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Uma operação da polícia paraguaia e da Polícia Federal brasileira contra uma organização criminosa ligada ao tráfico internacional de drogas e armas deixou ao menos 9 suspeitos mortos, na manhã desta terça-feira, 19, na fronteira do Paraguai com o Mato Grosso do Sul. Um arsenal com armas de guerra foi apreendido. O alvo era Felipe Santiago Acosta Riveros, o "Macho", suspeito de fornecer armas para a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). O brasileiro Ricardo Luis Picolotto, o "R7", apontado como braço direito de "Macho", foi preso na operação.

A Operação Ignis, deflagrada pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), com apoio da força-tarefa conjunta com a PF do Brasil e o Ministério Público do Paraguai, atacou o quartel-general de "Macho" em uma fazenda nos arredores de Salto del Guairá, cidade paraguaia do departamento de Canindeyú que faz fronteira com a brasileira Guaíra, no Paraná, e Sete Quedas, em Mato Grosso do Sul.

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O ataque aconteceu por terra e pelo ar, com helicópteros. Quando as equipes chegaram, foram recebidas a tiros pelos seguranças do criminoso. Houve confronto e nove suspeitos morreram. Não houve baixa entre os policiais.

Ao menos dez suspeitos foram presos, entre eles o "R7". Na fazenda, foram encontrados fuzis automáticos, pistolas, grande quantidade de munição e uma metralhadora .50, capaz de abater helicópteros. Outras armas foram encontradas na casa do brasileiro, em Salto del Guairá. Outros dois brasileiros estão entre os presos. A Senad informou que "Macho" não está entre os suspeitos mortos.

De acordo com o porta-voz da Senad, Francisco Ayala, a quadrilha chefiada por "Macho" atuava no tráfico de drogas e promovia assassinatos de policiais paraguaios e brasileiros, além de rivais no comércio de drogas. Nos últimos anos, dizem as autoridades, a organização passou a fornecer armas para grupos brasileiros, entre eles o PCC e o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro . Em setembro, seis policiais faziam buscas na propriedade de "Macho" quando foram atacados. Um policial foi baleado, mas sobreviveu.

Depois de entrar na organização, o brasileiro Picolotto, o "R7", é suspeito de ter se tornado o elo do grupo com o PCC para o fornecimento de armas. O advogado de Picolotto, Lucas Carvalho, disse, em nota, que seu cliente é réu primário e não possui ligações com crime organizado nem morte de policiais.

Segundo a defesa, Picolotto "foi absolvido em sentença que já transitou em julgado e teve "pedido de prisão revogado em junho de 2023". O advogado também diz que o cliente está colaborando com as autoridades.

Conforme Ayalla, a operação paraguaia foi compartilhada com a PF do Brasil devido à cooperação entre os dois países para o combate aos crimes de fronteira. Os presos brasileiros deverão ser extraditados para o Brasil.

A Polícia Nacional do Paraguai tenta há anos desbaratar a quadrilha de "Macho". O criminoso foi condenado a 25 anos de prisão depois de assassinar e enterrar o corpo de seu patrão, em 2015. No sexto ano de cumprimento da pena ele fugiu. Em 2016, "Macho" foi capturado, mas voltou a escapar um ano depois.

No Brasil, segundo a PF, ele é considerado foragido pela Justiça Federal pelo envolvimento no assassinato de um militar do Exército brasileiro, em 2020, ao resistir uma abordagem. Seu grupo navegava pelo Rio Paraná com uma embarcação carregada com mais de 500 quilos de maconha e reagiu à abordagem, matando um militar. Por esse motivo, seu nome foi incluído na Difusão Vermelha da Interpol.

No Paraguai, Acosta Riveros, o "Macho", é acusado ainda pelo assassinato de um policial e por promover diversos ataques a tiros a delegacias, além de operações de resgate de presos. Segundo a Senad, ele se movimenta em comboios de veículos blindados, com homens fortemente armados, muitas vezes ostentando armas, ao estilo dos cartéis mexicanos.

Até a publicação deste texto, o Estadão não havia localizado a defesa de Felipe Santiago Acosta Riveros. Este espaço está aberto.

Cerca de mil agentes das forças estaduais de segurança do Rio de Janeiro iniciaram nesta segunda-feira (9) uma grande operação de combate ao crime no Complexo da Maré, na Vila Cruzeiro e na Cidade de Deus. O foco principal é conter o avanço do Comando Vermelho, maior facção do Rio. Durante a ação, dois helicópteros das forças de segurança foram atingidos por disparos e tiveram de pousar.

"Hoje (segunda-feira), especificamente, nós queremos atacar essa facção criminosa que está tentando expandir o território e travando conflito com outras organizações criminosas, trazendo instabilidade à nossa segurança", disse em coletiva de imprensa o secretário estadual de Polícia Civil, José Renato Torres. "Nesse primeiro momento a gente está pacificando territórios."

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Dois helicópteros que sobrevoavam a Vila Cruzeiro foram atacadas a tiros, mas nenhum agente se feriu e as aeronaves conseguiram pousar normalmente. "Nossa tripulação é extremamente técnica, e seguindo o protocolo da aviação, elas são obrigadas a pousar para avaliar o dano causado", explicou Torres.

Além das polícias civil e militar, homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tropa de elite da Polícia Militar do Rio também participam da ação.

Ainda conforme o governo estadual, drones estão sendo usados no Complexo da Maré. Os equipamentos têm câmeras que fazem mapeamento de áreas em 3D, além de terem zoom de longo alcance. As imagens desses drones estão sendo enviadas em tempo real para o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).

No Complexo da Maré, foi encontrado um laboratório de refino de drogas e fabricação de explosivos. No local, quatro suspeitos foram presos e encaminhados à Cidade da Polícia, na zona norte da cidade. Na Maré, as equipes também atuando na retirada de barricadas.

Antes de estender as buscas e apreensões por esses criminosos, o governo do Rio havia dito que o objetivo da operação, inicialmente, era pacificar o território do Complexo da Maré.

Complexo de Bangu

Em outra frente da operação, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) atua na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3) e na Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho (Bangu 4). A intenção é impedir que as lideranças do tráfico que estão presas no Complexo de Bangu transmitam ordens a seus comparsas nas favelas alvo da operação desta segunda-feira.

Para isso, os agentes estão realizando bloqueio prévio do sinal de celular a apreendendo aparelhos. Os agentes utilizam um scanner de mão para checar esconderijos improvisados por presos para esconder os celulares e outros itens.

Assassinato de médicos

As polícias do Rio e de São Paulo, além da Polícia Federal, investigam o assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, na madrugada da quinta-feira passada, dia 5. A principal hipótese da polícia para a motivação do crime é que um dos profissionais pode ter sido confundido com um miliciano.

O médico Perseu Ribeiro Almeida pode ter sido confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa. A tese foi compartilhada por investigadores do Rio com agentes de São Paulo que prestam apoio ao inquérito.

Imediatamente após a ocorrência, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada e investiga as mortes de Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida e Diego Ralf de Souza Bomfim. Diego é irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que cobrou apuração do caso e se disse "devastada" com a notícia.

Conforme informações da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, uma quarta vítima - Daniel Sonnewend Proença - foi socorrida para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Ele permanece hospitalizado.

O governo federal vai lançar na próxima segunda-feira, 2, um plano nacional para combater as organizações criminosas no País. A medida foi anunciada pelo secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, nesta sexta-feira, 29, após reunião com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido alvo de críticas por não apresentar propostas efetivas para a área de segurança pública e ver o avanço de crimes violentos em Estados como Rio e Bahia.

Cappelli, braço direito do ministro Flávio Dino na pasta, não detalhou as medidas previstas no plano, mas afirmou que serão priorizadas ações de inteligência para desarticular grupos criminosos. O secretário executivo afirmou que não haverá espetacularização das operações. Apesar das críticas sobre a atuação na área de segurança, Dino pode deixar a pasta rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde pode ocupar a vaga deixada pela ministra Rosa Weber.

