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O referendo realizado neste domingo (7) na Suíça para proibir esconder o rosto em público, uma medida que visa as poucas mulheres que usam o niqab e a burca, está acirrado no país alpino.

Pouco depois das 11h30 GMT (8h30 de Brasília), as primeiras projeções do instituto gfs.bern e do serviço público de audiovisual suíço apontavam o 'sim' à proibição como vencedor com 51%, mas com margem de erro de três pontos.

Se o 'sim' vencer, a Suíça seguirá os passos da França, Áustria, Bulgária, Bélgica e Dinamarca a proibir o véu completo, após anos de debate.

Se o texto não menciona a burca (uma espécie de túnica longa que cobre as mulheres da cabeça aos pés e tem uma rede na altura dos olhos) ou o niqab (que cobre completamente o corpo e o rosto, exceto os olhos), todos sabem a quem está se referindo.

Para quem não entendeu, mulheres usando niqab aparecem nos cartazes da campanha "Acabar com o Extremismo".

Por sua vez, os cartazes dos opositores da iniciativa apelam ao voto "não a uma lei islamofóbica, absurda e inútil".

Se a iniciativa for aprovada, será proibido cobrir completamente o rosto em público, embora estejam previstas exceções, por exemplo, para locais de culto.

"O objetivo da iniciativa não são os muçulmanos. Não questionamos suas práticas religiosas", disse à AFP Jean-Luc Addor, porta-voz do 'sim' e membro do partido populista de direita UDC. Para ele, trata-se de defender "os valores da nossa civilização".

Addor reconhece que existem muito poucas mulheres que usam esse tipo de vestimenta na Suíça. Mas, "quando um problema é identificado, deve ser resolvido antes que saia do controle".

Muitas organizações feministas se opõem à proibição.

"Além de inútil, este texto é racista e sexista. Em pleno 2021, como feministas, não é aceitável que a Constituição suíça tenha um artigo que ordene ou proíba as mulheres, seja ela quem for", disse à AFP Inés El Shikh, porta-voz do coletivo feminista muçulmano "Lenços Violetas".

Para El Shikh, o projeto de lei cria a ilusão de um problema onde não há nenhum e diz respeito a apenas algumas dezenas de mulheres.

- Turistas -

O governo federal e o Parlamento se opõem a essa medida, argumentando que trata de um problema que não existe.

Sua alternativa, que seria adotada imediatamente em caso de fracasso do sim, obrigaria as pessoas a mostrarem o rosto quando as autoridades exigirem para fins de identificação, por exemplo, nas fronteiras.

As infratoras podem ser multadas em até 10.000 francos suíços (US$ 10.800).

A ministra da Justiça da Suíça, Karin Keller-Sutter, ressaltou que a grande maioria das mulheres que usam niqab são turistas. Antes da pandemia do coronavírus, não era incomum vê-las fazendo compras em lojas de luxo no centro de Genebra.

Liberais e políticos de esquerda aderiram à iniciativa do partido UDC em nome da proteção dos direitos das mulheres.

Na Suíça, 100 mil assinaturas a favor de uma proposta são suficientes para que os cidadãos opinem em referendos. É uma democracia direta que é o orgulho deste rico país de 8,6 milhões de habitantes.

Para que o sim ganhe, deve obter a maioria dos votos e prevalecer na maioria dos 26 cantões.

Segundo dados de 2019 do gabinete de estatísticas, cerca de 5,5% da população suíça é muçulmana, essencialmente com raízes na ex-Iugoslávia, onde essa tradição não existe na indústria do vestuário.

Em 2009, os suíços votaram pela proibição da construção de minaretes em mesquitas, gerando raiva em países muçulmanos e sendo aclamada por partidos nacionalistas europeus.

Dois cantões já proíbem a cobertura do rosto.

Depois de denunciar o diretor de sua escola por assédio sexual, a estudante Nusrat Jahan Rafi, de 19 anos, foi queimada viva na instituição de ensino pelos próprios colegas. O caso aconteceu em Bangladesh, país conservador do sul da Ásia.

Nusrat teve a coragem que poucas mulheres que são vítimas de abusos sexuais no país tiveram, já que em Bangladesh elas escolhem manter os casos em segredo, por medo de serem humilhadas pela sociedade ou por suas próprias famílias.

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Rafi procurou a polícia para denunciar o abuso. Em depoimento, ao invés de ter garantido o ambiente de segurança, a vítima foi filmada pelos policiais enquanto fazia a denúncia. Ela era de uma família conservadora e frequentava uma escola religiosa. Por isso, para uma garota em sua situação, relatar o assédio sexual pode trazer consequências.

Mesmo diante de tudo isso, a mulher foi adiante com a denúncia e o diretor de sua escola foi preso. De acordo com  a BBC, as coisas pioraram para a jovem com a prisão do abusador. As pessoas começaram a culpar Rafi e a sua família, que começou a se preocupar com a segurança.

No dia 6 de abril, a vítima precisou ir à escola para fazer as provas finais do semestre. Lá, uma estudante levou Rafi para o último andar da unidade de ensino. No local estavam cinco pessoas usando burcas e começaram a pressionar para que a vítima retirasse as acusações contra o diretor.

Na negativa da Rafi, os suspeitos atearam fogo contra ela, que conseguiu fugir e, no caminho para o socorro, gravou um depoimento sobre o fato. Com 80% do corpo queimado, a vítima não conseguiu sobreviver e morreu no dia 10 de abril.

Notícias sobre o caso dominaram Bangladesh, o que acabou mobilizando muitas pessoas a iniciarem um protesto contra os abusos sexuais cometidos no país. Desde então, a polícia prendeu 15 pessoas, sendo sete que estariam envolvidas com o assassinato de Rafi. Mensagens como "Burcas não param os estupradores" estão viralizando no local.  

O ministro do Interior alemão pediu nesta sexta-feira (19) uma proibição parcial da burca, num momento em que a integração está no centro do debate político após dois ataques terroristas em julho e antes de importantes eleições regionais.

"Estamos de acordo em rejeitar a burca, estamos de acordo que também queremos introduzir legalmente a obrigação de mostrar o rosto onde for necessário para nossa sociedade: ao volante, nos processos administrativos (...) nas escolas e nas universidades, nos serviços públicos, ante os tribunais", disse Thomas de Maizière em declarações à rede de televisão ZDF.

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De Maizière sustentou que um véu inteiro não é compatível com "uma sociedade cosmopolita". "Queremos mostrar nossos rostos uns aos outros e esta é a razão pela qual concordamos em rejeitar isso, agora a questão é como traduzimos isso em uma lei", disse.

Esta proposta ocorre num momento em que há uma polêmica na França pela decisão de vários prefeitos de proibir o burkini, traje de banho que cobre a mulher da cabeça aos tornozelos.

De Maizière defendeu uma proibição parcial da burca, enquanto setores mais duros do partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata Cristã, apoiam uma proibição total. A proibição parcial provavelmente ganharia apoios no Parlamento, sustentou o ministro, que na semana passada havia dito que uma proibição total do véu seria, em sua opinião, inconstitucional.

No entanto, não estabeleceu um calendário para introduzir esta proibição, que foi defendida há tempos pelos conservadores, mas que não conta com a adesão dos sociais-democratas (SPD), sócios de Merkel no governo. "Vamos etapa por etapa, mas acredito que muitas coisas podem ser aprovadas", disse.

Após uma série de ataques em julho, alguns dos quais reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), o ministro anunciou no dia 11 de agosto uma série de medidas para reforçar a segurança no país.

Tanto o ministro do Interior quanto a chanceler Merkel reiteraram nos últimos dias que o véu integral não é um problema de segurança, mas uma barreira para a integração.

"Do meu ponto de vista, uma mulher com véu integral não tem quase nenhuma oportunidade de se integrar", disse Merkel em uma entrevista publicada nesta sexta-feira em um jornal regional.

- Duas eleições -

A postura que De Maizière defende agora representa uma concessão à ala mais conservadora, quando se aproximam duas eleições em Estados chave no próximo mês, em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e em Berlim, num momento em que o partido de extrema-direita populista Alternativa para a Alemanha (AfD) está posicionado para ter um avanço importante.

A Alemanha, que acolheu mais de um milhão de refugiados em 2015, ficou abalada em julho pelo ataque com um machado cometido em um trem por um adolescente de 17 anos, provavelmente afegão, que deixou cinco feridos, e por um atentado lançado por um suicida que feriu 15 pessoas nas imediações de um festival de música.

Atingida pelas críticas e enfrentando uma queda de popularidade, Merkel disse que a ameaça terrorista não tem relação com sua política de abertura aos demandantes de asilo.

"O fenômeno do terrorismo islamita do EI não é um fenômeno que tenha chegado até nós com os refugiados, era algo que já existia", declarou em um comício.

A organização de um "dia do burkíni", traje de banho islâmico de corpo inteiro, por uma associação de mulheres muçulmanas em um parque aquático privado do sul da França provocou uma forte polêmica entre as autoridades locais, que exigiram a sua proibição.

A associação de mulheres, que trabalha nos bairros pobres do norte de Marselha, havia alugado o Speed Water Pacr para o dia 10 de setembro, com o slogan de não vestir um bíquini, mas um traje de banho que cobrisse o corpo "do peito aos joelhos".

"O parque autoriza excepcionalmente o Burkini/Jilbeb (túnica) de banho", afirmava o cartaz da associação Smile 13. No Facebook, explicava que esta vestimenta era necessária devido à presença de professores de natação do sexo masculino.

"Os meninos estão autorizados até os 10 anos", afirmava.

Este evento é "comunitarismo recalcitrante", afirmou Florian Philippot, braço-direito da ultradireitista Marine Le Pen.

Michel Amiel, prefeito de esquerda de Pennes-Mirabeau, localidade de 20.000 habitantes onde se situa o parque aquático, anunciou que emitirá uma ordem municipal proibindo o evento devido à possibilidade de que provoque "problemas de ordem pública".

"Considero este evento como uma provocação que não precisamos no contexto atual. É comunitarismo puro e duro", declarou nesta quinta-feira ao jornal Le Parisien/Aujourd'hui en France este responsável.

A deputada do partido Os Republicanos (direita) Valérie Boyer afirmou no Twitter que "aceitar esta suposta moda é reforçar o comunitarismo" na França. "Mas também é uma questão de dignidade das mulheres, uma questão de respeito aos nossos princípios fundamentais", acrescentou.

Na França, os símbolos religiosos, incluindo o véu islâmico, são proibidos nos estabelecimentos educacionais, com exceção das universidades e para os trabalhadores dos serviços públicos.

O surgimento de "burkinis" e de hijabs em coleções de moda de marcas internacionais foi criticado em março pela ministra socialista do Direito das Mulheres, Laurence Rossignol, que o considerou uma "promoção do encerramento do corpo das mulheres".

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