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Chamado de genocida por menorizar os riscos da covid-19 e solicitar que escolas e comércios sejam reabertos no Brasil, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) vai complicando ainda mais seu - já baixo - poder de articulação política. Ao tratar a pandemia que já matou cerca de 19 mil pessoas no mundo como uma “gripezinha”, o mandatário já foi repudiado por representantes do Congresso Nacional e das unidades federativas, mas aproveita o caos para pôr a democracia novamente na corda bamba.

Após um pronunciamento catastrófico, do ponto de vista das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde, na manhã desta quarta-feira (25), Jair Bolsonaro sugeriu um futuro incerto para a democracia no Brasil. “Todos pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem. Ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil”, afirmou.

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Tal posição o afasta ainda mais do Poder Legislativo, que já mantinha uma relação distante e episódio de atrito com o presidente. “O clima político é muito ruim. É de isolamento e tendência ao agravamento da crise”, analisou a cientista política Priscila Lapa. Em seu entendimento, tal isolamento já é considerado severo e projeta que o Congresso siga votando nas medidas emergenciais necessárias para conter os efeitos da pandemia. O cientista político Elton Gomes divide a mesma opinião e calcula que, entre seis meses e um ano, as únicas atividades legislativas no país terão caráter emergencial.

Importância o Judiciário

Na ótica de Lapa, o Judiciário vai ter a responsabilidade de controlar a cenário político e as futuras deliberações para auxiliar Estados e municípios, como por exemplo, determinando que as administrações não paguem a dívida com o Governo Federal durante o período pandêmico. “Ele pode tentar fazer isso [com que os Estados paguem], mas vai sofrer pressões do Congresso para aprovar esse pacote econômico e vai haver uma judicialização muito grande. Ele tá perdendo a oportunidade de ser o grande líder de todo esse processo”, afirmou, antes de concluir, “Bolsonaro tá abrindo mão disso para ir para a estratégia do enfrentamento praticamente sozinho”.

Sob a política de enfrentamento, o presidente aproveita os reflexos da pandemia para voltar a atacar o Estado Democrático de Direito com a declaração sobre um futuro incerto. “Ele não é uma pessoa com noção democrática. Ele não acredita nisso como valor político. Eu não descartaria que diante do isolamento, ele esteja forçando que a Ordem seja estabelecida por uma via não democrática”, pontua a especialista.

Mesmo com o tom demagógico de Bolsonaro e os elementos necessários para consumar a abertura do processo de Impeachment, Lapa acredita que a saída do presidente não será imediata. “Pela primeira vez, apesar da polarização, a gente começa a ver uma tendência majoritária de rejeição ao governo Bolsonaro. Apesar da crise, as pessoas estão focadas na sobrevivência”.

Um andorinha só

Rodeado apenas por alguns aliados do Partido Social Liberal (PSL), representantes das bancadas da bala e evangélica, as atitudes errôneas do presidente resultaram na perda da sua capacidade de gestão. Mesmo com apoio militar, o cientista Elton Gomes entende que a realidade de um regime autoritário esteja distante. “Praticamente isolado no Poder como Bolsonaro está hoje, eu acho altamente improvável que ele dispusesse de condições políticas e militares para dar um golpe de Estado. Agora, claro, várias falas já mostraram que ele relativiza o conceito de democracia”, entende Gomes, que crava: “Ele está interessado no Poder, mas não vejo condições porque as Forças Armadas têm se mostrado muito zelosas na manutenção da ‘normalidade institucional’”.

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O senador Lindbergh Farias (PT), no final da tarde desta terça-feira (2), disse que o presidente Michel Temer (PMDB) acabou de pedir que o ponto de todos os servidores federais, participantes da greve geral, fosse cortado. “É a marca de um governo autoritário. Nós não vivemos mais em uma normalidade democrática. Veja bem, na história, não tem isso de cortar ponto de trabalhador em uma greve geral. Mais uma medida autoritária desse governo ilegítimo”.

“Esse presidente ilegítimo Michel Temer acabou de soltar orientação mandando cortar ponto de todos os servidores públicos federais que participaram da greve geral. Esse governo não tem limites”, declarou o parlamentar. 

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Lindbergh também disse que, no Senado Federal, tramita um projeto sobre o assunto. “É uma proposta sobre regulamentação de greves, que é praticamente proibindo greve no serviço público (...) se eles acham que os servidores públicos federais vão se intimidar, eu acho que a resposta vai ser justamente o contrário. Agora é a marca de um governo autoritário”, cravou.

O petista também falou sobre o aumento da violência no país. “Minha solidariedade aos três militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que foram presos em São Paulo. São presos políticos da greve geral. [Também] ao massacre de oito trabalhadores sem terra no Mato Grosso. Agora, no Maranhão, o absurdo contra indígenas atacados a facões e a tiros. Querem acabar com a política de demarcação de áreas indígenas”, criticou.

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