O escritor inglês David Nicholls não tem nada de esnobe - ao contrário, sua forma divertida de conversar, aliada ao formato dos óculos, fazem lembrar vagamente Woody Allen. Sua experiência prévia como ator pode ajudá-lo, mas, na apresentação que fez na manhã dessa quinta-feira, 9, na Feira de Frankfurt, surgiu ali um sujeito com uma insegurança sincera e um palavreado confiável.
Nicholls é autor de um best-seller, Um Dia (Intrínseca), 5 milhões de exemplares vendidos no mundo e que inspirou também um filme de igual êxito. E, ao fazer o tour de lançamento do livro, há quatro anos, ele teve ideia para um novo romance, Us, que será lançado em maio no Brasil. "Sou filho de família humilde e, quando jovem, não tive a chance de viajar como mochileiro e conhecer diversos lugares", contou. "Assim, quando precisei lançar a obra, fiquei maravilhado com o que descobri."
##RECOMENDA##E, se nos volumes anteriores tratou de adolescência, Nicholls decidiu agora falar da maturidade, ao mostrar o desafio enfrentado por Douglas - homem de meia idade que, certo dia, descobre que ficará sem a mulher e o filho. Ele vai para a universidade e ela quer se separar. A fim de não ver seu castelo ruir completamente, Douglas tenta transformar o tom de despedida que deverá marcar a viagem de férias em reconciliação familiar.
"Decidi tratar de relações humanas, especialmente de casamentos", observa. "O início de uma união é como uma terra plana, sem obstáculos. Passados 10, 20 anos, o casal logo começa a descobrir montanhas e depressões."
O livro traz o mesmo estilo que se tornou característico no texto de Nicholls, hábil em bons diálogos (afinal, ostenta também experiência como roteirista de TV), humor calibrado e emoção na dosagem certa. Conseguir o equilíbrio, no entanto, não foi fácil.
"Em 2012, fiz uma primeira versão do texto e, na época do Natal, enviei para meu agente e alguns amigos", conta. "Todos responderam que estava bem escrito mas eu deveria jogar o manuscrito no lixo." Feitas as aparas, Nicholls descobriu o tom certo, um feito e tanto para quem enfrentou a expectativa de seu enorme público, provocada por Um Dia. "Aprendi que não posso corresponder aos pedidos dos leitores, mesmo aqueles surpreendentes, como os brasileiros, tão jovens e tão ávidos por romances." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.