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Salas de aula cheias, estudantes atentos aos conteúdos, dinâmicas de classe e outras atividades há meses não são mais realidade na vida dos estudantes e professores brasileiros. Mas isso não significa que a rotina, sobretudo dos docentes, está mais tranquila. Muitas escolas adaptaram seu modelo de ensino ao remoto e, hoje, eles precisam dar conta do cronograma de aulas de uma forma totalmente nova, em meio ao crítico cenário da pandemia do novo coronavírus. 

O Brasil, segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), abriga mais de 2,5 milhões de professores. A maior parte deles está ensinando na educação básica - mais ou menos 2,2 milhões -, enquanto o restante encontra-se no ensino superior.

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A maioria dos docentes tem entre 30 e 39 anos. As mulheres, por sua vez, ocupam 70% da categoria. As estatísticas mostram apenas números daqueles que são fundamentais na vida e na construção profissional - e até mesmo pessoal - de qualquer pessoa.

Os docentes são os que acolhem dúvidas, esclarecem, ensinam e, por muitas vezes, atuam junto à família no processo de construção do ser humano. Mesmo assim, a categoria reclama constantemente do sucateamento da profissão. No Japão, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor. Isso se explica pelo fato de que os japoneses acreditam que onde não há docentes, não podem haver imperadores. Mesmo não sendo uma sabedoria brasileira, o costume oriental mostra muito do valor desses profissionais da educação.

Seria uma bela realidade para o Brasil, mas existe um abismo cultural que, de certa forma, tolhe a valorização desses profissionais. Com a retomada gradual das aulas nos estados brasileiros, muitos professores decretaram greves na categoria e se posicionam ainda contra as medidas de volta às aulas, garantindo que o convívio contínuo pode fazer com que os próprios docentes, assim como os estudantes, sejam contaminados pela Covid-19.

Por isso, o Dia dos Professores, comemorado nesta quinta-feira (15), em todo o Brasil, tem um gosto diferente dos demais. Ante os desafios impostos pelos efeitos da Covid-19, os educadores, acostumados a propagar conhecimento, agora tiveram que enfrentar mudanças e abraçar aprendizados para se adequarem ao novo modelo do mercado educacional.

E para marcar a data, o LeiaJá publicao especial “Lições", que busca retratar os aprendizados, as diversas formas de empenho, trabalho, dificuldades e até mesmo as alegrias vividas por esses profissionais tão importantes e que marcam a vida de tantas pessoas, durante a pandemia do novo coronavírus. Confira todas as reportagens:

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“Continuamos aprendendo, pois não foi uma escolha. Foi necessidade”. É com essa afirmação que o professor de ciências e biologia André Luiz Vitorino de Souza, 52 anos, explica como tem sido sua rotina profissional com a chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Ele, que faz parte dos 83,2% dos docentes com licenciatura por todo o Brasil, teve que se reinventar para continuar exercendo a profissão conforme a formação acadêmica. Os dados são do Censo Escolar da Educação Básica 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Nesta quinta-feira, 15 de outubro de 2020, o Dia do Professor é celebrado diante de uma pandemia. Para exaltar a figura dos educadores, a série “Lições” traz, agora, reportagem sobre como professores estão lidando com o processo de aulas remotas e como isso se diferencia do ensino a distância, o EAD.

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Trajetória e o “novo normal”

O ano de 2020 chegou exigindo que estudantes e professores se adaptem ao “novo normal” na educação, em que escolas tiveram que suspender aulas presenciais no mês de março. O motivo é conhecido: o período pandêmico carregou essas pessoas das salas de aulas físicas e as colocaram em salas de aulas virtuais, com as chamadas aulas remotas.

No entanto, antes de mais nada, o que são aulas remotas? De acordo com a com a especialista em psicopedagogia Joice Nascimento da Hora, trata-se de “uma metodologia de ensino de cunho emergencial”. Ou seja, acontece de forma síncrona ou, a de forma mais simples, ao mesmo tempo com o objetivo de atender às demandas geradas com o período pandêmico.

Essa metodologia é diferente da modalidade de “Ensino à Distância” ou EAD, como é mais conhecido e consolidado pelo Ministério da Educação (MEC). Neste caso, a mediação pedagógica não ocorre ao mesmo tempo em que é feita, mas há possibilidade do estudante consultar apoio aos professores que ministram aula nesse modelo. 

Partindo desse ponto, podemos entender melhor os desafios enfrentados por alguns docentes -  como André Luiz, que também é especialista em educação ambiental -, que tiveram que aprender novas lições para a vida profissional. “Com a chegada da pandemia, as aulas passaram a ser todas remotas e tivemos que aprender mesmo fazendo, tentando, acertando, e errando”, afirma o professor. “Mas creio que aprendemos e continuamos aprendendo”, conclui, em tom firme.

Ao falar sobre sua trajetória, André relembra que começou “ministrando aulas como estagiário na prefeitura do Recife e Estado, em 1993 passei no concurso do estado de Pernambuco, onde estou até então. Desde 1994 ministro aulas em escolas particulares de Recife, Olinda, Paulista, Caruaru e outras [cidades], como também em pré-vestibulares”, rememorou o docente.

