Tópicos | El Niño

O ano de 2024 deve ser ainda mais quente do que o de 2023, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), em consequência das mudanças climáticas em curso somadas à ocorrência do fenômeno El Niño, de aquecimento das águas do Pacífico, que se estenderá até meados do ano.

Novos recordes de temperatura foram batidos em muitos lugares do mundo - inclusive no Brasil - em meio às ondas de calor registradas em 2023. Segundo o novo relatório da OMM, agência da Organização das Nações Unidas (ONU), esses eventos representaram o início do colapso climático. Como o El Niño só deve se dissipar entre abril e junho de 2024, é possível esperar novas ondas de calor.

##RECOMENDA##

De acordo com relatório da OMM assinado pelo diretor-geral da organização Petteri Taalas, o principal fator por trás do aumento das temperaturas é o aquecimento global, mas o El Niño "tem impacto na temperatura global, especialmente no ano seguinte ao de sua formação, neste caso, 2024".

"Como resultado das temperaturas recordes da superfície e dos oceanos desde junho, 2023 deverá ser o ano mais quente já registrado até hoje, mas a previsão é de que o próximo ano seja ainda mais quente."

No Brasil, além das ondas de calor e elevação das temperaturas, o El Niño pode provocar alteração no regime de chuvas, causando novos eventos de secas e estiagens intensas, sobretudo no Nordeste e no Norte, e chuvas acima do normal no Sul, a exemplo do que já ocorreu em 2023. Além disso, incêndios florestais no Cerrado e na Amazônia podem ocorrer com mais frequência.

Municípios atingidos

Por causa do fenômeno, em 2023, mais da metade dos 5.568 municípios brasileiros foi afetada por algum evento climático extremo, como tempestades, enchentes e secas. Segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, 2.797 municípios foram reconhecidos em situação de emergência ou estado de calamidade pública. Ao todo, 14.541.438 pessoas foram afetadas e R$ 1,4 bilhão foram gastos na contenção de danos.

O início do ano foi marcado por chuvas intensas em inundações no litoral de São Paulo, que deixaram 64 mortos e resultaram na interdição da Rodovia Rio-Santos. Ciclones extratropicais atingiram a região Sul do País em junho, deixando 49 mortos e mais de cem municípios afetados, sobretudo no Rio Grande do Sul. Também no Rio Grande do Sul, uma forte estiagem levou à situação de emergência em 252 municípios. Na região Norte, 100 municípios registraram escassez hídrica devido à seca histórica.

O aumento da temperatura do planeta deve ultrapassar a simbólica marca de 1,5ºC acima da média registrada antes da Revolução Industrial já a partir de 2024. Em 2023, marcado por ondas de calor e vários recordes de temperatura, a média global ficou 1,4ºC acima da marca pré-industrial. Pelo Acordo de Paris, de 2015, os países signatários se comprometeram a tentar manter o aumento das temperaturas pelas mudanças climáticas abaixo de 1,5ºC. Cientistas vêm alertando que um aumento superior a 1,5ºC deflagraria uma cascata de impactos catastróficos para o planeta, potencialmente irreversíveis.

Segundo o alerta da OMM, a marca será alcançada pelo menos uma vez nos próximos cinco anos. Embora não seja ainda um aumento permanente, representa uma aceleração dos impactos humanos no sistema climático global e lança a humanidade em um "território desconhecido", segundo a agência da ONU.

Temperatura média

Segundo dados da OMM, o ano de 2023 será o mais quente já registrado, com um aumento médio de 1,4ºC, batendo os recordes anteriores, de 2016, com uma elevação de 1,29ºC, e 2020, com aumento de 1,27ºC.

"Não temos como fazer uma previsão exata, mas, se em 2024, teremos condições de El Niño durante parte do ano, temos que nos preparar", afirmou a climatologista Karina Lima, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Independentemente do El Niño, que é um fator que contribui, o aquecimento global é o fator principal e continua escalando. Sabemos que, em um mundo mais quente, a tendência geral é de aumento de frequência e intensidade de eventos extremos."

Já é verão no Brasil. Mais precisamente desde a 0h27 desta sexta-feira (22), quando a estação começou em todo o Hemisfério Sul. Depois de um ano marcado por ondas atípicas de calor, a previsão é de temperaturas acima da média histórica, segundo relatório climático produzido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Normalmente, o verão no país é marcado pela elevação de temperatura, dias mais longos do que as noites, chuvas fortes, descargas elétricas e ventos de intensidade moderada a forte. Devido ao fenômeno El Niño, que alterna a distribuição da temperatura da água no Oceano Pacífico, as alterações no clima devem ser mais intensas. No Brasil, os efeitos do El Niño podem se prolongar por toda a estação, que termina em 20 de março de 2024.

##RECOMENDA##

Entre os meses de janeiro e março, a Região Norte do país pode registrar calor com valores de 1ºC acima da média histórica. Em relação às chuvas, os estados do Acre, de Roraima, do Amapá e o sudoeste do Amazonas devem ter volumes próximos ou acima da média no trimestre. Outras regiões devem continuar enfrentando um período de seca. É o caso da maior parte do Amazonas, Pará, de Rondônia e do Tocantins.

A Região Nordeste também tem expectativa de temperatura acima da média, principalmente nos estados do Maranhão, Piauí e no norte da Bahia. Há previsão de chuva próxima ou abaixo da climatologia no centro-norte da região. Já no centro-sul, por causa do padrão de águas mais aquecidas do Atlântico Sul, podem ocorrer chuvas mais volumosas.

No Centro-Oeste, a tendência é de calor forte em todos os estados, com valores acima de 1ºC da média histórica. Também é esperada chuva próxima ou acima da média em praticamente toda a região, exceto no oeste de Mato Grosso, que deve ter volume ligeiramente abaixo da climatologia do trimestre.

Na Região Sudeste, as temperaturas devem ficar elevadas em todos os estados, com previsão de valores acima de 0,5ºC da média. A expectativa é que haja maior volume de chuva, principalmente em Minas Gerais, onde ela pode ser mais frequente e mais intensa.

No Sul, é esperado calor próximo ou ligeiramente acima do normal no Paraná, em Santa Catarina e no norte do Rio Grande do Sul. Nas demais áreas do último estado, possibilidade de valores na média ou abaixo dela. As chuvas devem ser mais intensas no Rio Grande do Sul, principalmente na parte sul do estado. Nas demais áreas da região, haverá chuvas irregulares, com totais próximos ou pouco abaixo da média.

Impactos na safra

O Inmet chama a atenção para os impactos do El Niño na safra de verão 2023/24. Nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia, a chuva ficou abaixo da média em outubro e novembro. Assim, os níveis de água do solo estão muito baixos, o que não favorece as fases iniciais dos cultivos de verão. A previsão é que os níveis continuem baixos nos próximos meses, com déficit hídrico e aumento da evapotranspiração devido às altas temperaturas.

