Carlos Soares foi um dos poucos presos políticos de Pernambuco que teve como sentença a prisão perpétua na ditadura. Militante do PCB na época que cursava a Faculdade de Geologia, localizada na Rua Dom Bosco, no Centro do Recife, seu nome constava na lista de estudantes que deveriam ser cassados e deixassem as universidades do País.
“Nesse período teve o atentado a Cândido Pinto (líder estudantil que ficou paralítico depois de levar dois tiros), a morte de Padre Henrique. Existia o CCC (Comando da Caça aos Comunistas) que participavam desses atentados. Na época nos sabemos que existia uma lista para eliminar 10 lideranças. Não eliminaram Dom Hélder porque ele era reconhecido internacionalmente”, lembrou Soares.
##RECOMENDA##
Com o racha dentro do partido, Carlos Soares se filia ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e viaja para alguns lugares do Nordeste. Em uma reunião da legenda no município de Pirangi, no Rio Grande do Norte, em fevereiro de 1971. Ele acabou preso pelos militares.
A segunda geração pernambucana contra o regime militar
Francisco de Assis foi uma das vítimas do golpe no Estado
Luciano Siqueira: um líder estudantil contra a repressão
Jornalista foi um dos mais perseguidos pelos militares
“O local (Pirangi) era uma vila de pescadores. Tinha um ônibus que saia às 5h que iria para Natal. Nós saímos nele. Quando passamos por uma comunidade tinha uma barreira enorme, com vários soldados, e era fácil nos identificar em um ônibus de pescadores”, relatou.
Depois de passar três dias no Rio Grande do Norte, o ex-militante voltou para Recife e ficou preso no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). No local, Soares conviveu com Ivone, mulher de Odijas Carvalho – líder estudantil que foi morto no Dops.
“Vimos que a cela dele (Odijas) estava manchada de sangue. Então a gente achou que mataram Odijas. Ouviamos os gritos dele. Poucos dias depois soubemos da sua morte. Conseguimos fazer uma denúncia para fora (da prisão). (...) Com a questão da morte de Odijas suspenderam a tortura”, comentou o ex-militante.
Carlos Soares acabou sendo transferido para o quartel da Aeronáutica, local onde passou por várias torturas. Depois foi levado para a Casa de Detenção do Recife. Com o fechamento do presídio, ele foi encaminhado para a Penitenciária Professor Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá. Lá se uniu a outros militantes contra a ditadura e foi parar na solitária, ficando preso por dois anos e meio.
“Houve várias greves de fome com o intuito de me tirar da solitária. A luta era permanente na Barreto Campelo. Era um dos piores presídios do Brasil. Nós lutamos o quanto pode. (...) Uma das coisas boas que tive de lá foi que saíram dois filhos (das visitas conjugais)”, comentou.
“As discussões que tinham lá entre os companheiros era por coisas que nunca discutiríamos do lado de fora. Nosso mundo foi aquele durante muito tempo, deveríamos nos acostumar. Mas sabíamos que a ditadura um dia iria acabar” completou o ex-militante.
Apesar da Leia da Anistia ocorrer em 1979, Carlos Soares ainda ficou preso e foi transferido para São Paulo, sendo solto somente em 1985. Ao sair do cárcere, acabou estudando sociologia e se tornando especialista nos trabalhos sobre movimentos sociais.
[@#video#@]