poucos: o de disputar a presidência da República. Jair, em processo para ingressar em outro partido, já é pré-candidato, inclusive tem conseguido posições de destaques nas pesquisas eleitorais que têm sido divulgadas. Nas últimas, até mesmo, chegou a empatar e passar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro, recentemente, também chegou a cogitar deixar o país, caso não vença a eleição de 2018. “No meu entender, se tivermos em 2019 um governo que seja do PT, PSDB ou do PMDB, acho que vai ser difícil eu pensar em permanecer no Brasil porque a questão ideológica é tão ou mais grave do que a corrupção”, disse.
Novidade ou retrocesso?
Parte da população está dividida quanto à opinião sobre a família Bolsonaro. Um grupo acredita que, por exemplo, caso alcance a presidência, Jair Bolsonaro irá “colocar ordem” no país. Sua imagem ainda está muito atrelada a isso por ser militar da reserva formado na respeitada e disputada Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), localizada no Rio de Janeiro, mais precisamente no município de Resende.
Já outros justificam o crescimento de Jair Bolsonaro como uma forma de “protesto” devido aos escândalos de corrupção que tem tomado o país. O possível concorrente de Bolsonaro, na disputa do próximo ano, o ex-presidente Lula chegou a dizer que ele é fruto do analfabetismo político.
“Essa figura [Bolsonaro], no fundo, é resultado do analfabetismo político no Brasil. Você passa a compreender que, fora da política, você vai encontrar um cara que é diferente e que pode resolver, ou um político grotesco como é essa figura, que ofende as mulheres, que ofende negros. É um cidadão que não tem o mínimo de respeito com as pessoas. O Brasil tem que negar isso”, disparou o líder petista.
Crescimento em um sistema desgastado
A doutora em Ciência Política Priscila Lapa explica que a evidência de família Bolsonaro justifica-se pela atual crise de representatividade no sistema político, no qual o modelo se desgastou. “As pessoas não estão com crenças em partidos, não estão com crenças em instituições, pelo contrário as pessoas estão achando que todos esses têm contas a pagar, que estão envolvidos de alguma forma em escândalos de corrupção e, sobretudo são incapazes de retirar o país da crise. Há uma visão de que todos estão, de alguma forma, envolvidos e piorando a situação do que retirando o país de uma situação de crise”.
Dessa forma, Lapa destaca que essa força bolsonariana desperta, entre o segmento conservador, a capacidade de resgatar a esperança do eleitor e de trazer uma proposta concreta de retirar o país dessa situação. “Eu acho que ele tem capitalizado votos, é uma liderança polêmica, mas que faz um discurso voltado para um segmento do eleitorado mais conservador, que sempre existiu e que nos últimos tempos está mais evidente. Esse modelo de pessoas que têm valores mais conservadores nunca deixou de existir. Em alguns momentos eles ganham mais expressão política ou menos. Vivemos um momento do ressurgimento desses valores em razão dessa descrença”.
A cientista diz que o deputado Jair Bolsonaro consegue fazer uma boa protagonização nesse contexto. “Há uma disponibilidade na sociedade de aceitar esse tipo de discurso porque ele gera a confiança do eleitor. Bolsonaro consegue causar no eleitor a sensação de que é uma boa aposta e tem uma certa coerência no que ele está discursando com a história política dele e com o partido com o qual é filiado. Identificam nele a última esperança de botar moral. Ele puxa pela questão da moralidade, o que tem conquistado a atenção porque as pessoas estão muito desprovidas de pessoas que sejam exemplos dessa moralidade, mas de fato é um voto muito concentrado nesse segmento”.
No entanto, ela destaca que um dos elementos que mais enfraquece Bolsonaro, caso concorra à presidência do país na eleição de 2018, é esse discurso voltado mais para um segmento da sociedade. “É um voto concentrado. Para uma eleição majoritária, ele precisa ter uma visão mais ampla que represente o interesse de mais de um segmento social. Não é um discurso majoritário”.
“Bolsonaro só cresce se fizer aliança. Ele não tem a capacidade de vencer sozinho. Eu acho que só cresce se também consiga trazer forças não tão conservadoras e uma boa plataforma para a eleição. Acho que a eleição mais uma vez vai ser decidida pela questão da economia. Temos uma crise moral esse viés moral pode desequilibrar, mas não vence sozinho. A variável decisiva vai continuar sendo a economia. Se as pessoas perceberam que o candidato tem capacidade de reverter a crise, elas vão apostar nesse candidato e ele não tem esse discurso, ele não passa essa segurança”, concluiu.
Posturas agressivas
Os Bolsonaros também, muitas vezes, são condenados por posturas agressivas. Um dos maiores casos envolvendo Jair remete ao episódio no qual ele declarou que a deputada federal Maria do Rosário (PT) não merecia ser estuprada porque “era muito feia”. Jair chegou chamar a parlamentar de “vagabunda”.
Eduardo também não é de ficar calado. Nesta semana, ao tentar defender o seu pai, em uma confusão que iniciou por uma invasão feita por criminosos nas redes sociais do cantor Tico Santa Cruz, Eduardo, o parlamentar revidou. Entre os comentários, alguns com o tom elevado: “Se quiser dizer o que um deputado deve fazer, candidate-se e mostre que faz melhor porque quando nós vimos na Câmara você só botou dois machos para se beijar”.
Já Flávio já deixou um recado aos políticos dizendo que nem ele, nem tampouco os irmãos e o pai queriam se misturar. “Tudo o que a gente quer é não se misturar com as pessoas que estão fazendo aí esse tipo de política. Esse teatro lamentável. Alguns deputados podem até ter votado em função da governabilidade, acreditando, mas a massa ali votou em troca de alguma coisa”, chegou a dizer a respeito da votação sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB).
Bolsonaro quando chegou em Brasília, para cumprir seu primeiro mandato, tinha o foco maior de atender aos interesses dos militares, que foi a sua primeira base eleitoral. Com o tempo foi passando a consolidar posições mais fortes em relação à segurança pública, homossexualidade e até mesmo já disse ser contra as cotas. Eduardo Bolsonaro, recentemente, foi até o Supremo Tribunal Federal (STF), junto a outros parlamentares e delegados para impetrar uma ADO – Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – para garantir o acesso à arma de fogo ao cidadão, já defendido pelo pai.