Chico Buarque de Holanda comemora 70 anos em junho, mas os festejos começam agora. No dia 18, por exemplo, as cantoras Lucinha Lins, Virgínia Rosa e Tânia Alves vão se encontrar no Teatro Renaissance para o espetáculo Palavra de Mulher.
Um dos mais importantes eventos em homenagem ao cantor e compositor, porém, estreia na quinta-feira (9), no Teatro Clara Nunes, no Rio: Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, reunião de um punhado de clássicos compostos para teatro e cinema.
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Não se trata, no entanto, de uma simples compilação. "Temos uma relação longa e carinhosa com o Chico e não seria estimulante apenas emendar uma canção na outra", comenta o diretor do espetáculo, Charles Möeller. "Na verdade, é uma homenagem ao talento do compositor, daí nossa opção por fazer uma seleção através de seu viés teatral", completa Claudio Botelho que, além de criar o roteiro, também está em cena.
Ele vive o velho dono de uma companhia de atores que, solitário, faz anotações em um bloco, reunindo reminiscências de seu passado artístico. Não se sabe se as histórias são verdadeiras ou fruto de sua alucinação, mas o que impera é um profundo amor pelo teatro. Suas lembranças tomam vida e, saídas de uma canastra, reproduzem as aventuras e desventuras vividas por uma trupe de saltimbancos, interpretada por Soraya Ravenle, Malu Rodrigues, Davi Guillhermme, Estrela Blanco, Felipe Tavolaro, Lilian Valeska e Renata Celidônio.
"Com as obras que criou para o teatro musical (Gota D'Água, Calabar, Ópera do Malandro), Chico se equipara em importância a Stephen Sondheim, um dos mais importantes criadores da Broadway de todos os tempos. Só lamentamos que ele não tenha continuado a criar mais", comenta Möeller que, junto de Botelho, selecionou quase 50 canções, que traduzem encontros e desencontros amorosos da tal companhia mambembe, que tem sua rotina quebrada com a chegada de uma nova integrante, vivida por Malu Rodrigues.
"Cria-se uma ciranda amorosa, bem ao estilo de Quadrilha, poema de Drummond, mas também fortemente inspirada na Lulu e a Caixa de Pandora, de Frank Wedekind", observa o diretor.
"A opção pelo teatro se explica pelas letras escritas por Chico para seus musicais: todas são pequenas histórias, com começo, meio e fim", conta Botelho. "Nosso trabalho foi alinhavá-las de uma tal maneira a fim de se parecer com um musical original, ou seja, temos a pretensão de oferecer uma obra que parece ter sido especialmente composta pelo Chico."
Möeller e Botelho, os principais criadores do teatro musical do Brasil, têm a necessária intimidade com o trabalho do compositor, pois montaram uma bem sucedida versão de clássicos como Ópera do Malandro e Suburbano Coração, além de Na Bagunça do Teu Coração, dirigida por Bibi Ferreira. Naquelas oportunidades como agora, trabalharam em colaboração direta com Chico Buarque, que aprovou as propostas e cênicas e até se surpreendeu com o poder de apuração da dupla - ele não se lembrava, por exemplo, da pouco conhecida canção Invicta, que praticamente estava inédita.
O resultado surpreende o público pela elaboração e criatividade. Com pleno domínio das técnicas teatrais, Charles Möeller criou um cenário expressionista para abrigar pequenas obras primas cênicas para cada canção, em que a palavra é valorizada. "Como o elenco é predominantemente formado por jovens, o primeiro trabalho foi cada um descobrir a força da letra para só depois se preocupar com a melodia."
O resultado são interpretações emocionantes e até surpreendentes para canções como Tatuagem, Pedaço de Mim e Geni e o Zepelim, com variação de gêneros, ou seja, rapazes cantando músicas normalmente interpretadas por mulheres. O espetáculo vem para São Paulo em agosto e, em novembro, viaja para Portugal. Também será gravado um CD duplo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.