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No domingo, 24, o programa "Fantástico", da TV Globo, exibiu uma reportagem sobre uma espécie de centro de treinamento de criminosos no Complexo da Maré, na zona norte do Rio. O caso motivou uma reunião de Cappelli com o governador do Estado.

"Aquelas imagens que a gente viu são inaceitáveis. Treinamento de guerrilha urbana à luz do dia, criminosos andando com fuzis e (pistolas) .50. Isso não é aceitável em nenhum lugar do mundo e vamos atuar com inteligência, proporcionalidade, respeitando à ADPF (ação judicial que restringe operações policiais das favelas), com tecnologia, sem nenhuma ação pirotécnica ou espetacular. A inteligência com mínimo de efeito colateral possível, mas para devolver o território àquelas 140 mil pessoas que moram ali", afirma Cappelli.

A Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) citada pelo secretário tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e têm decisões que estabelecem limites e parâmetros na área da segurança pública no Rio.

Cláudio Castro afirmou que requisitou o apoio da Força Nacional para atuar na favela. De acordo com Cappelli, as solicitações do governo serão atendidas. Cappelli destacou que a Força Nacional cumprirá papel de retaguarda às forças estaduais.

"Se o crime está cada vez mais estruturado e organizado no País, o poder público precisa estar também cada vez mais integrado, organizado, unido para combater esse que é um problema não só do Rio de Janeiro, mas um desafio nacional, uma vez que essas organizações estão cada vez mais articuladas", argumenta o secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Além do Rio, a segurança também tem vivido uma crise na Bahia. Até o momento, o Estado registrou mais de 50 mortes em operações da polícia, superando a PM fluminense neste quesito. Na última segunda-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, se reuniu com o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), para discutir parcerias a respeito da segurança pública no Estado.

Na ocasião, Dino garantiu a ampliação de recursos para a área. Dias depois, o secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, e o secretário Nacional de Políticas Penais, Rafael Velasco, viajaram ao Estado para dar início às medidas de resposta à crise. Antes de Rodrigues, a Bahia foi governada oito anos por Rui Costa, ministro da Casa Civil de Lula.

Os ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiram restabelecer a condenação de um dos líderes do PCC, Leonardo Vinci Alves de Lima, o "Batatinha", a dez anos e sete meses de prisão por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Por maioria de votos, o colegiado revogou uma decisão do ministro Sebastião Reis Júnior que considerou nulas provas que embasavam a sentença imposta ao líder do PCC.

A avaliação do colegiado é a de que a "fundada suspeita" justificaria a busca pessoal realizada pela polícia contra "Batatinha", em uma operação de rotina há quatro anos, quando ele foi flagrado com drogas.

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O integrante da facção foi preso em flagrante com 2 quilos de cocaína após ser abordado pela Polícia Militar durante patrulhamento em 28 de agosto de 2019, na Vila Andrade, bairro da zona Sul de São Paulo.

Em junho, Reis Júnior mandou soltar "Batatinha". O ministro entendeu que a busca pessoal feita pelos policiais no réu - que levou à prisão em flagrante - foi motivada apenas por seu "nervosismo ao avistar a viatura policial".

Segundo o STJ, a condenação de "Batatinha" no caso já havia transitado em julgado quando a defesa entrou com pedido de habeas corpus na Corte.

Agora, nos termos do voto da ministra Laurita Vaz, a Sexta Turma acolheu recursos do Ministério Público Federal e do Ministério Público de São Paulo, derrubando a decisão de Reis. A Procuradoria e a Promotoria argumentaram a legalidade dos procedimentos que levaram à condenação.

Os ministros Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro e o desembargador convocado Jesuíno Aparecido Rissato acompanharam o voto da presidente da Corte. Restou vencido o relator, Sebastião Reis Júnior.

A ministra Laurita Vaz evocou a jurisprudência do STJ sobre os parâmetros para reconhecer a "fundada suspeita" e destacou que "Batatinha", "ao se deparar com a patrulha da Rota, subiu na calçada, parou a motocicleta e tentou se desfazer de seu aparelho celular".

"No contexto descrito, não há como negar a presença de justa causa a viabilizar a diligência, tendo sido, ademais, reforçada a suspeita da prática de ilícitos pela conduta do agente de inutilizar o aparelho celular que trazia consigo", ponderou Laurita.

O Grupo Nacional de Combate ao Crime Organizado, com apoio das Polícias Civil, Militar, Penal e Rodoviária Federal, abriu na manhã desta quarta-feira (10) uma operação para prender preventivamente 228 investigados supostamente ligados a diversas facções criminosas - entre elas ao PCC - e a crimes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A ofensiva ainda vasculha 223 endereços em 13 Estados - Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Pará, Paraná, São Paulo, Sergipe e Tocantins. Em São Paulo, foi preso um dos líderes da "Sintonia Final" do Espírito Santo.

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As diligências são executadas por mais de mil agentes das forças de segurança, 43 promotores de Justiça e 40 servidores de Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, a operação visa desarticular "organizações criminosas violentas que atuam nas ruas e nos sistemas prisionais, efetuar prisões de seus integrantes e coletar provas" para abastecer investigações em curso em diferentes unidades do MP.

O Grupo Nacional de Combate ao Crime Organizado foi criado em 2002 pelo Conselho Nacional de Procuradores-Gerais, em resposta ao assassinato do promotor de Justiça de Minas Francisco José Lins do Rêgo Santos por uma facção criminosa.

O grupo é presidido pelo procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo. O órgão coordena a ofensiva aberta nesta quarta-feira. Em São Paulo, as diligências ocorrem na capital, em Santana de Parnaíba, Jacareí e São Vicente.

Uma força-tarefa formada por diversos órgãos de segurança no Rio Grande do Norte abriu na manhã desta quarta-feira, 22, a Operação Sentinela e prendeu 13 supostos integrantes do Sindicato do Crime do RN (SDC), facção que promove ataques no Estado desde a semana passada. Dois homens foram presos em flagrante durante a ofensiva e outros cinco alvos da investigação estão foragidos.

De acordo com a Promotoria potiguar, as investigações que culminaram na Sentinela apontam que os presos nesta quarta são "lideranças da organização criminosa em liberdade que exercem ou exerceram funções relevantes para a facção".

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Agentes ainda vasculharam 26 endereços no Rio Grande do Norte. As diligências foram executadas nas cidades de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Canguaretama, Bom Jesus, Santo Antônio, Caiçara do Norte, Acari e Macau.

Durante as ações da Sentinela, foram apreendidas armas, drogas, celulares, documentos e dinheiro vivo. O Ministério Público do RN não informou os valores confiscados.

De acordo com a Promotoria, dentre os 13 capturados na Sentinela há uma mulher considerada "cunhada" - esposa de faccionado. Os detidos já foram encaminhados ao sistema prisional potiguar.

Ainda de acordo com o órgão, a maioria dos investigados presos na operação já foi condenada por organização criminosa, tráfico de drogas, roubos e homicídios. Alguns deles cumpriam pena em regime semiaberto, com uso de tornozeleiras eletrônicas - sendo constatadas violações do sistema de monitoramento "coincidentemente antes e durante" os ataques registrados no RN.

"Para os investigadores, não existem dúvidas sobre o poder de mobilização das centenas de membros da organização criminosa. A sensação de terror sentido e presenciado pelos potiguares nos últimos dias, decorrente dos ataques criminosos perpetrados contra instituições públicas e privadas e contra agentes de segurança pública, retrata bem tal panorama", informou o MP em nota.

A força-tarefa responsável pela Sentinela é integrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte, a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Militar (PM), a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária (Seap) e a Força Nacional (FN).

Um homem de 29 anos, acusado de coordenar parte dos ataques criminosos no Rio Grande do Norte, na cidade de Mossoró, foi morto em confronto com a polícia na manhã desta terça-feira, 21, na cidade de Icapuí, no Ceará. As informações foram confirmadas pela Polícia Federal e também pela Polícia Civil do Estado.