No Brasil Central, houve elevação dos níveis de água no solo em algumas áreas, por causa do retorno da chuva nessa segunda quinzena de dezembro. Com exceção do norte de Minas Gerais, o cenário ficou favorável para a retomada do plantio de desenvolvimento dos cultivos de primeira safra.

Para a Região Sul, os volumes de chuva previstos devem manter elevados os níveis de água no solo. Mas a probabilidade de excedente hídrico é menor em algumas localidades. Com a diminuição da chuva em relação aos meses anteriores, a expectativa é de retomar a semeadura das culturas de primeira safra em regiões que estão com atraso.

O mês passado foi o outubro mais quente já registrado no planeta, chegando a uma série de cinco recordes mensais consecutivos, anunciou ontem o observatório europeu Copernicus, o que permite prever que 2023 será o ano mais quente já registrado em toda a história. Além disso, cientistas já preveem que as condições se mantenham em 2024 - e o El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do oceano, prossiga até o mês de abril.

Esses novos dados gerais reforçam os alertas dos cientistas antes da reunião de cúpula do clima, a COP-28 de Dubai, que começa no dia 30. "O sentimento de necessidade urgente de adotar medidas climáticas ambiciosas nunca foi tão forte", afirmou Samantha Burgess, vice-diretora do serviço de mudança climática do observatório Copernicus.

##RECOMENDA##

No mês passado, com média de 15,38ºC na superfície do planeta, o resultado superou em 0,4ºC o recorde anterior de outubro de 2019, segundo o Copernicus. A anomalia é "excepcional" para as temperaturas mundiais. Outubro de 2023 foi "1,7°C mais quente do que a média para o mês de outubro no período 1850-1900, antes da percepção dos efeitos das emissões de gases do efeito de estufa provocados pela atividade humana", acrescenta o observatório.

EL NIÑO

Outro relatório, divulgado ontem pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), aponta que o fenômeno El Niño, relacionado ao aumento nas temperaturas notado neste ano nos oceanos, deve perdurar até abril de 2024. Com isso, é muito provável que os termômetros disparem ainda mais neste final de ano e no ano que vem. A OMM afirma que o El Niño se desenvolveu rapidamente durante julho e agosto deste ano e atingiu força "moderada" em setembro - mês em que os termômetros chegaram a marcar 38ºC em São Paulo.

O fenômeno só chegou a uma consistência, de acordo com os registros de temperatura da superfície do mar e outros indicadores, em outubro. Por isso, a expectativa da organização é de que ele ainda não tenha atingido o auge.

"Provavelmente, atingirá o pico, como um evento forte, até janeiro. Há uma probabilidade de 90% de que persista durante o próximo inverno no sul do Hemisfério Norte (verão no Brasil e demais países do Hemisfério Sul)", afirma a OMM.

O El Niño ocorre em média a cada sete anos e normalmente dura de nove a 12 meses. É um padrão climático natural associado ao aquecimento da superfície do oceano Pacífico tropical central e oriental. No entanto, este ano, "ocorre no contexto de um clima que está sendo alterado pelas atividades humanas", diz a OMM.

Uma prova dessa alteração no ciclo comum é que os impactos do fenômeno na temperatura global ocorrem normalmente no ano seguinte ao seu desenvolvimento - neste caso, deveriam acontecer somente em 2024 -, mas, desde junho, o ano de 2023 tem caminhado para ser o mais quente já registrado.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Organização Mundial de Meteorologia (OMM), órgão das Nações Unidas (ONU), apontou que o El Niño deve durar até, pelo menos, abril de 2024. Na sua atualização, a entidade alertou que os efeitos do fenômeno climático devem impulsionar o aumento das temperaturas, o que tende a agravar eventos extremos, como ondas de calor, inundações e secas.

Além disso, a OMM disse que 2023 se encaminha para ser o ano mais quente já registrado, e que 2024 pode ter temperaturas ainda mais altas.

##RECOMENDA##

"Os efeitos do El Niño nas temperaturas globais normalmente se manifestam no ano seguinte ao seu desenvolvimento, neste caso em 2024. Mas, em virtude das temperaturas da superfície terrestre e marítima extremamente altas desde junho, 2023 está a caminho de ser o ano mais quente já registrado, e o próximo ano pode ser ainda mais quente. Isso se deve clara e inequivocamente à contribuição das crescentes concentrações de gases de efeito estufa, resultantes das atividades humanas", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

Anteriormente, 2016 foi o ano mais quente já registrado, por causa de uma "combinação perfeita" de um El Niño excepcionalmente forte e as mudanças climáticas, observou a Organização.

O El Niño se desenvolveu rapidamente durante julho e agosto e atingiu força moderada em setembro de 2023, provavelmente podendo atingir seu pico como um evento forte de novembro a janeiro de 2024, disse a OMM. "Há uma probabilidade de 90% de que ele persista durante o próximo inverno do Hemisfério Norte/verão do Hemisfério Sul", explicou.

Com base em padrões históricos e previsões de longo prazo atuais, espera-se que o fenômeno climático diminua gradualmente durante a próxima primavera no Hemisfério Norte, de acordo com a organização.

Diante do frio registrado neste último final de semana em São Paulo - no dia 17, o Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura capital registrou a média de temperaturas mínimas de 8,5°C, recorde em 2023 -, muita gente imaginou que o inverno será ainda mais frio do que costuma ser. Os meteorologistas, no entanto, apontam o contrário: a estação mais fria do ano, que vai começar exatamente às 11h58 desta quarta-feira (21) e se estende até as 3h50 do dia 23 de setembro, será menos fria do que a média.

O inverno não deve ser muito rigoroso no Brasil este ano, segundo as previsões climáticas. Em entrevista à Radio Eldorado nesta terça-feira (20), a meteorologista Maria Clara Sassaki, da Climatempo, explicou que a expectativa para uma estação menos gelada está associada às influências do fenômeno El Niño, que vai deixar a atmosfera mais aquecida e diminuir a frequência e a intensidade das ondas de frio no País - com a exceção da região Sul.

##RECOMENDA##

"Por incrível que pareça, apesar do frio que a gente sentiu nos últimos dias, o inverno deste ano não será tão rigoroso na maior parte do Brasil", afirmou Maria Clara. "Se comparar a temperatura média durante todos os meses de inverno de 2023, teremos, no final da estação, uma temperatura média acima do normal em todas as regiões do País. A única exceção será o Rio Grande do Sul, que deve registrar temperatura um pouco abaixo do normal", disse a meteorologista.

