A alta de 0,55% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) na primeira quadrissemana de maio surpreendeu até mesmo o economista e coordenador do indicador da Fundação Instituto de Pesquisa (Fipe), Rafael Costa Lima, que esperava elevação de 0,50% (ante 0,47% no fechamento de abril). Em entrevista à Agência Estado na sede do instituto, o economista disse que esperava uma aceleração menor do grupo Despesas Pessoais, de 2,14% para a primeira leitura do mês. No dado divulgado nesta quarta-feira, o conjunto desses preços avançou a 2,48% e teve a maior contribuição no IPC, de 53,64%.
Embora ainda contasse mais impactos nos preços dos cigarros sobre o dado cheio, Costa Lima ficou surpreso com o aumento nos preços de pacotes de viagem (4,48%) na primeira medição deste mês. "Sem dúvida, novamente teve influência importante dos cigarros. Há 30 dias, o aumento está sendo incorporado na inflação. Mas a surpresa foi a alta em Viagem/excursão (4,48%), pois é algo atípico para esta quadrissemana", afirmou.
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De acordo com a Fipe, só o aumento nos preços dos cigarros respondeu por 40% do IPC e teve contribuição de 0,22 ponto porcentual. "Sem essa participação, a inflação teria sido menor, de 0,33%. Isso nos indica que a alta do IPC não é generalizada e é pontual", avaliou.
Apesar da leve desaceleração da alta, Alimentação (de 0,45% em abril para 0,42%) teve a segunda maior contribuição no índice cheio da primeira quadrissemana de maio, de 17,71%. O grupo, conforme Costa Lima, fora influenciado pela elevação do subgrupo Semielaborados, que saiu de queda de 0,24% para taxa positiva de 0,60% na primeira quadrissemana de maio, e de Industrializados, que desaceleram (de 0,86% para 0,83%), mas ainda estão em patamar elevado. "A taxa de 0,45% de Alimentação é alta, mas está localizada em poucos produtos", disse.
Para justificar que o aumento não está espalhado, o economista ressaltou que, embora em ritmo menor, os preços de carne bovina ainda estão caindo. Na última quadrissemana de abril, a carne de boi cedeu 2,86% e teve baixa de 1,12% no período seguinte. "Na ponta (de uma semana para outra), os preços já estão subindo quase 2,00%", afirmou, acrescentando que os itens in natura registraram queda de 1,63% na primeira quadrissemana deste mês.
O grupo Saúde (1,00%) apareceu em seguida, com a terceira maior influência (14,08%) no IPC, puxado, como esperado, pelo repasse do aumento nos preços dos medicamentos autorizado pela Agência Nacional de Saúde. Além disso, o grupo sofrera pressão de alta nos preços de contratos de assistência médica (0,64%). "O reajuste demorou a atingir o IPC, mas agora está vindo com força. Na primeira quadrissemana de maio, remédios tiveram elevação de 2,07%. Acreditamos que o impacto não deva ultrapassar esse nível", comentou.
Segundo Costa Lima, apesar do arrefecimento em Vestuário de (0,89% para 0,74%), houve aumento de preço na maioria dos subgrupos: roupa feminina (0,83%), roupa masculina (0,75%), roupa infantil (1,07%), calçados e acessórios (0,66%), tecido e aviamento (-0,17%), relógio, joia e bijuteria (-0,35%). "É a entrada da nova coleção (inverno) chegando com mais força às lojas, mas pode começar a perder fôlego nas próximas medições", afirmou.
No caso de Transportes, o grupo praticamente não mudou a taxa (de 0,18% em abril para 0,17% na primeira quadrissemana de maio), mas contribuiu com 5,35% no IPC. Já Habitação (0,03%) e Educação (0,04%) tiveram influência menor sobre o dado cheio - de 1,83% e 0,25%, respectivamente.