Tópicos | caiapós

O cacique Raoni Metuktire, de 89 anos, conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos dos povos indígenas, está internado em um hospital no Mato Grosso. Sua saúde começou a ficar mais delicada desde a última quinta (16), quando apresentou hemorragia, diarreia e indisposição e foi levado às pressas de sua aldeia que fica no Parque Nacional do Xingu até o Hospital Santa Inês, na cidade de Colíder, a 648 km de Cuiabá (MT). 

Segundo a equipe médica, o líder indígena não apresenta sintomas de Covid-19. Seu sobrinho-neto, Patxon Metuktire, disse ao jornal Folha de São Paulo que Raoni tem se alimentado mal desde a morte de sua esposa, Bekwyjkà Metuktire, em junho. “Eu estive lá e vi que o meu tio ficou muito triste. A morte dela tem muita relação com esse adoecimento dele”, afirmou.

##RECOMENDA##

O medo da Covid-19 vem assolando as terras indígenas e segundo Patxon também vem atormentando seu tio, que demonstrava grande preocupação e dava indícios de um possível quadro de depressão. “Ele relutou muito em querer vir para o hospital por medo de pegar essa doença”, disse ele. 

O Hospital Santa Inês, onde o cacique está internado, é particular, mas não tem estrutura para exames mais complexos, como os que são necessários no caso de Raoni, segundo o médico Eduardo Massahiro Ono. “O Raoni está sofrendo uma hemorragia digestiva, e só um diagnóstico mais preciso vai apontar onde esse sangramento está localizado. Aqui, não conseguimos fazer esse procedimento”, explicou Ono, contando também que para controlar o quadro de anemia, o líder indígena precisa de transfusão de sangue. 

Inicialmente, Raoni seria levado ao Hospital Regional de Colíder, o que não foi possível, uma vez que a unidade de saúde se tornou um centro de referência em tratamento de pacientes com Covid-19 e o risco de mantê-lo lá seria muito elevado. “Vamos levá-lo de avião ainda hoje para Sinop [cidade da região norte de Mato Grosso com mais estrutura clínica]”, disse seu sobrinho-neto Patxon. à Folha, o próprio Raoni, que está lúcido, afirmou que está “ficando forte novamente”. 

Ataques do governo

O Cacique Raoni é internacionalmente conhecido por sua defesa dos direitos dos povos indígenas há décadas. Ainda em 1989, ele teve um encontro histórico com o cantor britânico Sting (ex-The Police) durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA). Em maio de 2019, teve reuniões com o Papa Francisco e com o presidente da França, Emmanuel Macron, em busca de apoio e recursos na Europa para financiar atividades de fiscalização e proteção das terras indígenas caiapós no Brasil. 

As reuniões com lideranças europeias lhe renderam ataques do próprio Bolsonaro, que tem o presidente francês como um desafeto na questão ambiental, apesar da manifesta intenção do cacique de conversar com o mandatário brasileiro, que se recusou a receber o cacique. Em julho, Bolsonaro afirmou que não reconhece o cacique como uma autoridade no Brasil. “Ele é um cidadão, como outro qualquer que nós devemos respeito e consideração. Mas ele não é autoridade", disse o presidente.

Na Assembleia Geral da ONU de setembro de 2019, Bolsonaro elevou o tom. “Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peças de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia." 

Em resposta, o cacique afirmou que Bolsonaro “não tem coração bom", “não tem liderança e tem que sair [do governo]”. Apesar disso, convidou membros do governo a comparecerem ao encontro que presidiu na aldeia Piaraçu, mas nenhum representante foi enviado. 

LeiaJá também

--> Oposição reforça fala de 'genocídio' de povos indígenas

-->  Navio-hospital 'Papa Francisco' integra combate à Covid-19

Um grupo de 47 índios da etnia caiapó, oriundos do sul do Pará, chegou na tarde desta segunda-feira, 2, ao Palácio do Planalto. Eles querem uma audiência com a presidente Dilma Rousseff e ministros para tratar dos impactos ambientais provocados pela pavimentação da BR-163, obra que vai transformar essa rodovia no principal corredor de exportação da soja do Centro-Oeste. "A gente não quer falar com a Funai (Fundação Nacional do Índio). A gente quer falar com as pessoas lá de cima. Se a gente falar com a Funai, ninguém vai resolver", disse o porta-voz do grupo, Doto Takak-ire.

Os índios chegaram de surpresa, passando pela portaria do Planalto sem que a segurança estivesse preparada, o que obrigou os guardas a fecharem as portas de vidro do Palácio. Apesar do movimento, a chegada foi pacífica e os indígenas foram recebidos pelo assessor da Secretaria-Geral da Presidência, Thiago Garcia, que os conduziu para reunião com o secretário nacional de articulação social, Paulo Maldos.

##RECOMENDA##

O grupo cobra a renovação do Programa Básico Ambiental (PBA), que vigorou por cinco anos, repassando recursos para mitigar o impacto da obra na BR-163. "A gente não veio aqui falar com assessor. A gente quer falar com quem manda", anunciou Doto. O porta-voz dos caiapós pediu para falar com Dilma, argumentando ter sido eleitor dela e considerar que era direito dele conversar com a presidente eleita com seu voto. "Todos nós votamos na Dilma e a gente está tendo muito problema com o governo, contra os indígenas. Somos os primeiros habitantes do Brasil. Dilma tem todo o direito de ouvir e a gente ouve ela", disse.

Além de Dilma, os caiapós cobraram audiências com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante; do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; e dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues. O grupo chegou hoje pela manhã a Brasília, depois de dois dias de viagem de ônibus.

"A gente vai ficar até quando falar com todos os ministros", afirmou Doto Takak-ire, enquanto o assessor da Secretaria-Geral negociava com o grupo para deslocá-los para uma audiência com Maldos. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, está no Rio de Janeiro para a 9ª Bienal da UNE.

Um documento entregue pelo grupo critica o "fracasso completo do plano BR-163 Sustentável e do processo de licenciamento ambiental que não controla a execução dos Programa Básico Ambiental - PBA e, muito menos, responsabiliza o empreendedor (DNIT) pela situação".

"Os impactos negativos decorrentes da abertura da rodovia sobre as populações indígenas e sobre o meio ambiente datam de sua abertura e não foram objeto de preocupação e reparação por parte do poder público", critica o texto.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando