Inaugurado no dia 3 de agosto de 1990, na cidade de Vitória de Santo Antão, em comemoração aos 345 anos da “Batalha das Tabocas”, o estádio Severino Cândido Carneiro, ou, simplesmente Carneirão, serviu de casa durante um bom tempo para o Vitória e o Vera Cruz, clubes da cidade.
Até competições internacionais foram disputadas no estádio, como a Libertadores de futebol feminino de 2012. Naquele ano as semifinais, disputa de 3° lugar, e a grande final do torneio continental foram disputadas lá.
##RECOMENDA##Hoje a realidade do estádio é bem diferente. O Vitória está na primeira divisão do pernambucano e manda seus jogos na Arena de Pernambuco, devido a situação ruim em que se encontra o Carneirão.
Desde o dia 1 março de 2017, em derrota por 1x0 para o Serra Talhada que o estádio não recebe um jogo de futebol. A situação é assustadora. O gramado praticamente não existe, ao invés disso, mato alto e vegetação. Parte do muro do estádio caiu, um pedaço da arquibancada cedeu e deixou buracos comprometendo a estrutura. São inúmeros os problemas visíveis.
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Mas afinal, porque um estádio que recebeu final de Libertadores feminina de 2012, chegou a esse ponto? Quais foram os motivos que levaram o Carneirão a atual situação vivida hoje que não permite ser realizado um jogo de futebol?
Em busca de respostas, o LeiaJá conversou com Márcio Souza, jornalista, e responsável pela coluna “Na Arquibancada” do portal Nossa Vitória. Segundo ele, tudo não passa de briga política.
“Acontece que, o presidente do Vitória é aliado do principal rival do atual prefeito, que comandou a cidade de 2009 a 2016. Nesse período, Paulo Roberto (presidente) foi secretário de Cultura, Turismo e Esportes na gestão, deu uma cuidada no campo, melhorou um pouco, mas deixou de cuidar do espaço quando seu aliado perdeu a eleição em 2016. Já em 2018, a vaidade política do atual prefeito Aglailson Júnior fez com que ele não desse nenhuma atenção ao estádio”, lamenta.
Márcio ainda completou: “Em 2016, Paulo Roberto, que é presidente do Vitória, foi candidato a prefeito contra o atual gestor da cidade e perdeu. 2017 o Vitória chegou a jogar no Carneirão, mas sem nenhum reparo. Mas é aquela história, o prefeito diz que ele (presidente do Vitória) era secretário e não ajeitou o campo para entregar pronto. E diz que não vai mexer porque o time é dele e ele deveria ter deixado o campo em ordem”, completa.
A vaidade da disputa política não recai apenas sobre o estádio. Os torcedores do clube e moradores da cidade de Vitoria de Santo Antão também sofrem com a distância.
“Dói no coração vê um estádio numa situação dessa. Eu tive o prazer de ver esse campo cheio com os dois clubes jogando desde criança. O Vera Cruz que eu gosto muito e o Vitória que eu sou torcedor. E agora está assim o estádio por conta de briga política”, nos conta emocionado o torcedor do clube, João Alves de 35 anos.
Atualmente o Vitória das Tabocas tem mandado seus jogos na Arena de Pernambuco que fica há cerca de 40km de distância do Carneirão, casa do Vitória. Na Arena, o público tem sido pouco. No jogo contra o Sport foram 2.354 ingressos vendidos. Contra o Central foram 942 ingressos e com América, apenas 581 ingressos. Somados, os três jogos não chegam nem a 4 mil ingressos vendidos. As informações são do Borderô da Federação Pernambucana de Futebol (FPF).
O tricolor das Tabocas ocupa a 8° posição na competição com 3 pontos. Dentro de “casa”, além do baixo público o Vitória tem tido um desempenho ruim; perdeu para Sport e Central e venceu o América, somando seus únicos pontos na competição. A distância é um problema segundo João.
“A gente tem que ir para Arena para ver um jogo do Vitória. Muita gente não vai porque é longe e ingresso mais caro tendo um estádio desse aqui a gente tem que se deslocar”, lamenta.
Mas não é apenas a paixão pelo clube que trás saudade dos bons momentos vividos no Carneirão. Os jogos movimentavam a economia, como nos conta Gutierre José da Silva, morador da cidade há 40 anos. “Era muito bom, muito importante. O vendedor ambulante ganhava dinheiro. Isso no começo, nos primeiros cinco anos, até o atual presidente do Vitória se envolver com política. Ai hoje em dia é aquela vergonha, um diz que é o prefeito, o outro diz que é o clube, mas no fim são todos culpados. Só vai prestar depois que sair a politicagem”, salienta Gutierre.
Carente de entretenimento, a cidade de Vitória encontrou no Carneirão um local para reunir amigos e familiares: “Era divertimento para mim, para meus amigos. Para os bairros vizinhos e também para toda nossa cidade. Era bom para todos, mas infelizmente hoje está essa calamidade”, finalizou
A incerteza sobre o futuro do Carneirão não tem previsão de ter um fim. Nem o presidente do clube nem o atual prefeito demonstram interesse em uma trégua. Nossa equipe tentou entrar em contato com a diretoria do Vitória das Tabocas, mas até o momento não obtivemos resposta.
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