O chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e referência no enfrentamento à Covid-19 em Pernambuco, Dr. Demetrius Montenegro, foi um dos especialistas a compor a coletiva de Saúde realizada nesta quinta-feira (25) no Recife. Com falas fortes, o médico deu voz à categoria da saúde e admitiu exaustão, fazendo apelo à população, com o pedido de que a sociedade acredite na seriedade da doença e que colabore com a proteção à vida. “Se você está cansado de ficar em casa, a gente está cansado de ver gente morrendo”, disse o infectologista, em tom de desabafo.
Trabalhando na linha de frente, o especialista compareceu à coletiva após semanas sem disponibilidade de participação, por causa da demanda causada pelo setor. Assim que iniciou a sua fala, disse que não falaria por si mesmo, mas em nome de todos os profissionais de saúde, que após um ano “de luta”, estão vivendo novamente uma grande onda de números de casos, dessa vez mais preocupante que a de 2020.
##RECOMENDA##“Não são só números. Números às vezes perdem o sentido, como a gente vem observando, as pessoas deixaram de enxergar esses números, eles pararam de fazer sentido para as pessoas; está todo mundo aí, sem máscara, como se nada estivesse acontecendo. Como se dentro de hospitais centenas de pessoas não estivessem morrendo, outras centenas em casa sem seus parentes, sofrendo por quem está sozinho isolado num leito de UTI”, disse, a priori.
Montenegro comentou a mudança de perfil das vítimas da Covid-19, agora cada vez mais latente entre pessoas mais jovens. Segundo o doutor, ele não havia presenciado um número tão alto de pessoas jovens, sobretudo entre os 30 e 40 anos, compondo os óbitos por Covid no primeiro momento da pandemia. Explica ainda que, naquele primeiro contato, a categoria seguia o que a epidemiologia apontava, sobre os mais velhos representarem casos mais graves, mas que essa não é mais a realidade.
“Nós sofremos muito com a situação do mais velho, mas é que as pessoas mais jovens estão se expondo muito, e com isso a consequência é justamente o que está acontecendo dentro das emergências e dentro das UTIs. Há uma possibilidade de piorar. Sem contar que nós todos já estamos muito cansados. Se você está cansado de ficar em casa, a gente está cansado de ver gente morrendo. A gente está cansado de ver números de espera por leito de UTI aumentando a cada dia. Isso além de deixar todo profissional de saúde muito cansado, isso magoa muito, é muito doloroso”, desabafou.
Antes de devolver a fala para o secretário estadual de Saúde, André Longo, o infectologista pediu, mais uma vez, que os pernambucanos parem de ignorar a gravidade da Covid-19. “É muito melhor vocês abrirem os olhos agora do que sofrerem na pele a dor de estar numa UTI. E (pode ser) pior, estar na UTI é uma possibilidade de se salvar. Falo da dor de estar esperando um leito de UTI e morrer sem ter essa chance”, concluiu.
Ocupação dos leitos em Pernamabuco chega a 97%
Mesmo após 11 dias de quarentena decretados pelo governo estadual, os hospitais de Pernambuco ainda mantêm a taxa de ocupação dos leitos de UTI acima dos 90%, sendo cerca de 97% na rede pública e 91% na rede privada. Nesta quinta-feira (25), o governador Paulo Câmara anunciou prorrogação de três dias das medidas restritivas, que iriam até o domingo (28), mas agora irão até o dia 30 de março. A partir de 1º de abril, um novo Plano de Convivência entrará em vigência, mas houve flexibilização nas medidas.
A decisão veio após o estado registrar o segundo recorde consecutivo de casos confirmados, sendo 2.786 nas últimas 24h. É a pior semana de 2021 em Pernambuco, acumulando 1.594 casos da SRAG, um aumento 19% em uma semana e de 40% em 15 dias. Até esta quinta (25), eram mais 1.800 pessoas internadas em UTIs locais.