Em Olinda, Carnaval é uma brincadeira séria. Tanto é que a preparação para a grande festa começa com bastante antecedência, ainda em setembro, o que dá aos foliões uma larga folga com vários meses para curtir, subindo e descendo as ladeiras históricas ao som de muito frevo. Porém, tão certo quanto o início precoce da folia na cidade e das várias semanas de prévias animadas e lotadas de gente, são as ocorrências violentas com arrastões, tumultos, garrafas ‘voadoras’ e prejuízo para visitantes, moradores e comerciantes. Todo ano a fórmula se repete e agora, em 2023, não parece que será diferente.
No último domingo (8), o primeiro de prévias deste ano, o que se viu ao final do dia foram cenas de pânico, selvageria e muito quebra-quebra na Cidade Alta. O início do esquenta para o Carnaval - aliás, um Carnaval muito esperado após dois anos sem festejos por conta da pandemia do novo coronavírus - foi marcado pela violência e medo. Curiosamente, este também foi o dia em que percorreu as ruas históricas o cortejo das ‘Águas de Oxalá’, celebração religiosa que tem como objetivo pedir paz e proteção para o período carnavalesco.
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Ao final do dia, os vídeos das confusões tomaram as redes sociais e os comentários que se viam nas postagens traziam algo em comum: tais cenas já são esperadas pelos foliões, acostumados à violência do período. “Olinda só presta até às 18h depois disso só tem arrastão, confusão e roubo. Todo ano é a mesma coisa”; “Não vale ficar após às 17:30! Isso nunca mudou, de noite começa arrastões e confusões”; “Muita gente deixa de curtir com medo desse tipo de situação é lamentável”, diziam alguns internautas.
No entanto, tais incidentes não aparecem nas redes sociais somente após sua ocorrência. Durante a semana que antecede as saídas de blocos e prévias olindenses, é possível encontrar uma movimentação em diversas páginas e grupos de aplicativos de mensagem comentando sobre as ações e até estimulando sua realização. São páginas de grupos de bairros, popularmente chamados de “galeras”, que combinam para irem às ruas exaltarem sua rivalidade com gritos de guerras, confusão e correria.
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Em uma dessas páginas, um vídeo do último domingo (8) foi publicado e o que se vê entre as reações dos seguidores é comemoração e provocação para a próxima semana. Entre os comentários estão frases como: “Mostrem um vídeo dando ATROPELO em nós prf se eu quisesse ver gente cantando eu ia para o The Voice”; “Pancadaria começa quem ficou na frente noix atropelou”; “Domingo tem dnv k cuida os piha ta sem amor”. (sic)
A provocação entre os grupos contínua nos stories. Em um deles, o ADM da página postou comentários indicando a localização dos encontros: “Chega lá na página dos caras, vocês vai ver os story, eles escondidos atrás dos homi. (...) Foi pra casa porque nós tava pesado, nem desceu. Ficou lá por cima na Sé, desceu pela outra rua que não tinha ninguém de nós. Isso é uma vergonha”.
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Confusão anunciada
Então, se tais situações já são rotineiras, e anunciadas livremente pelas redes sociais, qual será a grande dificuldade de coibi-las? O LeiaJá procurou a Polícia Militar (PMPE), Polícia Civil (PCPE) e a Secretária de Defesa Pública de Pernambuco (SDSPE), além da própria Prefeitura da Cidade de Olinda para fazer esse mesmo questionamento e não recebeu uma resposta exata para a pergunta.
Através de nota enviada por sua assessoria de imprensa, a PMPE informou que na “noite do domingo (8), policiais militares da Companhia Independente de Apoio ao Turista realizaram o policiamento ostensivo na Praça João Alfredo, Sítio Histórico de Olinda. Em determinado momento da noite, pessoas presentes em um estabelecimento comercial se desentenderam e iniciaram uma briga, ao tentarem intervir os policiais foram atingidos com pedras e garrafas de vidro, momento em que solicitaram apoio policial. A briga foi contida”. A nota também garantia que essa teria sido “a única ocorrência registrada desta natureza”, pelo menos até o seu envio.