Identificado como Francisco Allison de Freitas, conhecido também pelo apelido de "Nazista", o homem era acusado de ser um dos líderes da facção criminosa que tem provocado uma onda de violência no Estado potiguar desde a última segunda, 13. O principal grupo criminoso suspeito de estar envolvido com os ataques é o Sindicato do Crime (SDC).

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Segundo informações da Polícia civil, "Nazista" teria reagido à abordagem policial e atirado contra os agentes de segurança antes de ser atingido. Ele foi socorrido, mas faleceu no hospital. Junto com ele, foram apreendidas uma arma de fogo e munições.

De acordo com as investigações, Nazista tinha atuações e influência em presídios do Rio Grande do Norte. Em uma ação da Polícia Civil realizada em um lava-jato de Mossoró, na última quinta-feira, agentes de segurança apreenderam aproximadamente cem litros de gasolina e munições. O lugar seria um dos endereços do suspeito.

Na semana passada, outras duas lideranças vinculadas ao Sindicato do Crime morreram em confronto com autoridades policiais. Um dos homens, identificado como José Wilson da Silva Filho, 29, estava escondido em uma casa em João Pessoa, na Paraíba.

Assim como Francisco Alisson, José Wilson recebeu os agentes a tiros e foi alvejado, segundo a polícia. Ele chegou a ser socorrido ao hospital, mas morreu momentos depois.

De acordo com os dados de segurança do Estado do Rio Grande do Norte, divulgados nesta terça, 144 suspeitos foram presos, sendo seis adolescentes apreendidos e 14 que estavam foragidos, mas que foram recapturados. As operações também apreenderam 41 armas de fogo, 139 artefatos explosivos e 29 galões de combustíveis.

A onda de violência que atingiu dezenas de cidades potiguares tem diminuído de intensidade, mas ainda não cessou. No último domingo, 19, dez ataques foram registrados no Estado. Um queda significativa em relação ao primeiro dia, quando o número de ocorrências chegou a 103. Com a diminuição dos crimes nas maiores cidades do Estado, incluindo Natal, os serviços de transporte público e coleta de lixo foram retomados.

Comida com odor nauseante, surto de dermatites e tuberculose, relatos de tortura física e psicológica são questões consideradas graves identificadas por peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) nas unidades prisionais do Rio Grande do Norte.

Entre os dias 21 e 25 de novembro de 2022, eles vistoriaram a Cadeia Pública de Ceará-Mirim e o Complexo Prisional de Alcaçuz, ambos na Grande Natal, ouvindo presos e levantando informações que culminaram em um relatório que será apresentado às autoridades no início da próxima semana.

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"As principais questões encontradas em ambas as unidades foram: problemas de alimentação, desassistência à saúde e tortura. Não é só uma alimentação precária, mas é uma alimentação inexistente muitas vezes. A partir do momento em que se entrega uma alimentação estragada e imprópria para o consumo, não se tem uma alimentação. Se percebe, nitidamente, o emagrecimento da pessoa encarcerada pela ausência da alimentação", relata Bárbara Coloniese, perita do MNPCT, que vistoriou as prisões potiguares em janeiro de 2017, ano da maior rebelião da história do sistema penitenciário potiguar que culminou com a decapitação e esquartejamento de 27 presos ligados ao Sindicato do Crime (SDC) no Complexo Prisional de Alcaçuz, e em novembro do ano passado.

As condições da custódia estão entre os motivos apontados em comunicados divulgados pelo Sindicato do Crime para a série de ataques a que o Estado assiste nesta semana. Os crimes coordenados, que incluem incêndio de veículos e disparos contra sedes da polícia e do Judiciário, chegaram a dezenas de cidades potiguares, causando medo à população e afetando a prestação de serviços públicos. O assassinato de um comerciante na capital na quarta-feira, 15, tem relação com os ataques, segundo a polícia local.

Segundo Coloniese, há uma sistemática violação de direitos nas carceragens do Estado, como a desassistência à saúde como um todo. "Nós fizemos a verificação in loco da chegada, o acompanhamento de todo o processo até a entrega (da alimentação ao preso) e, realmente muitas dessas alimentações já chegam impróprias para o consumo com cheiro de azedo. Mesmo com uma máscara muito potente em relação à prevenção contra a covid-19 foi possível sentir o cheiro azedo, nauseante daquela alimentação completamente imprópria para o consumo. Eles (os presos) ficam com uma alimentação bem precária", frisa a perita.

Para ela, esse é apenas um dos pontos graves em relação à desestrutura encontrada pelos peritos nas prisões visitadas.

Seis anos depois do que ficou conhecido como "massacre de Alcaçuz", provocado pela disputa de poder entre duas facções criminosas, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Sindicato do Crime, Coloniese afirma que nada mudou. Ao contrário, piorou. Ela faz essa afirmação alegando que as imagens feitas pelos peritos comprovam o cenário.

"De 2017 para 2022 não existiram mudanças. O cenário é ainda mais recrudescido. O emprego da violência é muito forte. A forma de funcionamento desse sistema prisional se baseia na prática sistemática de tortura física e psicológica. Desde que fomos ao Rio Grande do Norte, estamos tentando reuniões institucionais com o Tribunal de Justiça, com o Ministério Público, com a governadora, mas ainda sem êxito. Nós ficamos alarmados com a situação do sistema prisional com muita tortura, violência e violação de direitos. Nós tentamos fazer alertas às autoridades, mas até o momento não conseguimos ter diálogo. Continuamos à disposição para expor as questões e mudar esse cenário com a garantia de direitos fundamentais conforme consta na Lei de Execuções Penais", ressalta.

De 2017 para 2022 não existiram mudanças. O cenário é ainda mais recrudescido. O emprego da violência é muito forte

Bárbara Coloniese, perita do MNPCT

Assistência à saúde

Bárbara Coloniese define como chocante a ausência de profissionais de saúde próprios no quadro da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) e denuncia que, caso algum preso tenha uma indisposição com um policial penal ou vice-versa, seu atendimento médico é negligenciado, de acordo com os relatos colhidos. Nas celas de Ceará-Mirim e Alcaçuz, ela disse que há um número assustador de apenados com dermatites diversas, tuberculose, entre outras doenças infectocontagiosas.

"Nunca tínhamos visto tantas pessoas com tuberculose. Durante as entrevistas, vimos pessoas escarrando sangue. Foi uma cena bastante alarmante. Há uma falta de medicação. Há uma desassistência na área da saúde. As celas são superlotadas e insalubres. Os presos só acessam água, que não é potável, três vezes ao dia durante 30 minutos às 7h, 12h e 17h. Eles não conseguem suprir as necessidades em algo básico que é o acesso à água", denuncia a perita.

Além disso, ela aponta que a triagem dos presos que necessitam de atendimento médico é feita de forma aleatória pelos próprios policiais penais. "Eles não têm capacidade técnica para fazer isso. Quem deve fazer isso são os profissionais de saúde entre as pessoas custodiadas para saber quais são seus problemas de saúde. São essas pessoas que têm o conhecimento técnico. Isso também gera uma enorme subjetividade nessa seleção, nessa triagem para atendimento. Se um policial penal tem um problema com determinada pessoa, ela nunca será atendida. Há, também, uma descontinuidade no atendimento", diz.

Coloniese afirma que, hoje, os atendimentos são feitos por profissionais de saúde cedidos pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) em um número aquém do necessário, o que gera descontinuidade do tratamento, na maioria dos casos.

Outra questão que envolve a saúde do preso que será descrita no documento do MNPCT diz respeito à ausência de kits de higiene pessoal entregues pelo Estado aos presos. "Isso viola a Lei de Execuções Penais. As famílias se tornam responsáveis por levar esses aportes de kits de higiene e limpeza, o que é um absurdo. As pessoas que têm famílias sem condições de realizar esses aportes, ficam completamente desassistidas".