As frentes frias que sobem pelo Brasil, explica meteorologista, vão se estacionar sobre o Estados do Sul, e não devem ultrapassar os limites do Paraná para alcançar as regiões do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. "Vai ter geadas no Sul, mas as ondas de frio não têm força para chegar ao Sudeste", comentou. "Teremos ondas de frio, sim, mas elas serão de curta duração. Não teremos dias prolongados de temperaturas extremamente baixas, como abaixo dos 10 graus Celsius".

Isso também se refletirá no regime de chuvas durante a estação. O inverno, que se caracteriza por ser mais seco, deverá ser mais úmido, com chuvas acima da média no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

"Nesses três Estados, acontece o bloqueio de frentes frias, que acabam ficando posicionadas na região Sul do Brasil e, por isso, a chuva (nesta região) deve superar a média climatológica do País", comenta Maria Clara. "Agora, Sudeste, Centro-Oeste, Norte, Nordeste não chove mesmo, principalmente no interior do Brasil. Não tem previsão de chuvas significativas nestas regiões do Brasil", completou a especialista.

O inverno menos rigoroso previsto para este ano deve destoar dos três últimos, quando o Brasil sofreu as influência do fenômeno La Niña. "Em maio do ano passado, tivemos o dia mais gelado em várias cidades do centro-sul do Brasil. As ondas de frio são antecipadas em anos de La Niña e agora, quando temos o fenômeno do El Niño atuando, temos ondas de frio chegando mais tarde, com menor intensidade e com menor duração."

O El Niño se caracteriza pelo aumento anormal da temperatura da superfície do Oceano Pacífico, na região próxima à Linha do Equador. O La Niña é outro fenômeno climático, exatamente oposto ao El Niño: caracteriza-se pelo resfriamento anormal da temperatura desse mesmo oceano, também na região equatorial.O La Niña se instalou em 2020 e durou três anos, com um breve período de neutralidade em 2021. Terminou em fevereiro passado, como foi anunciado em março pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).

Em abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para a formação do El Niño, o que foi confirmado recentemente pelo mesmo NOAA. Durante a vigência desse fenômeno, as águas do oceano Pacífico ficam pelo menos 0,5°C mais quentes do que a média, o que impacta nas condições climáticas em várias regiões do mundo. Não é possível prever quanto tempo vai perdurar essa situação, mas modelos matemáticos usados por centros de pesquisa climática indicam uma probabilidade acima de 90% de permanência do El Niño durante todo o inverno, com chance de se prolongar até a primavera.

Meteorologistas preveem um El Niño forte este ano, o que, combinado com a aceleração do aquecimento global, deve levar a um recorde de temperaturas máximas já registradas no planeta Terra. O fenômeno, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, impacta o clima mundial, podendo causar furacões no Atlântico e ciclones no Pacífico. Ele teve início no último dia 8 e deve ir até agosto.

Um alerta da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), chama atenção para uma pesquisa publicada na revista Science que mostra danos econômicos de US$ 84 trilhões neste século, o equivalente a R$ 413 trilhões, mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas.

##RECOMENDA##

Esses prejuízos seriam oriundos da perda de safras motivada por secas extraordinárias e pela escalada de doenças tropicais, logo, a perspectiva ainda é pior pra países tropicais, como o Brasil.

Em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira, 12, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Cadu Yang comentou os impactos esperados para o El Niño de 2023. Confira:

Como você avalia o estudo publicado na Science sobre os impactos econômicos do El Niño? Eles podem chegar a essa proporção, de fato?

Infelizmente, nós já estamos prevendo situações extremas para os próximos anos, em função da perspectiva de que, depois de anos de La Niña, que no caso brasileiro representaram chuva em abundância, nós vamos viver o fenômeno do El Niño, que esse caracteriza por um aquecimento de águas extraordinário no Pacífico. Isso traz consequências sobre o clima em toda América do Sul - aliás, em todo o planeta -, o que significa, no nosso caso, uma probabilidade maior de eventos extremos de seca nas partes mais continentais.

Nós teremos um agravamento dos períodos de estiagem, mas também uma maior instabilidade, ou seja, uma maior possibilidade de eventos como inundações e alagamentos e, associado a isso, deslizamentos de terra, entre outros problemas dessa natureza. Além disso, teremos uma alteração na propagação de vetores de doenças tropicais, o que também está associado essa alteração no que podemos chamar de "normalidade climática".

O que esse valor, de mais de R$ 400 trilhões, representa para um País ou continente?

Eu trabalho bastante produzindo estatísticas como essa e quando a gente fala em um número dessa magnitude, estamos falando de uma ordem de grandeza. A leitura que se deve fazer é: preparem-se para grandes desastres, grandes eventos extremos que terão grandes consequências econômicas.

Nós temos hoje uma ocupação agrícola, em grande parte do território nacional, que depende muito de um regime adequado de chuvas. Por isso, uma alteração desse regime de chuvas trará consequências sobre essa produção. Mas é claro que, quando o evento ocorrer, a capacidade de adaptação ao evento é diferenciada e por isso eu acho que, mais importante do que o tamanho dessa magnitude, é a distribuição desse efeito, que tende a ser bastante assimétrica e concentrada nos indivíduos de maior fragilidade social.

Nós fizemos, há um tempo atrás, um estudo sobre o semiárido do nordestino em que pegamos os grandes eventos de seca na região e verificamos qual foi o impacto disso na produção agrícola, medindo pela perda de área que foi plantada e não foi colhida. O que identificamos é que, além dessa perda ser grande nos anos de escassez hídrica, ela se concentrou muito em culturas como milho e feijão, que são típicas do agricultor familiar de subsistência, enquanto a produção comercial irrigada sofreu muito menos. Ou seja, além do problema do tamanho, que vai ser grande, temos o problema da distribuição desigual.

Olhando para outra área, como a área dos desastres, os nossos estudos - apenas com eventos de chuva, sem considerar seca - feitos há dez anos atrás estimavam que as perdas no Brasil já estavam chegando a 2% do PIB. Só que essas perdas estão muito mais concentradas em comunidades que moram próximas a rios ou em áreas de encosta, que sofrem o risco de deslizamento. São pessoas que sabem do risco, mas não têm capacidade financeira de se deslocar e isso vai criando um efeito "bola de neve", trazendo consequências, por exemplo, para a prefeitura, já que ela vai ter que dar uma solução para esse desabrigado, vai ter que arcar com a reconstrução e com o próprio trabalho de resgate das vítimas.

Tudo isso tem um custo fiscal. Então, quando você imagina sistemicamente esses eventos extremos acontecendo com uma frequência maior e com mais intensidade, há impacto em diversas frentes. A princípio, o El Niño e as mudanças climáticas são tratados como elementos separados, mas um reforça o outro. Num contexto de aquecimento global, os efeitos de um El Niño serão amplificados e é por isso que a gente espera impactos sobre toda a sociedade brasileira.

