O vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, terá de prestar depoimento à Justiça Federal, nesta segunda-feira, em caso que o investiga por negócios incompatíveis com cargo público, relacionados à compra de uma gráfica que imprime dinheiro argentino. Ele é acusado de agir para apropriar-se da empresa por meio de um suposto testa-de-ferro e amigo, Alejandro Vanderbroele. Boudou nega as acusações e alega manipulação do juiz responsável pelo caso e da imprensa crítica ao governo para atingi-lo.
O caso veio à tona há dois anos, mediante investigações jornalísticas. Mas Boudou só foi citado há cerca de 15 dias. Esta é primeira vez na história do país que um vice-presidente em exercício é intimado pela Justiça para depor como suspeito. Pesquisa da respeitada consultoria Management & Fit, encomendada pelo jornal Clarín, revelou que 42,5% dos argentinos consideram que Boudou deve renunciar ao cargo.
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Em mostra de 1.600 entrevistados realizada entre os dias 30 de maio a 4 de junho, 11% pensam que o vice-presidente deve pedir licença, enquanto 21,5% acreditam que ele deve permanecer no governo. E, 24,5% não souberam responder. A enquete mostrou ainda que mais da metade da população - 55,2% - acreditam que Boudou é culpado e apenas 11,4% pensam que o caso é resultado de uma "manipulação da imprensa".
A mesma pesquisa apontou que 34,8% dos entrevistados acredita que ele será processado. Outras causas que pretendiam investigar integrantes do governo de Cristina Kirchner, ao longo dos últimos anos, foram arquivadas. A Management & Fit também mostrou que Boudou é o funcionário público do governo Kirchner com pior imagem pública, com 57,4%.
Há pouco, o juiz federal Ariel Lijo, responsável pelo caso, recebeu um pedido de um advogado para que o interrogatório seja transmitido pela TV. Solicitação neste sentido já havia sido negado na semana passada, quando Boudou desafiou Lijo a permitir a transmissão ao vivo do interrogatório, especialmente pela emissora TN (Todo Notícias) uma das emissoras do Grupo Clarín, declarado pelo governo como inimigo.
Hoje de manhã, o chefe de Gabinete de Ministros, Jorge Capitanich, reiterou pedido, em claro sinal de que a presidente Cristina Kirchner e seu governo tentam proteger o vice-presidente. "Seria muito bom ter transparência e visibilidade desta causa (...). É uma excelente oportunidade para que o povo tome conhecimento de todas as razões e a Justiça e um juiz possam agir sem pressões de nenhuma natureza", disse Capitanich.
Boudou é acusado de tráfico de influência, quando era ministro de Economia. Ele manteve reuniões com os então donos da gráfica Ciccone e, posteriormente, pediu à Administração Federal de Rendas Públicas (AFIP, pela sigla em espanhol), equivalente à Receita Federal, um plano fiscal especial para ajudar a empresa a sair da falência. O plano envolvia a aquisição da empresa por um fundo denominado The Old Fund, cuja única cara visível é de Alejandro Vanderbroele.