Tópicos | Carlos Alberto Decotelli da Silva

Após muitas especulações sobre quem seria o novo ministro da Educação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgou, nesta quinta-feira (25), o novo comandante da pasta. Quem assumiu o cargo deixado por Abraham Weintraub foi o professor Carlos Alberto Decotelli da Silva. A escolha do economista para o Ministério da Educação (MEC) divide a opinião de professores e estudantes. Há quem aprove a escolha, mas também há quem aponte ressalvas sobre sua capacidade de comandar a área educacional brasileira.

Segundo o professor Francisco Coutinho, Docatelli tem potencial para ser um bom ministro. “Ele está na linha do presidente, tem um certo conhecimento, porém ele vai enfrentar algumas problemáticas. E a primeira problemática, a maior de todas, chama-se ‘o presidente da República’”, disse, em entrevista ao LeiaJá. Segundo o docente, essa problemática deve-se ao fato da falta de independência que os ministros têm dentro do governo. “Os ministros não têm autonomia, mesmo tendo uma bagagem de conhecimento e potencial para realizar coisas muito boas pelo Brasil. Aquele que tenta fazer um grande feito, se não for de acordo com a linha do presidente, perde o cargo”, completou. 

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Já de acordo com a professora de história, filosofia e sociologia Cristiane Pantoja, a expectativa é para uma boa gestão. “Quando ele fala que vai fazer uma gestão técnica e não ideológica, é isso o que eu espero dele e vou ficar acompanhando”, disse a docente. Ainda de acordo com Pantoja, o novo ministro pode ser coerente tanto para os estudantes quanto para os professores. “Além dele falar na ampliação do diálogo com as secretarias estaduais de educação, ele também fala do fundo de apoio aos docentes, o Fundep [Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa]”, salientou.

Também na expectativa por uma boa gestão, o professor de redação Felipe Rodrigues espera da Docatelli faça um governo “humanizado”. “Enquanto professor economista, a gente esperar não ver somente números. O trabalho que ele vinha fazendo na Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação era para dar suporte, para criar tecnologias para a inclusão social, então a gente tem uma pessoa que já tem o viés mais aprofundado dos princípios da Educação”, opinou.

As expectativas, segundo Rodrigues, ainda vão além das formações e atuações profissionais. “Por ser negro, por ter experiência enquanto docência, a gente espera mais humanidade, mais reconhecimento de classe, de uma pessoas que com certeza sofreu muito por conta de cor, por conta de estigmas sociais”, disse.

O racioncínio de que Decotelli vire um nome pacificador no MEC também é compartilhado pelo professor de geopolítica Benedito Serafim. "Por ser um especialista em finanças e gestão, a expectativa é que ele venha apagar a fogueira, apagar o incêndio de Weintraub deixou nos desconfotos de gestão entre o ministério, o Congresso e a população", disse. 

Medidas futuras

Ainda de acordo com Coutinho, existem medidas que o ministro deve tomar, que ele categorizou como “ousadas”. “Na parte de Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], ele deve fazer um cronograma muito bacana, honrar prazos e fazer medidas cautelares junto com secretarias dos Estados, a fim de correr atrás desse tempo perdido, para que os alunos, sobretudo da rede pública, possam ter a aulas perdidas”, orientou o professor.

Já as medidas que devem ser priorizadas por Docatelli, segundo o professor Felipe Rodrigues são as básicas. “Em primeiro lugar, achar uma solução viável para, com incremento da tecnologia, que todos tenham acesso à educação de qualidade nesse período de pandemia. Ou tentar equanimizar essa relação díspar entre escola particulares e escola públicas”, pontuou. 

O Enem também é ponto que deve ser pensado com cautela pelo novo ministro, segundo o professor Rodrigues, Segundo ele, mudanças devem ser aplicadas para que a relação desigual seja minimizada entre os estudantes. “Ele deve tentar excluir todas as possibilidades de erros desse novo Enem, ele deve aplicar e conduzir melhor a questão das cargas horárias, a administração desse novo currículo [escolar] de pandemia e pós-pandemia. E, com certeza, ele deve ter a ideia principal da educação: que não temos melhor ou pior conhecimento, temos conhecimentos diferentes”, aconselhou.

Categorias de estudantes reclamam

Se por um lado professores demonstram esperança de uma mudança na gestão, por outro categorias de estudantes criticam a escolha de Docatelli para o ministério. De acordo com uma postagem realizada na conta oficial da União Nacional dos Estudantes (UNE), a escolha de Boslonaro para a pasta educacional não foi boa. “Decotelli nunca atuou ou possui qualquer vínculo com o setor educacional. Sua única experiência com a educação foi quando ficou a frente do FNDE por alguns meses já no governo Bolsonaro e passou mais de 1/4 da gestão viajando”, critica a postagem.

“Decotelli nunca atuou ou possui qualquer vínculo com o setor educacional. Sua única experiência com a educação foi quando ficou a frente do FNDE por alguns meses já no governo Bolsonaro e passou mais de 1/4 da gestão viajando. O único projeto de Bolsonaro é o desmonte. Seguiremos em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade”, completa o texto.

Também em desacordo com a decisão de Bolsonaro, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) afirmou, em postagem, que o presidente não é interessado pela Educação brasileira. “O presidente irresponsável já deixou claro que não se importa com a educação, afinal nunca apresenta alguém da área para conduzir o MEC. Desta vez, a escolha foi por alguém do mercado financeiro. Decotelli, apesar de ter sido presidente do FNDE, é economista”, diz o texto do post.

De acordo com a diretora de Movimentos Sociais da UNE, Dyanne Barros, as expectativas para o novo ministro não são boas. “Hoje é muito difícil a gente ver alguém entrando no governo Bolsonaro e achar que vai sair alguma coisa boa. No final das contas, as pessoas que entram retrocessos para quem ocupa esse país, seja os estudantes, seja os trabalhadores”, disse, ao LeiaJá. 

Sobre o Enem, Dyanne Barros pontua que a escolha de datas neste momento não é benéfica. “Não adianta pontuar uma data se não sabemos como será o calendário letivo. A gente não sabe quando vai voltar, de fato. E aí considerando as pessoas que não conseguem hoje fazer uma prova de Enem. O que a gente deseja hoje é que o novo ministro tenha a consciência de adiar o máximo possível [o Enem], que espere o calendário do ano letivo se regularizar”, pontuou. 

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, na tarde desta quinta-feira (25), o novo ministro da Educação. Quem assume o cargo deixado por Abraham Weintraub é o professor Carlos Alberto Decotelli da Silva.

“Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e Pós-Doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, informou o presidente, por meio de postagem no Facebook.

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O novo gestor chega ao Ministério da Educação (MEC) para enfrentar uma série de desafios. Entre eles, está a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que só terá uma data definida após votação. A prova foi adiada devido à pandemia do novo coronavírus.

Decotelli também deverá dialogar com as universidades públicas e privadas sobre a possibilidade de retomada das aulas presenciais em 2021; as instituições de ensino seguem com atividades remotas até o próximo ano, diante do crítico cenário da propagação da Covid-19.

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