Tortura

O MNCPT aponta que há uma enorme fragilidade para investigar denúncias de tortura nas cadeias potiguares. Desde 2017, quando a Força-Tática de Intervenção Penitenciária (FTIP) foi enviada pelo Ministério da Justiça para controlar a rebelião em Alcaçuz, novos meios de contenção de presos, considerados violentos, foram implementados.

"Desde que a FTIP passou pelo Rio Grande do Norte, em 2017, foi implementado o 'procedimento'. A partir do treinamento dos policiais penais para viverem uma rotina como se estivessem em um momento de crise, há uma rigidez enorme e injustificada. O tempo todo, as pessoas detidas estão em 'procedimento'. A partir do comando de voz 'procedimento', as pessoas presas precisam correr, independente do que estejam fazendo, devem ir pro chão, se enfileirar e entrelaçar as mãos na cabeça sem fazer barulho, até que um novo comando de voz os manda sair daquela posição. Isso pode demorar muito e acontece nas quadras, durante o banho de sol. Elas ficam queimadas", destaca Coloniese.

Ela ressalta que a posição na qual são obrigados a ficar por intervalos de tempo variados, causa estresse e dor. Imagens que ilustram o documento do MNCPT mostram presos queimados pelo sol, machucados e com limitações físicas supostamente provocadas pelas ações truculentas dos policiais penais.

"É um absurdo o emprego desse procedimento de uma forma sistemática e isso gera muita tortura psicológica, além de física. Nós conversamos com os presos, para colher os relatos, e explicamos que eles poderiam ficar em posição de relaxamento e quando eles escutavam alguns passos ou barulhos, corriam e se colocavam em posição de procedimento. Há um trauma muito grande em relação a isso e muitos tremiam. Se o preso sai da posição do procedimento, ele é atingido por spray de pimenta e balas de borracha. Nós temos fotos que comprovam isso. Eles têm essa narrativa e as marcas físicas para comprovar", diz a perita.

Conforme a antropóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Juliana Melo, que estuda sistemas carcerários na região há mais de dez anos, o massacre de 2017 resultou na implementação de uma política disciplinar ainda mais "dura" dentro dos presídios do Estado, limitando a entrada de alimentos e de visitas íntimas.

"Esse regime tem características de regime disciplinar para quem está preso em regimes federais, mas sem estar em uma prisão federal. Então, há celas superlotadas e torturas sistemáticas", disse. Ela relata que as restrições adotadas após a pandemia dificultaram o acompanhamento dessas medidas por pesquisadores e outras entidades da sociedade civil.

A situação cercerária, segundo a pesquisadora, se tornou uma "bomba-relógio", e seria um dos principais panos de fundo do caos que se vê hoje no Estado. "As autoridades do Rio Grande do Norte dizem que isso não é sistemático, que se usa a bala de borracha só em algumas situações, por exemplo, mas isso é sistemático, vem sendo denunciado ao longo dos anos. É sabido que isso acontece, está lá dentro, e os presos simplesmente não suportam mais."

Governo diz tomar providências

Em entrevista coletiva, o titular da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap), Helton Edi Xavier da Silva, informou que ainda não recebeu o relatório.

"No final do ano passado, houve essa visita e houve uma reunião do Mecanismo com o Governo do Estado, assim como o CNJ, onde foram apresentadas algumas questões. Desde então, a gente vem conduzindo o fato, tomando as providências que a gente achou pertinente diante daquelas primeiras informações, bem como informando às instituições que têm parte nisso. O Ministério Público com as investigações, a Justiça, a Polícia Civil... Desde então, a gente vem adotando essas providências", comenta o secretário.

No final do ano passado, após as vistorias, os peritos do MNCPT foram recebidos pelo então vice-governador, Antenor Roberto. (COLABOROU ÍTALO LO RE)

Na quarta madrugada consecutiva de ataques criminosos coordenados no Rio Grande do Norte, os prédios públicos foram os principais alvos em Natal e no interior do Estado. Em São Gonçalo do Amarante, município de aproximadamente 115 mil habitantes na região metropolitana, a central de distribuição de medicamentos ficou completamente destruída após um incêndio intencional nas primeiras horas desta sexta-feira (17).

O prejuízo estimado pela prefeitura é de aproximadamente R$ 10 milhões.

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A facção Sindicato do Crime (SDC), que comanda as cadeias potiguares, é suspeita de organizar as ações criminosas desde a noite da segunda-feira (13).

"Amanhecemos com essa notícia muito triste. Aqui existia o depósito de todos os medicamentos que saíam para as Unidades Básicas de Saúde do nosso município. Todos nós estamos de luto, nesta manhã, após esse incêndio criminoso que acabou com nossos medicamentos. Toda a estrutura física do depósito não serve mais e será demolida", afirmou o prefeito Eraldo Paiva (PT).

O prédio integra um complexo de secretarias na área central do município e colapsou com o incêndio. Todo o estoque de medicamentos, de baixo, médio e alto custo, incluindo medicações de uso controlado, foi consumido pelas chamas.

O Corpo de Bombeiros chegou minutos após o início da ocorrência, mas as chamas já tinham se espalhado com facilidade. Para tentar mitigar novas tentativas criminosas, o prefeito solicitou o apoio da Força Nacional à governadora Fátima Bezerra.

Em Natal, na noite da quinta-feira (16), os bandidos atearam fogo ao pátio de motocicletas da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU), no bairro da Ribeira, zona leste da capital.

Conforme a assessoria de imprensa, pelo menos 14 motocicletas utilizadas pelos agentes de trânsito foram destruídas. Em 2017, quando o Rio Grande do Norte vivenciou situação semelhante com a guerra de facções no Complexo Prisional de Alcaçuz, esse mesmo pátio também foi atacado.

No interior do Estado, a sede da Prefeitura Municipal de Campo Redondo sofreu uma tentativa de incêndio. Os criminosos conseguiram incendiar o prédio do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da cidade.

Em São Vicente, o alvo foi o veículo do Conselho Tutelar que estava estacionado na área interna da Delegacia de Polícia Civil.

O número de cidades atingidas pelas ações criminosas se aproxima de 50, o equivalente a aproximadamente um terço do quantitativo de municípios potiguares.

Com o número crescente de cidades com ataques criminosos ordenados por líderes de uma facção criminosa, o Rio Grande do Norte viveu a terceira madrugada de terror. Serviços públicos básicos pararam. Incêndios em depósitos de pneus para reciclagem, automóveis e ônibus privados, máquinas agrícolas e transportes escolares não foram evitados, mesmo com a chegada de parte da tropa estimada em 220 homens da Força Nacional. Investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Norte ligou ontem o assassinato do dono de um mercado na zona oeste de Natal, José Francisco da Silva, à onda de ataques no Estado.

O comerciante, de 68 anos, foi morto na noite da quarta-feira (15) em seu próprio estabelecimento. Conforme a polícia, o grupo tinha a intenção de incendiar o local, portando explosivos. Um dos suspeitos foi preso. O mercado de Zezinho, como era conhecido, foi invadido por quatro homens. Ao tentar fugir, a vítima se envolveu em uma luta corporal com um dos assaltantes, quando foi baleado. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas morreu.

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Um suspeito foi detido, após ser atingido por um dos tiros e buscar auxílio em um hospital. Segundo a Polícia Civil, há vídeos de câmeras de segurança que mostram a ação da quadrilha. No total, 69 suspeitos foram presos até agora.

Os ataques no Rio Grande do Norte começaram na segunda-feira, 13, com tiros disparados contra bases da polícia e veículos queimados, e já atingiram mais de 30 cidades. Segundo o governo potiguar, a onda de violência se deve ao endurecimento das medidas de controle no sistema carcerário. Agora, diz a Secretaria da Segurança, os detentos reivindicam TVs e visitas íntimas, entre outras medidas. Por outro lado, prisões potiguares já foram alvo de denúncias de maus-tratos contra os internos.

