Semblante firme e reflexivo. Poucas risadas e sem exposições nas mídias. A descrição que retrata alguém retraído expõe os comportamentos da mãe do ex-governador Eduardo Campos, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, após a morte de seu filho. Ela, até o momento, mostra-se uma das pessoas mais abaladas pela morte precoce do ex-governador, há exatos 356 dias. Concedendo pouquíssimas entrevistas e quase sem relatos públicos, exceto nesta semana devido as homenagens ao socialista, Arraes recolhe-se em meio à saudade e a dor de uma mãe. De forma mais forte, porém não menos dolorosa, a viúva de Campos, a economista Renata Campos e seus filhos, também se reservam, mas aos poucos, marcam presença em eventos políticos e chegam até a discursar enaltecendo a gestão do ex-patriarca. No entanto, a falta do filho, irmão, esposo e pai ainda são perceptíveis nas atitudes, expressões e no olhar da família Campos desde 13 de agosto de 2014.
Era final da manhã de uma quarta-feira cinza, tempo meio chuvoso no Recife, quando as notícias de um acidente de avião em Santos, no litoral de São Paulo, começaram a tomar os veículos de comunicação. De rumores e informações incertas, chegou a ser levantada a hipótese da morte de Eduardo Campos, Renata e seu filho mais novo, o Miguel, o que foi desmentido posteriormente. A cada minuto os fatos iam se confirmando até a triste notícia de que sete pessoas estavam no avião. E pior do que isso. Após a queda, nenhuma saiu com vida.
##RECOMENDA##Dias depois da tragédia a família teve que conciliar a dor da perda com a da espera pela liberação do corpo. Políticos de todo o Brasil, como a presidente Dilma Roussef (PT) e o ex-presidente Lula (PT) visitaram a família Campos, ou demonstraram carinho e solidariedade por meio de telefonemas e mensagens. Já os familiares, resguardados na casa localizada no bairro de Dois Irmãos, Zona Norte do Recife, se reservavam à imprensa enquanto recebia a visita dos mais próximos.
Segundo a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, uma das que visitou a família logo após a confirmação do acidente, a viúva do ex-governador estava “tranquila”, mas alternava entre momentos de risadas e choro. “Ela (Renata) está muito forte, sempre com o filho Miguel no colo. Mas entre uma brincadeira e outra chora. Ela diz em pensamento a Eduardo que fique tranquilo, que dos filhos dele ela toma conta”, relatou na época.
Diferente de Renata, Leda Alves contou que a mãe de Campos encarava a situação com questionamentos. “Está sendo muito complicado para Ana, ela fica perguntando: por quê Deus não levou a ela e deixou o filho vivo, pois ele era jovem e tinha muitas coisas para realizar. Diz que já cumpriu sua missão, portanto, teria mais sentido ela partir”, contou a secretária há um ano.
Além da dor, a inquietação pela espera da chegada do corpo só findou na madrugada do dia 17 de agosto, quatro dias após o acidente. O cachão com os restos mortais de Campos, do jornalista Carlos Augusto (Percol) e dos fotógrafos Alexandre Severo e Marcelo Lyra seguiram em cortejo pelas principais ruas do Recife. Na manhã do domingo, houve uma missa de corpo presente no Palácio do Campo das Princesas e o velório das vítimas em locais distintos. Por decisão da família, o ex-governador foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro, onde também está seu avô Miguel Arraes.
Com a firmeza de quem acompanhava e orientava a vida e as decisões políticas de Eduardo, como era comentado nos bastidores, Renata Campos fez questão de reafirmar o apoio e a escolha do nome de Paulo Câmara (PSB) como candidato ao governo de Pernambuco um dia após o enterro do marido. Num ato político e tomado de populares, líderes socialistas e a imprensa, a viúva do ex-governador, teve impulso e prometeu participar da campanha de Câmara.
“Participei sempre das campanhas, nesta não será diferente. Tenho a sensação que tenho que participar por dois. E aí vim porque sei da vontade dele e da importância em eleger Paulo, Raul e Fernando. E todo este time”, discursou Renata, acompanhada de seus filhos Maria Eduarda, 22 anos, João, 20, Pedro, 18, José, 9 e Miguel de sete meses, na época.
Na fala que durou cerca de três minutos, Renata garantiu seguir a luta com a coragem de seu esposo. “Pode parecer que o nosso maior guerreiro não está na luta, mas seus sonhos estarão sempre vivos em nós. Fica tranquilo Dudu, teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil e é aqui que cuidaremos dos nossos filhos”, anunciou emocionada.