Reprodução/Twitter
Já Prefeitura de Olinda, também por meio de nota, disse que a segurança no Sìtio Histórico é responsabilidade “do governo estadual, por meio das forças policiais coordenadas pela Secretaria de Defesa Social (SDS)” mas que “o município, através da Secretaria de Segurança Cidadã, tem atuado em parceria e diálogo, executando ações complementares. O trabalho promove o monitoramento, por meio da Guarda Municipal, com início desde as prévias de blocos e seguindo até toda a cobertura do período carnavalesco”. A gestão também informou que “por meio desta parceria, são realizadas reuniões semanais para avaliação dos eventos e as possíveis necessidades de ajustes, principalmente quanto à realização de ensaios e cortejos de agremiações aos fins de semana”. Sobre a fiscalização em relação ao uso de garrafas e vasilhames de vidro na Cidade Alta, que costuma ser proibido durante as festas, não houve resposta.
Já a SDS e a PCPE informaram que “o planejamento operacional das forças de segurança pública para o Carnaval 2023 está sendo feito e será divulgado oportunamente” e que no último final de semana “policiais civis e militares atuaram de forma integrada” nos locais de prévias “prevenindo ocorrências e reprimindo pessoas envolvidas em brigas e crimes patrimoniais”. A Polícia Civil complementou informando que “estão sendo tomadas as devidas providências com relação às ocorrências registradas nas unidades da Corporação no Varadouro e em dois pontos montados para o período pré-carnaval: Praça do Carmo e na Rua Sigismundo Alves (lado contrário ao Colégio São Bento). Esses dois pontos funcionam nos finais de semana do mês de janeiro, começando ao meio-dia e terminando à meia-noite”.
Pelas redes sociais, os grupos comentam e marcam suas ações. Imagem: Reprodução/Instagram
Orientações à população
Também por meio de nota, a Polícia Militar esclareceu que “nos finais de semana, quando acontecem prévias carnavalescas, o efetivo recebe reforço dos demais batalhões da Região Metropolitana, empenhados a garantir o ir e vir de moradores e visitantes. À medida em que os dias oficiais da folia se aproximam, o número de PMs em escala extra vai ficando sempre maior, devido ao crescimento da demanda. Eventuais problemas que surgem no trajeto das agremiações têm sempre recebido intervenção da tropa” e frisou a importância de que os organizadores de blocos e troças informem a realização dos desfiles com antecedência. Essa medida pode ser providenciada pela internet através do site https://eventos.sds.pe.gov.br.
Já a Polícia Civil e a SDS orientam que as vítimas de incidentes nas prévias devem registrar “as ocorrências para robustecer as investigações em curso em uma das delegacias ou via internet no www.sds.pe.gov.br”.
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Por fim, a Prefeitura da Cidade de Olinda informou algumas medidas que já estão sendo colocadas em prática, a partir da parceria com as forças policiais, para promover e garantir a segurança dos foliões durante todo o período de prévias até o Carnaval propriamente dito. Confira na íntegra.
Operacionalmente, a gestão já implantou e seguirá, no período Carnavalesco, com medidas efetivas para ampliação da segurança da população em todo o perímetro da cidade, sobretudo nos locais de maior visitação e polos de folia. Entre os exemplos, podemos destacar:
- Base Comunitária Móvel, no Alto da Sé;
- Posto de Atendimento ao Turista;
- Ativação de uma viatura específica e caracterizada, operando com patrulhamento preventivo, 24 horas, com exclusividade no Alto da Sé;
- Nos dias em que há atracação e desembarque de turistas provenientes de cruzeiros, uma viatura extra da Guarda permanece em Ponto Base Fixo (PBF), na Ladeira da Misericórdia com Beco do Bajado. As medidas servem para coibir qualquer prática delituosa e garantir o bem-estar de moradores e visitantes.