'Salve'

O Sindicato do Crime (SDC), grupo que estaria por trás dos ataques nos últimos dias, ofereceu R$ 5 mil por pessoa para incentivar as ocorrências. O grupo, criado há dez anos para fazer frente ao Primeiro Comando da Capital (PCC), pregou ainda a união de facções para reivindicar melhorias nas condições carcerárias. Isso é o que diz um "salve", nome dado a mensagens disparadas pelas organizações, obtido pelo Estadão.

"Tem 'salves' que estão circulando e que dizem claramente que é o Sindicato do Crime convocando esse movimento, para que se tenha esse ataque, orientando determinadas condutas", diz a antropóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Juliana Melo, que estuda sistemas carcerários no Estado há mais de dez anos.

"Nos 'salves' de agora, o que é surpreendente é que eles falam: 'Vamos deixar as rivalidades de lado'. A relação que se tem com o PCC no RN é muito tensa, sobretudo depois do massacre que aconteceu na prisão de Alcaçuz, em 2017", continua. Na ocasião, 26 detentos, associados ao Sindicato do Crime, foram assassinados por membros do PCC enquanto estavam dentro de um pavilhão. O episódio elevou as tensões entre as facções ao longo não só daquele ano, como nos períodos seguintes.

Cadeias

A pesquisadora afirma que, como resposta ao avanço da violência, nos presídios e nas ruas, o governo estadual adotou um regime disciplinar mais "duro" dentro dos presídios, limitando a entrada de alimentos e as visitas íntimas. A busca pela melhoria nas condições nos presídios, em meio a isso, tornou-se uma demanda mais urgente do Sindicato. "A principal pauta que estão colocando são as reivindicações de melhores condições carcerárias", disse a pesquisadora.

A organização criminosa pede que as discordâncias sejam superadas "principalmente entre as siglas", como o PCC. "E que todo o confronto e o (crime) seja contra o (Estado)", afirma a mensagem. "A família SDC-RN está determinando a todos irmãos e companheiros que para atacar todos tipos de órgão público o que for para tocar o caos geral no Estado."

A mensagem, segundo Juliana, pode simbolizar um novo momento. "O que é inédito - e isso ainda vai ser melhor analisado, só o tempo vai dizer - é que nesse salve atual estão dizendo que é para esquecer as rivalidades, inclusive com o PCC", diz a pesquisadora. "Se isso vai se sustentar, se vai ser duradouro, se é efetivo, se foi um convite, se foi uma aposta, ainda é muito cedo para afirmar."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com o número crescente de cidades com ataques criminosos ordenados por líderes de uma facção criminosa, o Rio Grande do Norte viveu mais uma madrugada de terror. A terceira desde o início do que está sendo descrito como atos terroristas. Serviços públicos básicos pararam. Incêndios em depósitos de pneus para reciclagem, automóveis e ônibus privados, máquinas agrícolas e transportes escolares não foram evitados mesmo com a chegada de parte da tropa estimada em 220 homens da Força Nacional, enviados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública na terça-feira (14) após pedido da governadora Fátima Bezerra (PT).

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN) acredita que as ordens para as ações criminosas partiram da Penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga, na Grande Natal, onde cumpria pena José Kemps Pereira de Araújo, um dos fundadores e líderes do Sindicato do Crime (SDC), facção criminosa criada a partir de uma racha na célula local do Primeiro Comando da Capital (PCC) há pouco mais de uma década. Com a nova onda de ataques registrada na capital e cidades do interior, prefeitos anunciaram a suspensão de serviços públicos em Unidades Básicas de Saúde, Escolas e transporte público.

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Em Caicó, no Seridó potiguar, a Câmara de Vereadores foi alvo de tiros durante a madrugada desta quinta-feira, 16. O expediente e eventos previstos foram suspensos. A prefeitura fechou escolas, ginásios de esportes e bibliotecas. No município vizinho, Coronel Ezequiel, a população ficou amedrontada com os ataques na garagem oficial da prefeitura. "Perdemos três ônibus escolares, duas caçambas, um compactador de lixo, dois tratores com grade, um carro da Secretaria de Obras, uma retroescavadeira e a Patrol está quase perdendo um veículo", relatou o prefeito Cláudio Marques.

Na tarde da quarta-feira, 15, Fátima Bezerra chegou a anunciar o retorno do transporte público às ruas de Natal e cidades vizinhas com apoio da Polícia Militar e Força Nacional. Ao longo da noite, porém, novos ataques foram registrados contra ônibus e micro-ônibus. Na manhã desta quinta-feira, minutos após sair da garagem, um ônibus da empresa Conceição foi incendiado e as empresas decidiram recolher a frota integralmente.

As ruas de Natal estão desertas e a população, amedrontada. Os serviços de educação, saúde e coleta de lixo estão suspensos. Muitos trabalhadores não conseguiram chegar aos seus locais de trabalho. O número de cidades com registros de atos criminosos ordenados passou de 30.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, autorizou na quarta-feira (15) o envio de agentes da Força de Cooperação Penitenciária, antiga Força-tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), para o Rio Grande do Norte. O Estado assiste a ataques coordenados nas ruas em diferentes cidades efetuados a partir de ordens emitidas por líderes presos.

A força-tarefa será de caráter "episódico e planejado" pelo período de 30 dias, com o objetivo de coordenar os serviços de guarda, de vigilância e de custódia de presos.

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"A operação terá o apoio logístico e a supervisão dos órgãos de administração penitenciária e segurança pública do ente federado solicitante. O número de profissionais a ser disponibilizado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública obedecerá ao planejamento definido pelos entes envolvidos na operação", informou o ministério na noite desta quarta-feira.

A pasta ressaltou que a força-tarefa não configura uma intervenção federal no Estado, "mas ampara tecnicamente e juridicamente as atividades de cooperação integrada de apoio ao Estado".

Força Nacional

O Rio Grande do Norte já havia pedido e o governo federal já havia decidido pelo envio de agentes da Força Nacional, que começaram a chegar ao Estado na madrugada desta quarta-feira. Dino autorizou o envio de 190 agentes, dos quais 83 já estão em Natal.

"Eles atuarão em ações conjuntas e coordenadas com órgãos locais. As ações da Força Nacional têm por objetivo coibir as ações de terrorismo e vandalismo que têm ocorrido na capital potiguar, bem como proporcionar à população uma maior sensação de segurança e o restabelecimento da ordem pública", declarou o ministério.

"Já há uma queda no número de ocorrências, mas o nosso governo permanece atento e com todo o foco para superarmos o mais rápido possível esse momento difícil", afirmou a governadora Fátima Bezerra (PT) no início da noite da quarta.

Ataques coordenados

Cidades do Rio Grande do Norte estão registrando uma onda de ataques coordenados contra prédios públicos e veículos desde a noite de segunda-feira.

Os casos, que chegaram a cerca de 20 cidades, incluindo a capital, Natal, consistem em incêndios de estruturas de prefeituras e do governo, além de ataques a tiros a bases policiais e sedes do Judiciário.

Com ataques violentos em cerca de 20 cidades do Rio Grande do Norte, incluindo a capital, uma equipe da Força Nacional de Segurança Pública desembarcou no Estado na madrugada desta quarta-feira (15). O anúncio foi feito em uma publicação nas redes sociais pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Ele também informou que policiais serão enviados gradualmente e todas as equipes devem desembarcar até quinta-feira (16).

"Destinamos 220 policiais para auxiliar as forças estaduais", afirmou o ministro.

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A onda de ataques coordenados contra prédios públicos e veículos consiste em incêndios de estruturas de prefeituras e do governo, além de ataques a tiros a bases policiais e sedes do Judiciário. Há a suspeita de que a facção Sindicato do Crime esteja por trás das ações criminosas.

