O homeschooling, ou educação domiciliar, em português, trata-se de uma modalidade educacional realizada em casa, e não em uma instituição de ensino. A proposta, embora muito popular em outros países, ainda é um tema que gera controvérsias na população brasileira. Segundo pesquisa feita pelo Cesop-Unicamp sob a coordenação do Cenpec, cerca de 78,5% dos brasileiros discordam de pais possuírem o direito de tirar os filhos da escola para ensiná-los em casa - 62,5% totalmente, e 16% em parte.
Por outro lado, segundo o Ministério da Educação (MEC), 35 mil famílias praticam o homeschooling no Brasil. A prática ainda é considerada ilegal no País por não haver uma legislação que o regule, no entanto, o ensino domiciliar é o principal projeto para a área da educação encabeçado pelo governo, que quer regulamentá-lo o quanto antes, tornando-o uma opção respaldada por lei.
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Para a jornalista Priscilla Lima, pesquisadora sobre o assunto, os motivos para os pais adotarem o ensino domiciliar são inúmeros. “Crianças com dificuldades de aprendizagem ou que sofrem com bullying ou violência. Pais que se mudaram para locais distantes de grandes centros, onde o acesso a escolas é mais difícil ou mesmo que consideram que há defasagens estruturais no modelo de ensino ou que não concordam com a ideologia ensinada em sala de aula”, reflete, segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa.
De acordo com a pesquisadora científica do conhecimento e PHD em psicanálise, Carla Dendasck, o mundo está passando por uma fase social complicada em que está cada vez mais difícil o respeito às diferenças de realidades das famílias e que isso é necessário para se discutir o homeschooling sem ideologias pré concebidas.
“Muitos pais alegam que o sistema escolar atual está longe de valorizar as aptidões individuais de cada criança e se questionam como ajudá-las a desenvolver o máximo potencial. Se um jovem tem notadamente habilidades artísticas, que não estão relacionadas ao conteúdo curricular de matemática, ou se uma criança é um matemático e não tem interesse por literatura, eles deveriam aproveitar o tempo aprimorando o dom que já possuem em vez de aprender disciplinas para as quais não tem aptidão. Sem contar a baixa qualidade das escolas e a falta de preparo de muitos professores”, pondera Dendasck, em nota.
Para a especialista, também é importante considerar que hoje muitas faculdades já não exigem mais o conteúdo de vestibular antigo, inclusive valorizam outras habilidades como a capacidade de redigir uma boa redação ou selecionam candidatos que tiveram boas notas no Enem, por exemplo. “Contudo, as universidades federais ainda praticam o vestibular antigo, de nível superior restrito. Então, se o objetivo é que o jovem faça uma universidade federal, aí ele terá um vestibular mais tradicional e os pais têm que pensar nisso”, ressalta.
Sobre a diferença entre homeschooling e Ensino à Distância (EAD), Carla explica que o EAD é ministrado por professores e cabe aos pais o acompanhamento para verificar se o filho está estudando ou não. Já no homeschooling, os pais podem usar plataformas e até mesmo escolas que oferecem Ensino à Distância (EAD), mas não é uma exigência e sim, podem escolher quais metodologias vão usar para o ensino dos filhos, dentro dos parâmetros exigidos da educação.
Aos pais que gostam da ideia do ensino domiciliar, mas tem dúvidas se o método pode funcionar na prática, Dendasck sugere que uma alternativa é testar em um momento de férias escolares. “É interessante entrar em uma plataforma, procurar opções, testar dicas e técnicas de outros pais de homeschoolers, tanto para ver se a criança teria condições de aprender quanto se os próprios pais dariam conta de fazer esse acompanhamento. Porque educar é complicado. Então é muito importante verificar os prós e contras de cada realidade familiar”, diz.
Lima comenta que assim como a temática do homeschooling ganhou evidência na pandemia, outras questões sobre educação dos filhos e desafios da parentalidade vieram à tona. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), de junho de 2020 a junho de 2021, com 7 mil crianças e adolescentes de todo o país, mostrou que um em cada quatro apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos. E, segundo os especialistas, uma relação familiar saudável ajuda a proteger contra o desenvolvimento desses transtornos.