Ainda que diretamente os afetados estejam numa determinada condição, a necessidade de lidar com o desastre vai trazer consequências, para a questão fiscal, para os preços - porque uma quebra de safra vai resultar na elevação do nível de preço - e por aí vai.

O que podemos fazer para nos prevenir, do ponto de vista econômico e social?

A gente precisa tratar com muito mais seriedade e urgência as questões ambientais e climáticas. A gente não pode se dar o luxo de o Congresso Nacional decretar que não existe mudança climática e que não existe é El Niño. As áreas protegidas, naturais, são áreas que garantem resiliência ao sistema. Se eu vou ter uma alteração no regime hídrico, eu preciso proteger a calha do rio. Como faço isso? Aumentando a área de floresta. Eu preciso proteger as encostas. Como? Aumentando a vegetação nativa e impedindo que as vegetações nativas existentes sejam removidas.

É preciso aumentar a nossa capacidade de lidar com eventos extremos por meio de soluções baseadas na natureza. É fundamental entender que a política ambiental é uma política de defesa para a nossa sociedade e para a nossa economia. E o que nós estamos vendo de ataque, de desmonte ambiental, que ocorreu com intensidade no governo anterior, mas que persiste em grupos hoje, em particular ligados ao Congresso Nacional, de pressionar ainda mais para remover essa proteção natural, é claramente uma política que vai trazer resultados ruins.

Por exemplo, a questão de água: como você impede novas grandes secas, lembrando, por exemplo, que São Paulo sofreu muito recentemente e teve que captar no volume morto? Você protege a água através do sistema de corpos hídricos que vão até o ponto de captação por meio da proteção da floresta. O imperador Dom Pedro II, por exemplo, sabia que no Rio de Janeiro - à época, capital - faltava água e o que ele fez? Ele mandou reflorestar a floresta da Tijuca para proteger o manancial que abastecia a cidade. Esse é um conhecimento antigo, não precisamos de grande ciência para saber que a proteção ambiental é a melhor maneira para prevenir desse tipo de desastre.

Acho que a principal mensagem é dar maior prioridade às questões ambientais, porque elas se referem essencialmente à defesa do ser humano, das nossas comunidades e das nossas atividades produtivas.

O que o governo tem feito de errado neste sentido?

Além do afrouxamento na Lei que trata do desmatamento da Mata Atlântica, que veio do Congresso e teve apenas um trecho vetado pelo presidente Lula, um outro mau exemplo de política que tá acontecendo é com relação às terras indígenas. As terras indígenas não pertencem aos indígenas, elas pertencem ao governo, são terras públicas, de todos nós e que têm uma característica muito importante: são terras com elevada taxa de conservação.

O porcentual de remanescente florestal em terras indígenas é mais alto até do que das unidades de conservação. Então, esse ataque que está sendo feito às terras indígenas é também um ataque aos serviços ecossistêmico que essas florestas estão protegendo. As populações indígenas, pela relação tradicional que têm com esses espaços, garantem essas áreas protegidas.

Se mantivermos essa visão de crescimento a qualquer custo, de que qualquer área que possamos transformar em pasto, transformar em área de cultivo, fazer uma hidrelétrica, será convertida, não sobrará resiliência para lidar com os eventos pelos quais a natureza já está cobrando a conta. E nós viveremos situações que cada vez mais dramáticas por causa das mudanças climáticas.

Uma elevação do nível da temperatura global acentua ainda mais os fenômenos de natureza cíclica, como El Niño e a La Niña, com consequências para as sociedades humanas que, como mostra o número, são de imensa magnitude. Isso vai afetar a todos nós e principalmente aqueles que são mais frágeis.

 

Você vê uma ação coordenada globalmente com possível protagonismo do Brasil?

Eu acho que, globalmente, nós temos sim que recuperar esse protagonismo. Teremos uma grande oportunidade com a COP, o principal evento do clima, que vai ocorrer em Belém do Pará. Isso vai trazer uma visibilidade importante, mas é importante lembrar que o nosso meio ambiente não é apenas na Amazônia. É importante a gente perceber que Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa, todos os biomas estão sofrendo. O Pantanal já teve uma redução de cerca de um terço na área alagada, ou seja, secou em um terço e a gente perdeu uma riqueza extraordinária com isso.

As ações precisam vir de todos, inclusive do setor privado. A gente tem uma série de possibilidades através do pagamento do serviço ambiental, com a possibilidade de criação de mercados regulados de crédito de carbono, que criam possibilidades de negócios a partir da conservação. Mas para isso é fundamental que a gente interrompa o ciclo da destruição e pare com essa ideia de que se tem petróleo, ele tem que ser extraído, não importa onde ele está, de que se tem um potencial hidrelétrico, tem que ser alterado a cara do rio, não importa o que eu vou fazer com essa energia. Essa visão de que não há uma finitude da nossa capacidade de ação tem trazido consequências muito ruins e a gente está percebendo isso já no dia a dia.

O estudo diz que o prejuízo calculado virá mesmo com o cumprimento das promessas de cortes de emissão de gases do efeito estufa. Isso significa que o problema pode ser ainda maior se elas não forem cumpridas?

Uma grande tragédia das questões climáticas é que o tempo em que o planeta responde é muito diferente do tempo das nossas ações. É mais ou menos como o processo de degelar uma geladeira: você abre a porta e ela não vai ter degelar imediatamente, ela vai perdendo temperatura aos poucos e isso vai ganhando um elemento gradativo.

Com o aumento da concentração de gás de efeito estufa que nós já colocamos na atmosfera, a temperatura vai aumentar de qualquer jeito. O que a gente está tentando fazer é reduzir o tamanho desse crescimento, que será percebido muito mais pela geração que ainda nem nasceu. A gente não está pensando aqui nem nos nossos filhos, mas sim nos netos que virão.

Tudo isso trará consequências para essas sociedades do futuro, em uma dimensão muito maior. Então, o que a gente tem que ter é o princípio da precaução. O problema é que a gente é muito focado no curto prazo e quando o efeito demora a ser percebido, nós o entendemos como inexistente e continuamos nesse frenesi de mudança climática.

No caso brasileiro, a principal fonte de mudança climática é o desmatamento, mas a segunda é a emissão de metano pela pecuária e a gente continua expandindo o setor como se isso não trouxesse consequências para o planeta. O mesmo vale para o consumo de combustível fóssil, em que a gente ainda acha que a exploração de petróleo vai ser a solução, mesmo na Amazônia.

A gente precisa deixar de ser contraditório e pensar no que será melhor no cenário de 50, 100, 150 anos. Nesse sentido, é fundamental que a gente tenha a participação de uma sociedade mais engajada, mais interessada e mais a par do que tá dizendo a ciência. A gente viveu um período no qual a ciência foi questionada, mas ela respondeu - se a gente não tivesse a ciência, a pandemia de covid-19 teria sido muito pior do que ela foi.