Até a noite da terça-feira, 14, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), ao menos 21 suspeitos de envolvimento nos ataques já tinham sido presos, sendo dois foragidos da Justiça e um adolescente apreendido.

Também foram apreendidas: cinco armas de fogo, um simulacro, 18 artefatos explosivos, três galões de gasolina, quatro motos e um carro, além de dinheiro e munições. Um homem morreu em confronto com policiais, informou a pasta.

A governadora do Estado, Fátima Bezerra (PT), que desembarcou junto com as forças, também se manifestou no Twitter e afirmou que 190 policiais enviados pelo governo federal se juntam nesta madrugada as forças estaduais de segurança. "Não descansaremos até restabelecer a paz, a ordem e a tranquilidade do povo do RN", disse.

Para acelerar a logística, foram cedidos aviões do Ministério da Defesa que viabilizaram a ida dos agentes da Força Nacional para o Rio Grande do Norte.

Além disso, o Ministério da Justiça também determinou que a Polícia Rodoviária Federal aumente o patrulhamento em rodovias no interior do Estado para controlar a movimentação de criminosos.

De acordo com o secretário Rafael Velasco, outros 30 policiais penais integrantes da força de treinamento localizada em Porto Velho, em Rondônia, foram deslocados para Mossoró, município do interior do Rio Grande do Norte que abriga um presídio federal.

Representantes do governo estadual, que se reuniram na sede do Ministério da Justiça na tarde da terça-feira, acreditam que ataques são uma retaliação de criminosos insatisfeitos por causa de mudanças realizadas pelo poder público local no sistema carcerário e com algumas detenções feitas nas últimas semanas.

Três homens presos por tráfico de drogas fugiram neste domingo (29) do presídio em Bangu, na zona oeste do Rio. Um deles é Jean Carlos Nascimento dos Santos, apontado como antigo chefe do tráfico do Morro Dezoito, em Água Santa, na zona norte. O trio, que se completa com Lucas Apostólico da Conceição e Marcelo de Almeida Farias Sterque, é considerado de "alta periculosidade". Eles escaparam usando uma corda feita de lençóis.

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro transferiu, na tarde de ontem, 15 detentos para o presídio Bangu 1. Eles seriam, de acordo com a pasta, integrantes da mesma facção dos três que fugiram da prisão.

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A secretária da Seap, Maria Rosa Lo Duca, foi ao presídio para fazer uma vistoria. Em nota, a secretaria afirmou que "desde que tomou conhecimento do ocorrido, passou a mobilizar as suas forças para apurar as circunstâncias do episódio, suspendendo de imediato as visitas e promovendo uma vistoria geral na unidade".

A pedido de Maria Rosa Lo Duca, os inspetores de Polícia Penal e policiais militares do 14.º BPM (Bangu) realizaram, durante a tarde, uma operação na Vila Vintém, na zona oeste, para capturar o trio. Durante a ação, houve troca de tiros dos policiais contra homens armados no local. Um indivíduo ferido foi localizado e houve apreensão da arma de fogo. Ele foi socorrido para o Hospital Municipal Albert Schweitzer.

Perigo

Jean Carlos Nascimento dos Santos, o Jean do 18, é considerado um detento de "altíssima periculosidade". No dia 31 de outubro de 2016, um PM e uma criança morreram após uma troca de tiros quando criminosos invadiram o Fórum de Bangu. A ação foi comandada por Jean. Ele foi detido em 2017 e indiciado pelo homicídio de Roberto Viegas Rodrigues, que era seu advogado, e por ocultação de cadáver.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Militar (PM) de São Paulo prendeu um dos traficantes mais procurados do Estado de São Paulo na quarta-feira passada. Valter Lima Nascimento, o Guinho, de 42 anos, é considerado pela polícia o braço direito de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, principal fornecedor de drogas para o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais organizações criminosas do mundo. Conforme a polícia, o suspeito era responsável pela principal conexão entre traficantes da América Latina e a facção.

O mandado de prisão de Valter Nascimento foi expedido em setembro de 2020, com sentença de 20 anos e 5 meses de pena em regime fechado pela prática de tráfico de entorpecentes e associação para o tráfico.

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Segundo a Secretaria de Segurança Pública, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) receberam uma denúncia anônima de que dois veículos estariam envolvidos no tráfico de drogas. Um dos automóveis foi localizado pelo sistema Detecta de radares na Marginal do Tietê, no sentido da Rodovia Castelo Branco.

A partir daí, agentes da Rota começaram as buscas pelo automóvel, que foi flagrado estacionado em frente a uma residência na zona oeste. A prisão foi realizada na Praça Vicente Rodrigues, no Butantã, zona oeste de São Paulo.

O suspeito apresentou um documento de identificação falso. Quando os policiais verificaram seu verdadeiro nome, o suspeito confessou que era procurado pela Justiça. Ele já havia sido preso em 2002, 2004, 2006, 2017 e 2019. "A Rota prendeu um dos criminosos mais procurados do país, que atuava no tráfico internacional de drogas e utilizava documentos falsos", informou a corporação nas redes sociais.

Um celular e documentos foram apreendidos. O caso foi registrado como uso de documento falso e captura de procurado pelo 14º Distrito Policial (Pinheiros).

Um dos traficantes mais procurados do Brasil de acordo com a Polícia Civil, Anderson Lacerda Pereira foi preso nesta segunda-feira (5) em Poá, na Grande São Paulo. Segundo os investigadores, o nome dele estava na lista de procurados da Interpol desde 2020 e ele era procurado desde 2017.

Anderson Pereira, também conhecido como Gordão ou Gordo, era investigado por tráfico, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro. Segundo a polícia, ele ficou milionário e se inspirava em traficantes internacionais, como o colombiano Pablo Escobar. Pereira se tornou reconhecido entre os criminosos em 2014, quando intermediou uma venda de cocaína entre a facção criminosa conhecida como PCC e a máfia italiana.

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"A prisão foi um ponto importante para a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Ele tem um nível como o Pablo Escobar. Cabe à Justiça mantê-lo atrás das grades. Nosso trabalho foi feito. É um baque muito grande para o crime organizado e o tráfico de entorpecentes. Essa prisão é um golaço da Polícia de São Paulo", afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, ao Estadão.

Em 2021, o jornal mostrou a trajetória do traficante que imitava o criminoso colombiano Pablo Escobar. Gordão ficou conhecido por ter criado um esquema que combinava o tráfico de drogas com a lavagem de dinheiro, por meio de organizações sociais.

Anderson Pereira é acusado de ter montado 38 clínicas médicas e odontológicas que eram usadas para lavar o dinheiro obtido com o tráfico internacional de drogas. Com esse esquema, o criminoso chegou a dominar os contratos da área de Saúde da cidade de Arujá, também na Grande São Paulo.

Acusado de ser um dos líderes do Narcosul, o cartel da droga do PCC e de seus associados, Pereira esteve foragido no ano passado. A polícia descobriu que ele vivia na região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, com outras lideranças do cartel. A polícia também encontrou pistas de uma passagem sua pelo Recife. Em junho de 2020, ele deixou às pressas um de seus apartamentos antes da chegada dos policiais que cumpriam os mandados de busca e prisão da Operação Soldi Sporchi (dinheiro sujo).

De volta a São Paulo, ele se hospedava em diferentes motéis para fugir da polícia. No dia 15 de agosto, imagens do circuito interno de um desses locais mostram o encontro com a mulher.

Nesta segunda-feira, a polícia também prendeu Jânio, que seria o braço direito do traficante. Acompanhados dos advogados, os dois prestaram depoimentos no 103º DP, onde vão ficar presos preventivamente por 30 dias. Em seguida, eles devem ser encaminhados para uma penitenciária. Pereira já havia sido preso na Operação Alquimia, da Polícia Federal, em 2010, acusado de vender lidocaína e cafeína para traficantes misturarem na droga.

Procurada pela reportagem, a defesa do preso informou que irá se pronunciar no momento oportuno.