Ao longo de 32 anos de profissão, André relata que essa foi uma das mudanças de rotina mais significativas em sua carreira. Além disso, o professor de biologia salienta que hoje não tem maiores dificuldades, "mas no início foi aprender a mexer nessa tecnologia”. 

Apesar de ter superado parte dos contratempos, a sensação de cansaço é inegável, pois o professor ainda produz aulas que são gravadas todos os dias e ficam disponíveis para revisão dos alunos e alunas. “A preparação das aulas remotas demanda muito tempo, e durante uma aula remota se aborda bem mais conteúdos”, detalha André. “São aulas bastante cansativas”, argumenta.

Há dias em que o docente trabalha mais de 12 horas por dia, conforme explica André durante entrevista concedida por telefone ao LeiaJá. Por outro lado, ele afirma que não existe cobrança excessiva por parte dos donos de escolas e secretarias de educação. "As cobranças são normais”, finaliza. 

Rendimento pela web

Em Pernambuco, há mais de 93 mil professores atuantes na educação básica - que vai do ensino infantil ao médio, de acordo com último Censo Escolar, publicado pelo IBGE. Esse quantitativo está distribuído por todo o Estado, com o objetivo de atender mais de 1,9 milhão de estudantes matriculados, segundo o mesmo levamento.

Podemos ver uma disparidade entres os dados, em relação a oferta de profissionais e a demanda, que seriam os alunos a dar conta. Em análise a esse contexto, e trazendo para a sua realidade, o professor observa que “a participação dos alunos ao meu ver não é boa, principalmente na rede pública”. Enquanto que “na rede particular, [os estudantes] participam mais, pois são acompanhados”, declarou.

No entanto, mesmo com essas diferenças “no geral os rendimentos baixaram muito”, em comparação com as atividades presenciais antes da pandemia. Para André, “o que me dá segurança em fazer [as aulas no modelo remoto] é o domínio dos conteúdos que adquiri com o passar dos anos”, expressou com alegria. 

Agora, outras ferramentas são utilizadas para ensinar (Foto: Reprodução/Instagram)

Proximidade virtual

Entre aulas gravadas e on-line, o professor aprende uma nova forma de ensinar e manter os alunos engajados nos preparativos para avaliações semestrais ou o tão esperado Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que será realizado nos meses de janeiro e fevereiro de 2021.

Ele sempre aproveita os momentos para demarcar sua presença na construção dos saberes e compartilhar os mais diversos sentimentos, assim como também faz em suas redes sociais.

A psicóloga Márcia Karine, comenta que o papel do educador no sentido emocional tornou-se ainda mais desafiador. “Percebemos que os alunos adoram o movimento de estarem perto, mesmo longe, então fortalecer esses vínculos tornou-se a chave para o sucesso das aulas”, explica a psicóloga.

“O professor é o responsável por transmitir esse conhecimento, esse conteúdo, então permitir que seu alunos participem, incentivar que eles leiam durante as aulas, que apresentem trabalho, tudo isso ajuda a estreitar os laços que foram cortados com a pandemia”, complementa.

Esbarrando nessas outras possibilidades para manter laços com os alunos, André pontua há uma ebulição de sentimentos envolvidos. “Lamento muito que tudo isso tenha acontecido, pandemia, mortes, desempregos, caos na saúde, na educação, e na economia”, comenta. Ele ainda observa que os alunos e alunas “são muito tecnológicos, mas não para estudar”, pois “estudar no nosso país é um desafio a ser superado”, conclui.

Além da falta de familiaridade com os recursos tecnológicos voltados para estudar, os pernambucanos passam por outro drama ainda mais significativo. Em levantamento do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi constatado que 908 mil residências do Estado não têm acesso a internet, por não saber usar ou por não possuir condições financeiras para usufruir do serviço. A pesquisa também informa que há dificuldade de acesso a equipamentos - como notebook e smartphone - para assistir às aulas virtuais, sobretudo para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Após o expediente

Saindo um pouco da sala de aula e convívio com outros docentes, que em parte compartilham dos mesmos sentimentos relatados durante a reportagem, vamos à casa do nosso entrevistado. Morador do bairro das Graças, na Zonna Norte do Recife, André diz que entre as atividades profissionais e a vida pessoal, encontra caminhos que possam o ajudar a manter a saúde física e mental.

“Me cuido muito, mesmo durante a pandemia, venho mantendo uma higienização mental e fazendo exercícios físicos, não todos os dias mas fazendo”, disse. Ele admite que tem “uma personalidade forte” e “determinada”, que um coloca no curso dos seus objetivos como educador.  “Estou sempre positivamente para frente, assim a parte mental se mantém”, declara.

Ele também reforçou que a situação atual, “não interferiu em minha relação familiar, continuo o mesmo com os membros de minha família”, afirma. A realidade do professor de biologia André Luiz, pode ser facilmente confundida com a dinâmica profissional de outros docentes, assim como ele mesmo comentou.

Reportagem integra o especial "Lições", produzido pelo LeiaJá. O trabalho traz histórias sobre os aprendizados dos professores em meio aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Veja, a seguir, as demais reportagens:

Especial Lições retrata rotina de professores na pandemia

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Professores empreendedores e os desafios da pandemia

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