Estamos alertando que essas questões climáticas vão continuar no futuro se a gente não tomar uma presidência. E isso requer uma ação coordenada que envolve todos nós: os governos estaduais, federais, internacionais etc. As prefeituras, por exemplo, vão ser cada vez mais castigadas por esses fenômenos de natureza climática, porque o problema é essencialmente local, onde tem um deslizamento, uma inundação etc. Também como sociedade, tanto como sociedade civil, como sociedade empresarial, a gente tem que pensar que tipo de comprometimento a gente pode ter para que os problemas não sejam tão graves, pensando, principalmente, no futuro.

Voltando à questão das soluções baseadas na natureza, existem soluções que são simultaneamente de redução da concentração de gás de efeito estufa e de adaptação ao que a gente vai ver daqui para frente. A gente precisa introduzir essa palavra, adaptação, às mudanças climáticas. Como já está dito, a temperatura vai subir e os eventos climáticos acontecerão com mais frequência e o que a gente precisa fazer é se adaptar, se preparar para isso com um espaço adequado e soluções baseadas na natureza.

O último ciclo do El Niño (2014-2015) contribuiu para que um ano depois, em 2016, as temperaturas do planeta fossem as mais elevadas registradas, então neste ciclo os seus piores efeitos também poderiam ser sentidos com certo atraso, o que a OMM prevê que cheguem em 2024.

De acordo com uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Dartmouth (EUA), a atividade econômica global nas décadas seguintes ao fenômeno tem uma característica comum: o crescimento econômico desacelerado que se prolonga por mais de cinco anos. Países equatoriais como o Brasil, Equador e Indonésia perderam entre 5% a 19% de seus Produtos Internos Brutos (PIB) após o fenômeno registrado entre 1997 e 1998, diz a pesquisa.

##RECOMENDA##

"Nossos resultados sugerem que provavelmente haverá grande impacto econômico, que deprime o crescimento em países tropicais durante, potencialmente, até uma década", afirma o pesquisador Christopher Callahan, do Departamento de Geografia, que participou das análises. (Com agências internacionais).

Um El Niño antecipado já está oficialmente formado. Deve ser forte, bagunçar o clima em todo o mundo e dar a uma Terra já em aquecimento um pouco mais de calor, segundo anunciaram meteorologistas nesta quinta-feira (8). Nos Estados Unidos, a Administração Nacional de Atmosferas e Oceanos (NOAA, na sigla em inglês) lançou um alerta anunciando a formação do fenômeno climático. E ele deve ser bem diferente dos anteriores.

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, o que acaba tendo influência no clima mundial, com impactos na temporada de furacões no Atlântico e de ciclones no Pacífico. Neste ano, o El Niño se formou pelo menos um mês antes do que costuma acontecer, o que dá ao fenômeno um pouco mais de tempo para crescer. Com isso, segundo os especialistas, há 56% de chances de ser considerado forte e 25% de atingir proporções gigantescas, segundo afirma a cientista Michelle L´Heureux, responsável pelo escritório de previsões climáticas El Niño/La Niña da NOAA.

##RECOMENDA##

Existe então a possibilidade de 2023 bater um novo recorde de ano mais quente dos registros, com temperaturas superiores às vistas em 1998 e 2016, anos especialmente quentes. A combinação do fenômeno climático muito intenso com a aceleração dos efeitos do aquecimento global seria responsável pelo recorde. "Se este El Niño alcançar a categoria dos mais fortes será a recorrência mais curta do registro histórico", diz Kim Cobb, cientista climática da Universidade de Brown (EUA).

Um intervalo tão curto entre dois El Niños especialmente fortes deixa as comunidades com menos tempo hábil para se recuperarem de danos à infraestrutura, agricultura e ecossistemas provocados pelo fenômeno. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) está em alerta sobretudo para um avanço grande das temperaturas nos próximos dois anos.

Custo

Pelos próximos meses, durante o inverno, o El Niño deve ser sentido mais fortemente no Hemisfério Sul. Entre os países mais atingidos estão Brasil, Colômbia e Venezuela, com previsões de secas intensas, bem como Índia e Indonésia. O fenômeno climático tem um custo alto à economia global. Segundo estimativas do Banco Mundial, o El Niño de 1997 e 1998 custou aos cofres públicos dos países mais atingidos US$ 45 bilhões (R$ 222 bilhões).

No Brasil, pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já analisavam a formação do El Niño. Ele deve aumentar as temperaturas e provocar estiagem em partes das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Já no outro extremo, em algumas partes da Região Sul, o fenômeno deve causar excesso de chuvas. (Com agências internacionais).

O calor está insuportável. Não há outra maneira de começar esse texto. É a testa e o pescoço que pingam, é a roupa que fica molhada nas costas e nas axilas, a vontade de morar embaixo do chuveiro e o ventilador que vira quase um membro da família. Recife e Região Metropolitana estão quentes demais.

Há explicações científicas para o que está ocorrendo. O LeiaJá conversou com Patrice Oliveira, que é gerente de Meteorologia da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Ele explicou que, de fato, os dias estão mais quentes em comparação com a média histórica. Todo o Nordeste tem sofrido com o forte calor.

##RECOMENDA##

Segundo Oliveira, são basicamente três os motivos para a alta temperatura: o verão, que, naturalmente, é a estação mais quente do ano; o fenômeno chamado Vórtice Ciclônico em Ar Superior, que traz a sensação de abafado; e o El Niño, fenômeno que, entre outras ações, modifica o comportamento dos ventos.

“O Vórtice Ciclônico é comum. Ele começa no final de dezembro, vai até o início de março. Ele deixa o clima abafado, sem vento no seu centro”, explica Oliveira. Também é o vórtice o responsável pelas chuvas que ocorrem no interior de Pernambuco. De acordo com o meteorologista, o efeito do fenômeno havia reduzido na última semana mas volta a se formar nesta quarta-feira (27).

Já o El Niño é marcado pelo aquecimento da temperatura no Pacífico. Isso ocasiona uma mudança na circulação dos ventos. “Com isso, o ramo de vento que normalmente cai sobre o oceano, cai já no continente”, esclarece Patrice. Sem o frescor trazido pela corrente de vento que atinge o oceano, o litoral fica mais quente e o céu mais azulado, sem nuvens. O impacto ainda poderia ser maior: “Quando a água do Pacífico Equatorial está mais quente, geralmente fica 2º C acima da média. Desta vez está só 0,5º C acima”, continua o especialista.

Impacto na Região Metropolitana do Recife

O Grande Recife tem uma temperatura média de 32º C. Desde janeiro, a Apac tem computado dias com temperatura bem acima disso. A máxima, por exemplo, já chegou a 37º C. Tem chamado atenção também o calor no período noturno. A mínima, que comumente é registrada na madrugada, tem atingido a marca de 26º C, quando a média é de 23º C. “A noite está muito quente”, resume Oliveira, “Vale destacar que essa temperatura é medida em uma estação localizada em área que não tem muito cimento, não tem prédio. Imagine no centro do Recife, cheio de prédio, cheio de asfalto, de carro. Imagine!”. A sensação térmica é cerca de 3 a 4 graus acima da temperatura registrada.