Depois do pontapé inicial para encarar mais uma campanha política em meio à saudade e o luto ainda presente, os filhos Pedro e João Campos começaram a marcar presença nas caminhadas “40” pelo o Estado a fora. Uma das primeiras participações ocorreu logo no início de setembro e continuou até o último dia da corrida eleitoral.
Enquanto os filhos despontavam para vida pública, Renata Campos se manifestou publicamente em rede social, quando completara um mês sem o ex-governador. Relembrando o início do relacionamento com socialista, a economista escreveu uma mensagem para o marido no Facebook. “Dudu, um dia você me presenteou com esses versos: "As pessoas não se precisam, elas se completam. Não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida". Parece que Mário Quintana sabia direitinho tudo que vivemos desde que começamos nossa vida juntos, eu com 13 anos e você, 15”, recordou.
A data emblemática de um mês sem Campos foi pontuada pela viúva de forma saudosa. “Há um mês, nossos filhos perderam um maravilhoso pai e eu, o melhor marido. Hoje sentimos saudade de seu sorriso generoso, seu abraço carinhoso, da alegria da sua presença. Sentimos falta de lhe ver chegar em casa, muitas vezes acompanhado de amigos, contando histórias e procurando saber das novidades da vida de cada um. Sentimos falta dos conselhos e da postura sempre firme para resolver as coisas e escolher os caminhos, afinal, como você bem nos ensinou "não podemos dar intimidade a problemas, temos que resolvê-los". Nossa perda é irreparável, mas o Brasil ganhou um exemplo”, desabafou.
A ex-primeira dama agradeceu o carinho, as condolências e orações por toda parte do Brasil. “De todos os lugares, vieram orações, mensagens de apoio, manifestações de respeito e admiração. Somos gratos por todas. Foi do amor, da solidariedade e da fé que extraímos força para suportar essa dor”, revelou, compartilhando o choro da saudade. “O Brasil lhe descobriu e chora conosco sua perda. E está sendo belo, Dudu, ver que você se tornou aquilo que acreditava. Você se transformou em seus ideais. Sua vontade de melhorar a vida das pessoas, sua luta e sua resistência se transformaram em coragem pra mudar. O homem se tornou ideia. E, como diz aquela frase de Victor Hugo que você tanto gostava "não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou", enfatizou.
Na mensagem assinada por Renata e por seus cinco filhos, ela aproveitou para mandar um recado para o esposo. “Pode ficar tranquilo. Sua bandeira é agora a bandeira de todos os brasileiros. Seu amor e sua dedicação são nossa maior herança. Não, não vamos desistir do Brasil. Estaremos sempre juntinhos no amor, nos sonhos e na fé. Com muito amor e saudade”, prometeu.
Protagonismo político –
Apesar da reserva dos familiares de Campos, meses após a morte do socialista, João Campos, o filho homem mas velho do ex-governador assumiu a secretaria de organização estadual do PSB em Pernambuco em outubro de 2014. “Agradeço a confiança de todos na minha juventude e na minha vontade de ajudar o partido e, principalmente, o povo de nosso estado”, publicou o jovem no Facebook, ano passado.
Na postagem, João deixou claro não ter pretensões para seguir os passos do pai, mas prometeu orgulhá-lo. “Não quero que isso seja visto como uma pretensão de seguir os passos do meu pai. Ele foi e sempre será inigualável. Vou seguir meu próprio caminho e me esforçar para que, lá junto de papai do céu, ele tenha orgulho do meu trabalho”, completou o herdeiro de Campos que já tinha costume de acompanhar o pai em agendas políticas.
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Outra configuração política foi à participação de Renata no guia eleitoral de Câmara, em setembro de 2014. “Em uma hora dessas, com uma dor dessas, não existe, você não sabe como vai agir (...). É muito interessante como eu sinto a presença dele muito forte. Então, em alguns momentos, é como se ele dissesse assim: Fique inteira, não é? Você vai dar conta (...) Eduardo tinha um amor muito grande pelo Estado, a vida de Eduardo foi dedicado à política, ele dedicava à família, aos amigos e à política. Então, essa vida que ele dedicou, tudo que ele fez pelo estado, e ele fez pelo Brasil, não podia parar, e a gente precisava continuar levando, como vai levar esse legado de Eduardo adiante”, se comprometeu a economista em rede de TV.