Alvo da deferência de assaltantes que devolveram seu telefone celular e o dinheiro desviado de sua conta via Pix após ser roubada, Cynthia Giglioli Herbas Camacho se casou com o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em 2007, após sete anos de namoro. A cerimônia foi realizada dentro da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo.

À época, de acordo com funcionários do presídio, onde funciona o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que não permite regalias nem visita íntima, Marcola e Cynthia não se tocaram. Apenas trocaram olhares pelo vidro à prova de bala instalado no parlatório, local onde os presos recebem as visitas e se comunicam por interfone, aparelho pelo qual os noivos disseram o sim.

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Antes de se casar com Cynthia, Marcola havia ficado viúvo em 2003, quando Ana Maria Olivatto Camacho foi executada na disputa pelo comando da facção.

De acordo com o que Cynthia relatou ao marido, em conversa de novembro do ano passado, revelada neste domingo, 14, pelo programa Fantástico, da TV Globo, ela foi assaltada dentro de seu carro. "O trânsito parou, tomei um susto tão grande. Demorei uns segundos para voltar ao normal", afirmou Cynthia no Parlatório da cadeia. "Aí devolveram porque viram meu nome. Mandaram entregar lá no salão." Marcola, então, riu da situação. Ela ainda afirmou que o caso aconteceu "na Marginal, via expressa", sem especificar se estava se referindo à do Tietê ou Pinheiros.

Em março deste ano, Marcola, que tem mais de 300 anos de pena para cumprir, foi transferido de Brasília para o presídio de Porto Velho, em Rondônia. Na semana passada, a mulher de Marcola foi alvo da Justiça. Batizada de operação Anjos da Guarda, a Polícia Federal frustrou um plano de resgate de Marcola e de outros lideres da facção criminosa. A operação mirou não só líderes do grupo, mas uma série de advogados que representam os criminosos.

Entre as 13 ordens de busca e apreensão cumpridas pela PF no Distrito Federal (Brasília), em Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e em São Paulo (São Paulo, Santos e Presidente Prudente), o juiz da 15ª Vara Federal de Brasília listou a mulher de Marcola. Ela é apontada pelos investigadores como a pessoa que repassa informações de forma codificada a respeito da situação das pessoas que estão envolvidas no plano de resgate.

Este não é o primeiro problema de Cynthia com a Justiça. Ela esteve detida em 2005, acusada de colaborar com o PCC, do qual recebia mesada de R$ 15 mil. Os problemas com a Justiça não pararam por aí. Um ano após se casar, Cynthia foi condenada a oito anos de prisão por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pelo 6º Grupo de Câmaras Criminais do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Em 2020, uma nova operação, feita por policiais da 6ª Delegacia de Investigações sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), teve Cynthia como um dos alvos; além dela também foram alvos seus pais, Marivaldo da Silva Sobrinho e Maria do Carmo Giglioli da Silva, e Camila Giglioli da Silva, Christiano Giglioli da Silva e Francisca Alves da Silva, cunhados do traficante.

A apuração que levou às buscas mirou a evolução patrimonial do grupo que, segundo as autoridades, era incompatível com a renda. O ponto de partida foi a compra de um imóvel de luxo em um condomínio em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Depois disso, os investigadores rastrearam transações imobiliárias milionárias entre os investigados e conseguiram a quebra dos sigilos fiscal e bancário. A suspeita é que as movimentações sejam simuladas e tenham sido subfaturadas como estratégia para ocultar pelo menos R$ 1,9 milhão.

"É certo que a facção criminosa PCC tem proporcionado às lideranças e familiares uma vida de luxo", disse o Grupo de Atuação Especial de Combate do Crime Organização (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo. "De modo geral, verificou-se um grande descompasso entre o acervo patrimonial (imóveis, veículos, etc.) e a movimentação financeira que justificasse as aquisições", completou o Ministério Público.

Até aquele ano, Cynthia, por exemplo, vivia em um condomínio em Alphaville, na Grande São Paulo. Entre 2017 e 2019, ela teria feito viagens para a Europa, Colômbia, Peru, Paraguai e Panamá. Como fonte de renda, tem um salão de beleza no bairro de Casa Verde, na zona norte da capital paulista, onde seu celular teria sido devolvido.

A Polícia Federal (PF) e o Departamento Penitenciário Nacional abriram, na manhã desta quarta-feira (10), uma operação para frustrar plano de resgate de líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) custodiados nas Penitenciárias Federais de Brasília, no Distrito Federal, e Porto Velho, em Rondônia. Entre os detentos que o grupo pretendia soltar está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC que tem mais de 300 anos de pena para cumprir e foi transferido para presídio no norte do País em março.

Outros líderes que os alvos da operação pretendiam resgatar são Edmar dos Santos, conhecido como Quirino, Cláudio Barbará da Silva, Reinaldo Teixeira dos Santos, Valdeci Alves dos Santos, o "Colorido", e Esdras Augusto do Nascimento Júnior.

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Batizada Operação Anjos da Guarda, a ofensiva cumpriu mandados de prisão preventiva contra 11 investigados, além de executar 13 ordens de busca e apreensão no Distrito Federal, em Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e em São Paulo (na capital, Santos e Presidente Prudente).

De acordo com a PF, o plano dos integrantes do PCC "contava com uma rede de comunicação estabelecida entre advogados, que extrapolavam as suas atividades legais, ao transmitir tanto as cobranças dos custodiados quanto os retornos das mensagens dos criminosos envolvidos no resgate".

"Para organizar as atividades ilícitas, os investigados se valiam dos atendimentos e das visitas em parlatório, usando como códigos para a comunicação situações jurídicas que, comprovadamente, não existiam de fato", diz a corporação.

Além disso, os investigadores apontam que os alvos da ofensiva pretendiam "sequestrar autoridades para conseguir a soltura de criminosos".

O nome da operação, Anjos da Guarda, faz referência aos servidores da Segurança Pública, "que se esforçam e se arriscam dia e noite para proteger a sociedade de criminosos", indica a Polícia Federal.

Impulsionada pela maior presença digital da população por causa da pandemia e pela agilidade das transações bancárias, a aplicação de golpes avança no País. Investigações apontam que organizações criminosas também passaram a investir nessa modalidade. Como resposta à alta, as polícias e o Ministério Público dos Estados têm criado, ou mesmo fortalecido, grupos especializados em combater crimes cibernéticos.

O objetivo principal, apontam, é desarticular quadrilhas que estão investindo em aplicar desde golpes do motoboy a invasão em contas de Instagram e WhatsApp. Parte das investigações é incipiente. A tendência, porém, é que se intensifiquem nos próximos anos. Como mostrou o Estadão, só em golpes bancários o volume deve atingir R$ 2,5 bilhões este ano.

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"Há um movimento das facções criminosas em utilizarem certos aparatos tecnológicos para movimentar dinheiro e fazer lavagem de dinheiro. Participam também de esquemas de pirâmide, usando bitcoins e outros ativos", disse o promotor de Justiça Roberto Alvim Júnior, que coordena o CyberGaeco, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, um dos Estados que viram os casos de estelionato triplicarem em um período de três anos, segundo dados oficiais.

Atualmente, os crimes de estelionato descritos como mais frequentes no País são o do perfil falso no WhatsApp, em que criminosos se passam por outra pessoa para pedir dinheiro emprestado, e o das falsas vendas no Instagram, em que perfis são invadidos para publicação de anúncios de produtos que não existem. Os tidos como "clássicos", como falsos leilões e ofertas de emprego ilusórias, também seguem sendo aplicados.

Os golpes avançaram principalmente na pandemia, afirma Alvim Júnior, já que mais pessoas passaram a recorrer a soluções digitais. Os criminosos, então, seguiram esse movimento e sofisticaram as ferramentas. "A partir do momento em que o smartphone ficou bem mais popularizado, que se consolidou a rede 4G e os aplicativos de banco permitiram mais ações dos usuários, os golpes passaram a se propagar."