Patrice dá uma última notícia triste: a população vai ter que esperar a estação mudar para que a situação melhore. “Depois de 21 de março vamos começar a ter uma baixa nessa temperatura, vai começar a ter chuvas na região”, finaliza.

 

Sobrevoando uma área da Amazônia brasileira, cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, conseguiram pela primeira vez medir os impactos da seca provocada pelo El Niño na cobertura vegetal do bioma. Os resultados mostram que, nos anos de ocorrência do fenômeno, a mortalidade de árvores chega a crescer 65%.

Uma das anomalias causadas pelo El Niño é a seca em regiões normalmente úmidas como a Amazônia. De acordo com os cientistas, já se sabia que a seca aumenta o risco de morte de árvores, mas medir a extensão dos impactos era considerado extremamente difícil. Segundo os autores, o estudo ajuda a entender o que acontece com o carbono armazenado nas florestas tropicais em períodos de secas prolongadas. Projeções feitas anteriormente mostram que, nas próximas décadas, as secas serão cada vez mais frequentes na Amazônia, por causa das mudanças climáticas. O estudo foi publicado na revista New Phytologist.

##RECOMENDA##

Para realizar a pesquisa, os cientistas sobrevoaram as mesmas áreas da Amazônia brasileira - duas faixas de 50 quilômetros na região de Santarém - em 2013, 2014 e 2016. Nos dois primeiros anos, não houve ocorrência do El Niño. Entre 2015 e 2016, o fenômeno foi registrado com intensidade especialmente alta. Na aeronave, um instrumento especial disparava em direção à floresta 300 mil pulsos de laser por segundo, fazendo uma espécie de "varredura" que permite registrar uma visão tridimensional precisa das copas das árvores. O equipamento, chamado Sistema de Perfilamento a Laser (Lidar, na sigla em inglês) também é utilizado em missões espaciais, para traçar o perfil de acidentes geográficos em outros planetas, por exemplo.

Comparando os resultados dos três levantamentos, os cientistas puderam detectar as alterações na cobertura vegetal causadas não apenas pela morte de árvores, mas também pela queda de galhos. De acordo com uma das autoras do estudo, Maiza Nara dos Santos, pesquisadora da Embrapa Informática e Agropecuária, a partir do solo, ou mesmo do espaço, seria impossível obter dados tão detalhados em uma extensão tão grande. Ainda assim, os resultados foram complementados por um minucioso levantamento do solo, em locais onde o monitoramento aéreo detectou perdas. Segundo ela, no levantamento em solo, uma das autoras do artigo científico, Veronika Leitold, da Nasa, mediu com precisão as dimensões das árvores e dos galhos caídos. "Ela fez um trabalho muito árduo, para verificar as dimensões dos galhos caídos - incluindo desenhos de cada galho, com medições das dimensões de cada uma de suas ramificações."

Com esses dados complementares obtidos em solo, foi possível calcular a biomassa perdida com a queda de árvores e galhos. "Extrapolando esse cálculo para o resto da Amazônia, pudemos fazer uma estimativa de quanta biomassa é perdida no bioma", explicou Maiza.

Ciclo natural

Comparando os dados obtidos em 2013 e 2014, os cientistas concluíram que, em anos sem El Niño, os eventos de quedas de árvores e galhos produziram alterações em 1,8% das copas das árvores na área estudada. Embora o porcentual pareça baixo, em termos absolutos a quantidade de árvores perdidas pode ser enorme, de acordo com o estudo. O mesmo porcentual aplicado a toda a Amazônia seria equivalente à queda de árvores e galhos em uma área de cerca de 98,5 mil quilômetros quadrados - aproximadamente a área de Pernambuco. Com a seca, a queda de árvores aumenta 65% em relação a isso.

Além disso, uma alteração sutil em um ano de El Niño tem "um impacto imenso no balanço de carbono da floresta", disse outro dos autores da pesquisa, Douglas Morton, da Nasa. O "balanço de carbono" é a comparação entre a quantidade de dióxido de carbono que as árvores removem da atmosfera para alimentar o crescimento de seus troncos, galhos e folhas e a quantidade de carbono que volta à atmosfera quando as árvores morrem e se decompõem.

"As projeções para a Bacia Amazônica sugerem que teremos condições mais quentes e secas nas próximas décadas. Os eventos de seca provocados pelo El Niño nos dão uma amostra de como as florestas tropicais podem reagir em um mundo mais quente", afirma Morton. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A peruana María Josefino Pingo Sánchez, de 20 anos, moradora do distrito de Mórrope, do povoado Nueva Esperanza, entrou em trabalho de parto no helicóptero, após ser resgatada por paramédicos. 

A família da jovem acionou a emergência, que teve dificuldades em localizar a gestante em meio à região impactada pelas enchentes. Segundo o La República, os parentes precisaram colocar fogo em um pneu para que a fumaça chamasse a atenção da Força Aérea do Peru (FAP). 

##RECOMENDA##

O coronel da FAP, Javier Tryon, contou ao jornal local que após cinco minutos de voo, com a assistência dos paramédicos, que tentavam segurar a mulher em trabalho de parto até que chegassem ao hospital, nasceu uma menina batizada de Cielo (Céu, em espanhol). 

Nas redes sociais, a FAP reconheceu o ocorrido e postou fotos com o bebê no Hospital Ragional Lambayeque, onde a mãe se recupera. O coronel da FAP foi convidado por María para ser o padrinho da criança.

[@#video#@]

O povoado estava isolado em virtude das enchentes, decorrentes do fenômeno El Niño. Desde janeiro deste ano, já foram registradas mais de 70 mortes pelas inundações e cerca de 640 mil afetados no país.

Mais de 500 mil peruanos se viram afetados pelas intensas chuvas ocasionadas pelo fenômeno climático El Niño, que neste início de ano foi o responsável por 48 mortes e pela paralisação de 5% das vias nacionais.

O primeiro-ministro do Peru, Fernando Zavala, informou nesta segunda-feira (13) que 144 pessoas ficaram feridas, em especial na região de Piura, na costa norte do Pacífico, próxima ao Equador, onde as precipitações têm provocado perdas de aproximadamente US$ 121 milhões em infraestrutura e em terras agrícolas. Fonte: Associated Press.

##RECOMENDA##

A Amazônia pode ter neste ano a pior temporada de queimadas já registrada na sua história. Reflexo do intenso El Niño que atinge o planeta desde o ano passado, a região vem sofrendo um ressecamento do solo que deve chegar ao auge quando a estação seca começar, no próximo mês. É o que aponta levantamento feito pela Nasa junto com universidades americanas.

