A projeção inicial de perda de fôlego do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), na campanha eleitoral não se consolidou e o postulante tem cada vez mais solidificado a liderança nas pesquisas de intenções de votos. E, segundo especialistas ouvidos pelo LeiaJá, tem “chances reais” de ser eleito para governar o país, apesar da sua postura conservadora e do movimento antibolsonarista que se formou, principalmente, entre as mulheres.
Dados do levantamento Datafolha dessa terça-feira (2) apontam Bolsonaro com 32% da preferência dos entrevistados, enquanto o candidato do PT, Fernando Haddad, parou de crescer e ficou na casa dos 21%. Em terceiro lugar vem Ciro Gomes (PDT) registrando 11% das intenções, seguido por Geraldo Alckmin com 9% e Marina Silva (Rede) com 4%.
##RECOMENDA##Com este cenário, estudiosos da ciência política têm apostado em um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, mas há quem não descarte uma vitória do deputado federal em primeiro turno.
Para o cientista político Elton Gomes, a hipótese a partir do curso da disputa eleitoral, é de que com o “colapso do centro democrático” a “alternativa mais a esquerda populista e mais a direita populista” decidam, no segundo turno, a eleição e, apesar de Haddad ter Lula como puxador de votos, Bolsonaro é mais competitivo.
“Em um segundo turno, Jair Bolsonaro tende a receber massivo apoio dos partidos do centrão, apoio dos setores evangélicos dentro e fora dos partidos, considerável parte do MDB deve seguir com ele, alguns tucanos, que já flertam com Bolsonaro, e ele tende a carrear o voto útil do antipetismo. A maior parcela não vai votar nele pelas suas ideias, até porque ninguém sabe as ideias que ele tem realmente. A eleição de 2018 assume um caráter de petismo e antipetismo versus bolsonarismo e antibolsonarismo”, ponderou Gomes.
Segundo ele, Haddad deve receber apenas os apoios formais dos candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Vera Lúcia (PSTU), enquanto Ciro Gomes deve se colocar como independente na disputa. E, ainda que o PT tenha fama de bom articulador eleitoral, os “principais negociadores estão fora do jogo”, como Lula, que está preso desde abril, José Genoino e José Dirceu, condenados por corrupção e cumprindo penas, e Jaques Wagner que está dedicado a sua campanha para o Senado na Bahia.
O peso do antipetismo e do antibolsonarismo apontado por Gomes na disputa também foi corroborado pelo cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira. “O bolsonarismo é um fenômeno que representa o antilulismo e eu vejo que a candidatura de Bolsonaro representa um cisne negro, contrariou todas as variáveis [previstas]. Ele não tem tempo de TV, não tem candidatos fortes aos governos estaduais, apoio de lideranças políticas, mas mesmo assim deve superar Geraldo Alckmin e estar no segundo turno”, observou.
Na ótica de Oliveira, contudo, não há favoritismos entre os dois concorrentes. “Haddad e Bolsonaro nessa disputa, não tem favoritos no segundo turno. Haddad tem a vantagem de ter as regiões Norte e Nordeste e as classes D e E, parte da classe C. As vantagens de Bolsonaro estão no fato de que ele tem as classes A e B, mas ela é diminuta, e mais fortemente a região sudeste e os evangélicos. Nessa disputa não vejo favoritismo”, argumentou.
Um ponto crucial, segundo Adriano Oliveira, para a corrida presidencial no segundo turno será a disputa lulismo e antilulismo. “O maior desafio de Bolsonaro é reforçar e ampliar o antilulismo e o de Haddad é amenizar ou reforçar o lulismo. Quem ganhar essa guerra será eleito presidente da República”, salientou, pouco depois de dizer que “o antipetismo pode levar Bolsonaro a ganhar a eleição, assim como o lulismo pode levar Haddad a vencer a eleição”.
A hipótese de eleição de Bolsonaro também foi comungada por Elton Gomes. “Há chances reais e elevadas dele ser eleito presidente da República. Alguns analistas fizeram projeções matemáticas mostrando que ele pudesse ser eleito no primeiro turno. Não se pode descartar nada, mas acredito ser pouco provável”, ressaltou, dizendo que a ascensão do candidato não é por méritos da campanha, mas por ter lançado a candidatura desde 2013, consolidando o título de “mito”, e por manter um “discurso de medo e ódio”, que “ganhou espaço no mercado eleitoral”.