A inserção na vida política deve se ampliar e não ficar apenas em torno de João. Em entrevista ao Portal LeiaJá, em março de 2015, o advogado, escritor e irmão do ex-governador, Antônio Campos, demonstrou pretensões em entrar na vida pública. Já no aniversário de 47 anos, celebrado no último 28 de junho, em Olinda, cidade onde o socialista deve encarar a disputa eleitoral, Campos chegou a ser enaltecido com a frase: “rumo à vitória”. Na festa, vários socialistas estiveram presentes, assim como sua mãe, Ana Arraes que optou em não fazer comentários e se reservar em conversas com familiares.
Outro familiar de Campos visto como possível candidata é a própria Renata. De postura firme como é avaliada nos bastidores políticos, além de ter demonstrado sua força na campanha de Câmara, a ex-primeira dama é elogiada sem timidez por integrantes do PSB. Recentemente, o vice-presidente de relações governamentais do PSB, e ex-deputado federal, Beto Albuquerque viu na economista uma opção para 2018.
“Acho que o nome da Renata possa ser o nome que una o nosso partido e que apresente uma resposta a essas duas bananeiras que não dão mais cachos, que é o PT e o PSDB", disparou o socialista, elogiando a atuação da viúva de Campos. “A Renata sempre foi uma expoente liderança política do nosso partido. Hoje continua sendo ainda mais fortalecida na minha visão", enalteceu.
Familiares -
Depois de quase um ano em silêncio, exceto alguns poucos discursos em homenagens ou publicações nas redes sociais, a família de Eduardo Campos falou com a imprensa nesta semana em eventos que enalteceram o ex-governador. Na última segunda-feira (10), aniversário de 50 anos do ex-líder do PSB caso estivesse vivo, a Executiva Nacional da legenda renuiu as principais lideranças para relembrar o legado do político. No evento, no Recife, a viúva fez questão de frisar a comemoração da data. "Estamos aqui para celebrar uma bela vida", resumiu em entrevista a jornalistas.
Representando a família, Renata Campos discursou no final da comemoração e pontuou à falta do marido no dia dos pais. “Neste ano foram muitas as demonstrações de que não estávamos sozinhos. Ontem (domingo) passamos o primeiro dia dos pais sem Dudu, a saudade é enorme", desabafou com a voz embargada de emoção e acrescentando seguir os sonhos de Eduardo. “Seus sonhos também são nossos e vamos levar seu ideal adiante. Só assim construiremos um melhor Brasil para os brasileiros", pontuou.
Confira discurso na íntegra no vídeo abaixo:
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Na mesma solenidade, João Campos, o filho mais velho do ex-governador, disse aos jornalistas ter tido o melhor pai do mundo. “Era o melhor pai do mundo. Era muito atencioso, carinhoso, presente. Um amigo leal, companheiro de todas as horas, um homem de palavra. Era uma pessoa espetacular. Mesmo com uma agenda cheia, ele nunca deixou de participar de uma festa nossa na escola, de estar presente nos aniversários, nunca deixou de viver a família na essência”, recordou emocionado.
Para João, a dor da saudade só vem sendo superada graças ao carinho recebido e ao amor pelo pai. “Foi um ano muito difícil e completamente diferente, de um jeito que nós não esperávamos. Mas sempre estivemos unidos e recebendo muita energia do povo. Por onde passávamos era só carinho e admiração. E, claro, baseados sempre no amor que tivemos por ele como pai, político e líder”, afirmou.
Reservada e visivelmente emocionada nos eventos que prestigia, Ana Arraes quebrou o silêncio e revelou a dureza de enterrar um filho. “Não é normal uma mãe enterrar um filho (...). É um fato muito difícil de encarar. A saudade. A falta. Um bom filho, que eu agradeço a Deus por ter tido. Um homem que fazia política com amor e dedicação. Isso me dá alento”, desabafou, durante missa na cidade de São Lourenço da mata, no último dia 10 de agosto, onde Eduardo Campos fazia questão de ir para comemorar o aniversário.
Homenagens –
Nesta quinta-feira (13), em homenagem ao ex-governador, o governador Paulo Câmara (PSB) encaminhará um projeto de Lei à Assembleia Legislativa de Pernambuco nomeando de Instituto de Gestão Governador Eduardo Campos o prédio da Secretária de Planejamento e Gestão do Estado, na Rua da Aurora. Também será celebrada uma missa, às 20h, na Igreja de Casa Forte, Zona Norte do Recife.