A análise leva em conta a temperatura da superfície do Oceano Pacífico, que aumenta com a ocorrência do El Niño. De acordo com os pesquisadores, no ano passado ela foi a mais alta desde que esse monitoramento começou a ser feito, em 2001.

##RECOMENDA##

Sem chuva, diminui a umidade do solo, deixando as árvores secas, o que aumenta o risco de queimadas. A previsão é de pelo menos 92% de risco de fogo para a floresta, considerando a análise feita em dez regiões. Pará e Mato Grosso lideram o chamado Índice Sazonal da Severidade de Fogo, com respectivamente 98% e 97% de chance de incêndios.

"Com as análises de satélite da Nasa, nós observamos que o forte El Niño deixou o sul da Amazônia mais seco no começo da temporada de fogo em anos que tiveram secas severas, como em 2005 e 2010", explica Douglas Morton, pesquisador da Nasa e um dos responsáveis pelo estudo.

Mesmo na temporada úmida, de janeiro a abril, o índice de queimadas na Amazônia já ficou bem acima do observado antes. "Os dados mostram que a região já está rumo a uma temporada de fogo extrema em 2016", resume Morton.

"Por um lado, um atraso nas chuvas no Pará e no Amazonas permitiu que a temporada de fogo de 2015 continuasse em janeiro e fevereiro deste ano. Por outro lado, Mato Grosso teve um início precoce da temporada de fogo de 2016, com recorde de detecções em abril e maio."

O fenômeno climático El Niño deixou 19 pessoas mortas na Bolívia, 60.000 famílias desabrigadas e 15.000 animais mortos - disse nesta segunda-feira o ministro da Defesa boliviano, Reymi Ferreira.

"Chegamos ao número de 19 mortos até o momento, aproximadamente 60.000 famílias afetadas, um número bastante grande, perderam 30.000 hectares (de culturas) e pelo menos 15 mil cabeças de gado", disse o ministro responsável pela tarefas de defesa civil em diálogo com jornalistas.

A morte de três pessoas arrastadas por uma enchente no departamento do norte de La Paz nos últimos dias incharam o número de mortes desde novembro, quando começaram a registrar os primeiros efeitos do fenômeno climático.

"Estamos em emergência, plena mobilização, há um alerta vermelho em sete (de nove) departamentos", elogiou o ministro, reiterando que as regiões mais atingidas são La Paz (oeste), Cochabamba (centro), Chuquisaca (sudeste), Beni (nordeste) e Santa Cruz (leste).

O El Niño se manifestou até agora com episódios de seca, granizo e excesso de calor e chuva. A estação chuvosa geralmente dura de novembro a março.

O aumento  da temperatura neste mês de outubro tem feito a população paraense desejar dias não tão quentes. Mas a previsão é outra. O motivo para elevação das temperaturas é o fenômeno meteorológico El Niño, comum nesse período do ano. A temperatura da Amazônia recebe influência direta desse fenômeno que se forma no oceano Pacífico. Sendo assim, ele é capaz de alterar o clima em todo o planeta e provocar quase sempre os mesmos efeitos: muita chuva em determinadas regiões e muita seca em outras.

Confira na reportagem abaixo:

##RECOMENDA##

[@#video#@]

As flores desabrocham na região Huasco no deserto de Atacama, a cerca de 600 km ao norte de Santiago, em 27 de outubro. Um gigantesco manto de flores multicoloridas cobre o deserto de Atacama, o mais seco do mundo, com uma intensidade que não vista em décadas, um efeito causado pelo fenômeno El Niño, que altera os padrões climáticos em toda a bacia do Pacífico.

[@#galeria#@]

##RECOMENDA##

O aquecimento global, associado a fenômenos naturais como El Niño, provocará temperaturas muito elevadas em 2015 e 2016, afirma um relatório publicado nesta segunda-feira pelo serviço meteorológico britânico (Met Office).

"É muito provável que 2014, 2015 e 2016 estejam entre os anos mais quentes já registrados" no planeta, disse Rowan Sutton, professor do Centro Nacional de Ciências Atmosféricas.

Sutton acredita ainda que o aquecimento global voltará a se acelerar, após uma década de relativa estabilidade.

Esta "pausa" no aumento das temperaturas serviu de argumento para os chamados "clima-céticos", que criticam os modelos científicos para explicar a mudança climática e até negam a responsabilidade humana no aquecimento global.

Segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), a "pausa" no aquecimento se deve a uma questão estatística, já que 1998 foi um ano especialmente quente devido ao El Niño, fenômeno ligado ao aquecimento do Pacífico, que teve como consequência anos seguintes mais amenos.

O estudo publicado pelo Met Office analisa detalhadamente o El Niño, que voltou a ser detectado em março e pode ser "um dos mais intensos" da história.

Segundo pesquisadores britânicos, o fenômeno contribui com o aquecimento global e também repercute em nível local, com condições mais secas para alguns países asiáticos e a Austrália.

Os pesquisadores preveem que neste outono e inverno no hemisfério norte as chuvas serão mais abundantes na Califórnia, que enfrenta uma severa seca há quatro anos.

O Met Office também prevê que o esfriamento que se observa atualmente no oceano Atlântico pode provocar verões menos quentes e mais secos no norte da Europa, efeito que será contrabalançado pela tendência geral de aquecimento global.

Em agosto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos informou que os sete primeiros meses de 2015 foram mais quentes já registrados, após 2014 ter sido o período mais quente em 135 anos.

O fenômeno climático El Niño, que reapareceu em março, deve durar até o segundo trimestre de 2016 e pode ser um dos mais intensos da história - segundo as projeções anunciadas nesta quinta-feira pelo Centro de Previsão do Clima (CPC) dos Estados Unidos.

Desde março a temperatura sobre a superfície das águas equatoriais do Pacífico aumenta, o que faz com que haja "cerca de 95% de possibilidades de que o El Niño persista durante o inverno 2015-16 no hemisfério norte, antes de perder gradualmente sua intensidade até a primavera", explicou o CPC.

A temperatura em algumas zonas equatoriais do Pacífico em setembro é de 2,1 graus Celsius acima do normal, informou em coletiva de imprensa Mike Halpert, diretor-adjunto da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).

Este aumento da temperatura no período de junho a agosto situa o El Niño deste ano no terceiro lugar em intensidade, desde o começo das observações da corrente marinha em 1950, afirmou. Nos últimos 65 anos só foi registrada uma intensidade de aquecimento superior em três ocasiões: 1972-73, 1986-88 e 1997-98.

O único impacto notável do retorno do El Niño até agora é uma redução no número de furacões no Atlântico Norte durante a temporada 2015, que tem 90% de probabilidade de ser menos ativa do que o normal.