Segundo o promotor de Justiça Mauro Ellovitch, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o perfil falso no WhatsApp é o golpe mais recorrente no Estado - foram 32,9 mil registros de estelionato por meio do aplicativo de janeiro a setembro do último ano.

Em ação recente, a Coordenadoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos (Coeciber) prendeu uma quadrilha que aplicava golpes do tipo. "Eles usavam como base dados vendidos por empresas de big data para score de crédito", explicou. Após os vazamentos, por infiltrados ou obtidos por meio de hackers, entra em ação um mercado de comercialização de dados entre quadrilhas, o que facilita os golpes.

PERFIL

Muitos dos crimes de estelionato, que dobraram no Estado em três anos, afirmou Ellovitch, são feitos por organizações criminosas estruturadas, algumas delas ligadas a grandes facções. "A gente já identificou quadrilhas ligadas ao PCC (Primeiro Comando da Capital), ao Comando Vermelho. Os crimes cibernéticos são crimes de baixo risco, grande lucro e para os quais o Estado ainda não se estruturou adequadamente para reprimir. O criminoso vê isso como oportunidade, como um mercado a ser explorado."

Como o Estadão revelou em abril, os altos lucros obtidos por quadrilhas que fazem roubos por meio do Pix, ferramenta de pagamento instantâneo, atraíram a atenção do PCC, conforme investigação da Polícia Civil de São Paulo. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) identificou que a facção atua no controle de crimes de transferência de dinheiro com celulares roubados, após rastrear uma célula na Bela Vista, na região central.

"Temos visto desde crimes de estelionato cometidos de forma aleatória a alguns cometidos após vazamento de dados", afirmou o delegado André Junji, da 2.ª delegacia especializada em crimes cibernéticos do Deic. Anteriormente, o departamento contava com apenas uma delegacia especializada em investigações do tipo. Hoje, são quatro. Cerca de 70 policiais trabalham diretamente só com essa modalidade.

As quadrilhas costumam mirar em pessoas com dois perfis: idosos, que estão mais suscetíveis a não ter familiaridade com novas tecnologias, e aqueles que normalmente fazem muitas tarefas ao mesmo tempo. "Esse segundo perfil são pessoas que perceberiam o golpe em situações mais tranquilas. Mas na correria do dia a dia, em que vão fazendo tudo no automático, acabam caindo", disse Douglas Vieira, titular da Delegacia Especializada de Defraudações (Defa), da Polícia Civil do Espírito Santo.

DIFICULDADES

"Vi casos em que os criminosos conseguem disparar de 5 a 6 mil mensagens por minuto para números diferentes, isso para ver quem cai no golpe", afirmou Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Como as quadrilhas não precisam estar no mesmo local da vítima, há dificuldades extras para as polícias. "Um sujeito no Rio consegue aplicar um golpe em São Paulo, um sujeito no Acre consegue aplicar um golpe na Bahia. É preciso ter uma regulação muito maior da abertura de contas e uma desburocratização da investigação criminal."

Delegado-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Distrito Federal, Giancarlos Zuliani destaca que as quadrilhas especializadas em crimes de estelionato podem ser formadas por membros de diferentes Estados. "A pessoa que manda mensagem é um criminoso, a pessoa que arruma uma conta laranja para receber o dinheiro conta é outra e o líder costuma ser quem conversa com quem faz a fraude e com quem recruta as contas", disse. "Apesar de ter a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), a gente percebe que na prática existem vários sites vendendo dados das pessoas."

SP LIDERA

Nenhum crime cresce tanto no País quanto os golpes. Dados reunidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que os registros de estelionato praticamente triplicaram em um período de três anos. As ocorrências foram de 426.799, em 2018, para 1.265.065, no ano passado - o que corresponde a 3.465 casos por dia. Em números absolutos, São Paulo lidera. Em termos proporcionais, destacam-se Distrito Federal e Paraná.

No recorte de golpes aplicados especificamente por meios eletrônicos, o aumento registrado no período é ainda maior: o número de ocorrências passou de 7.591, em 2018, para 60.590, no último ano. Apesar da diferença expressiva, a modalidade ainda é considerada muito subnotificada, uma vez que pouco mais da metade das unidades federativas destaca essa variação nas estatísticas.

A mais recente edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada em junho, aponta que o Estado que mais registrou golpes em 2021 em números absolutos foi São Paulo, com 382.110 notificações - 1.046 casos diários. A Secretaria de Segurança Pública informou também levar em conta boletins com tentativas de aplicar o crime. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao menos 35 presos ligados à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) renderam os guardas e fugiram da Penitenciária Regional de Misiones, no Paraguai, no fim da tarde deste domingo (7). O centro prisional fica a 330 quilômetros de Foz do Iguaçu, no Paraná, e a 480 de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, cidades da fronteira com o Brasil. A Polícia Nacional do Paraguai comunicou a fuga às secretarias de Segurança Pública dos dois Estados brasileiros.

Um grande efetivo foi mobilizado para um cerco aos fugitivos, mas até a manhã desta segunda-feira, 8, apenas 15 tinham sido recapturados, segundo o Ministério da Justiça. Um deles foi baleado, mas sobreviveu. O comandante das forças de busca, comissário Baldomero Benitez, pediu apoio aéreo após informar que uma parte dos fugitivos havia deixado a região de Misiones. Segundo ele, os foragidos já podem ter chegado às fronteiras do Brasil e da Argentina.

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Na manhã desta segunda-feira, o ministro da Justiça paraguaio, Édgar Olmedo, anunciou uma intervenção na penitenciária e o afastamento definitivo do diretor do centro de reclusão. Segundo ele, os presos foram recrutados como "soldados" pelo PCC. "Em sua maioria, são cidadãos paraguaios vinculados ao grupo criminoso brasileiro PCC, havendo entre eles alguns com função de hierarquia no braço paraguaio da facção", afirmou.

Conforme relatório divulgado pela administração prisional, no fim da tarde de domingo, os presos que estavam no pavilhão reservado a integrantes do PCC renderam os carcereiros, tomaram suas armas e os usaram como reféns para sair do pavilhão. Em seguida, eles pularam a muralha, usando cordas feitas com lençóis.

De acordo com o ministro, não está descartada a possível cumplicidade dos guardas com os fugitivos. O diretor do presídio estava suspenso do cargo depois que uma operação do ministério encontrou grande quantidade de armas e drogas em poder dos presos. Ainda segundo Olmedo, a fuga expõe toda a sociedade pois entre os fugitivos estão detentos de alta periculosidade, acusados de homicídios, assaltos e tráfico internacional de drogas.

Para Olmedo, o episódio reforça a influência que o PCC está conseguindo no sistema carcerário paraguaio. Segundo ele, a facção brasileira está ganhando "corpo e espaço" na sociedade paraguaia. Desde que a facção brasileira passou a agir no Paraguai, há cerca de dez anos, disputando as rotas de tráfico de drogas e armas com a facção carioca Comando Vermelho (CV) e grupos locais, o PCC passou a recrutar "soldados", sobretudo nos presídios.

Conforme dados oficiais, 1.060 integrantes do PCC estão espalhados por seis das dez penitenciárias paraguaias que, juntas, abrigam 16.200 presos. A penitenciária de Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, tem o maior número de presos ligados à facção: 480. Já na penitenciária regional de Pedro Juan Caballero, vizinha à brasileira Ponta Porã, são 96 presos vinculados ao PCC.

Outra fuga

Em janeiro de 2020, ao menos 76 presos fugiram da penitenciária regional de Pedro Juan Caballero, por meio de um túnel cavado desde o interior das celas, até o lado externo, passando sob a muralha do presídio. A maioria dos fugitivos era ligada ao PCC, o que pôs em alerta as forças de segurança pública brasileiras. A investigação apontou que a fuga foi facilitada por carcereiros e funcionários do presídio.

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