A corrente do El Niño cria um fenômeno que acalma as tormentas tropicais. Em contrapartida, intensifica a formação de tempestades no leste e no centro do Pacífico.

Mas o maior beneficiário deste retorno do El Niño deve ser os Estados Unidos: segundo o CPC, as chuvas devem ser mais abundantes do que o normal neste outono (no hemisfério norte, ndlr) e durante o inverno na maior parte do país.

O estado da Califórnia, atormentado por uma intensa seca há quatro anos, pode receber quantidades significativas de precipitações.

Outros países, sem dúvidas, devem ser mais prevenidos. O Peru, por exemplo, abriu mão de acolher o Rally Dakar-2016 e deu prioridade a prevenir o impacto que o fenômeno El Niño possa causar.

O El Niño já chegou. O fenômeno climático, que deve ganhar força nos próximos meses, traz consigo chuvas que prometem garantir umidade para a safra de inverno no Centro-Sul do País. A confirmação do El Niño neste ano - ainda que moderado, como apontam meteorologistas -, é agridoce para produtores. Se por um lado pode ajudar no desenvolvimento de culturas como trigo e cana-de-açúcar e mitigar o risco de geadas, a ocorrência de chuvas no período da colheita pode causar perdas no campo.

Em sua forma tradicional, o El Niño, fenômeno gerado pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico, causa chuvas mais intensas no Sul, seca no Norte e Nordeste e temperaturas mais elevadas no Sudeste e Centro-Oeste. Este ano, porém, seus efeitos no País tendem a ser mais amenos.

##RECOMENDA##

"Na costa da América do Sul, esse aquecimento não tem sido tão forte como na região central do Pacífico, que atinge Austrália e Ásia", explica Celso Oliveira, da Somar Meteorologia. "Com isso, sua influência não será tão forte e nem tão duradoura, com os efeitos mais concentrados no inverno."

Simulação feita pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe) aponta que, de junho a agosto, deve chover acima da média em boa parte do Sul, oeste de São Paulo e em grande parte de Mato Grosso do Sul - impactando as culturas de inverno, como trigo, cevada, cana-de-açúcar e café, além da segunda safra de milho. "Já estamos tendo um outono mais úmido do que o normal, e isso tem sido ótimo para o milho safrinha, por exemplo", diz Oliveira.

Para os especialistas, o que definirá se o El Niño será bom ou ruim para a safra não é a intensidade das chuvas, mas o seu calendário. "A maioria das culturas pode se beneficiar com a chuva, mesmo porque ela ameniza o risco de geadas", afirma Oliveira. "No entanto, chuva demais no período da colheita, lá para o fim do inverno, pode ser muito prejudicial", observa.

Paulo César Sentelhas, professor de Agrometeorologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), aponta que um dos benefícios da chuva é a economia de água, uma vez que boa parte das culturas de inverno é irrigada. Mas a colheita ainda preocupa.

"Aqui em Piracicaba (interior de São Paulo), nos canaviais, a preocupação é de que chuva acima do normal diminua os dias de colheita, além de afetar a qualidade da cana colhida - diminuindo a quantidade de açúcar da planta", diz o pesquisador. Ele explica que a chuva, no período da colheita, dificulta que as máquinas entrem no campo e, caso as usinas não consigam processar esses volumes, pela redução dos dias de moagem, parte da cana pode ficar nos campos para a próxima safra.

A região Centro-Sul, que deverá ser mais afetada pelo El Niño, concentra cerca de 90% da produção de cana-de-açúcar do Brasil. Em maio, segundo a Somar Meteorologia, as chuvas ficaram de 30% a 40% acima da média em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.

Produtores de outras culturas também estão receosos em relação às chuvas. "Entre as regiões cafeeiras de São Paulo e de Minas Gerais, a preocupação também é grande, já que o grão precisa secar", explica Sentelhas. Ele também observa que um inverno mais úmido exige do produtor maior controle fitossanitário, pela proliferação de doenças.

Os índices mais altos de precipitações, no entanto, não devem atingir os níveis da temporada de 2009/2010, quando houve um El Niño clássico e mais intenso. "Muita cana não foi colhida naquele ano", diz. As chuvas torrenciais, que foram devastadoras para milhares de famílias no Sul e Sudeste do País, também prejudicaram as lavouras de arroz no Rio Grande do Sul, onde houve perdas de quase 10% da produção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A economia brasileira está preparada para enfrentar os efeitos adversos do El Niño, afirmou a Moody's, em relatório publicado hoje.

O El Niño é um fenômeno climático caracterizado pela elevação da temperatura das águas nas regiões equatoriais do Oceano Pacífico, o que resulta em mudanças nos padrões dos ventos. O fenômeno pode causar, por exemplo, chuvas mais fortes do que o previsto em algumas partes e seca em outras regiões.

##RECOMENDA##

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, há uma chance de 75% a 80% de o El Niño estar completamente estabelecido de outubro a dezembro. A última vez que esse fenômeno foi registrado com força foi em 1997 e 1998.

Gersan Zurita, analista e vice-presidente sênior da Moody's, disse em entrevista que desde então os governos da América do Sul fizeram muito para melhorar as condições financeiras. "O que aconteceu foi que nós tivemos mais políticas ortodoxas sendo implementadas pelos países da região. O Brasil estava exposto à dívida estrangeira de curto prazo, o que colocava o país sob risco, e esse já não é mais o caso", afirmou.

Para ele, os efeitos do El Niño aos cofres públicos brasileiros provavelmente serão baixos e, mesmo assim, o governo estará em boa forma para lidar com gastos adicionais.

O sul do Brasil deve enfrentar chuvas mais fortes, incentivando a colheita de algumas plantações e ajudando a recompor os reservatórios de plantas hidrelétricas. A Moody's lembrou que os bancos brasileiros aumentaram significativamente os empréstimos à agricultura nos últimos anos, então os dois setores estão, em geral, em boa forma financeira para lidar com os efeitos negativos do clima.

O El Niño deve causar inundações em algumas regiões da América Latina, o que aumentaria a necessidade de gastos emergenciais em ajuda às vítimas e para reconstruir a infraestrutura danificada. A seca em outras regiões também deverá aumentar a demanda para a transferência de ajuda àqueles que sofrem os efeitos na agricultura. Em geral, o El Niño irá reduzir a atividade econômica e a receita tributária na região, ao mesmo tempo em que os gastos terão que crescer, avaliou a Moody's.

Normalmente, o Peru é um dos países mais afetados pelo El Niño na América Latina. Para a Moody's, o país enfrenta um risco significativo de danos à infraestrutura por causa de inundações e deslizamentos de terra, mas o fundo de estabilização fiscal do governo peruano pode ser usado para ajudar a reparar os danos. Fonte: Dow Jones Newswires.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando