Tópicos | Abrapp

A importância de se entender a necessidade de poupar desde cedo, desde muito jovem - tese defendida pelo economista Eduardo Giannetti - permeou quase que totalmente o debate 'Poupança da esperança: Como criar um novo sistema de renda futura para todos', painel que encerrou o primeiro dia do 42º Congresso Brasileiro de Previdência Privada da Abrapp.

Participaram do evento, além de Giannetti, o ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da AC Pastore & Associados, Affonso Celso Pastore, o superintendente a Abrapp, Devanir Silva, e a economista e presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas, Carla Furtado.

##RECOMENDA##

"Nós precisamos entender a importância de começar a poupar cedo no ciclo de vida, a colocar o poder do crescimento exponencial trabalhando silenciosamente a nosso favor", disse Giannetti.

A questão, de acordo com o economista, é que existe um fator biológico que incentiva o jovem a viver intensamente a vida sem se preocupar em fazer uma poupança para o último ciclo de sua vida. Além dessa condicionante, antigamente se vivia muito pouco, se morria muito cedo e, por isso, havia um incentivo muito grande para que as pessoas fizessem o que elas precisavam fazer na vida mais cedo e o mais rápido possível.

"Havia um incentivo à impulsividade, especialmente na reprodução, de fazer cedo enquanto é tempo porque mais tarde seria impossível. A incerteza do mundo era tão forte, a expectativa de vida era tão baixa que era muito arriscado, muito improvável que você pudesse fazer coisas no presente tendo em vista o longo prazo. Há uma base hormonal para isso, para que o jovem seja impulsivo", explicou Giannetti, ponderando que esse é um ambiente arcaico.

Pastore, por sua vez, afirmando não transitar muito bem pelo campo filosófico da economia, preferiu trazer para o debate a questão demográfica, cujo bônus acabou. Ou seja, acabou o crescimento da população economicamente ativa, que permitia o PIB crescer ainda que não aumentasse o PIB per capita.

"Hoje em dia esse bônus demográfico desapareceu e a única forma que o País tem de crescer é aumentando a produtividade da mão de obra. E há duas formas de aumentar a produtividade: uma é aumentar o capital físico e a outra é aumentar o capital humano", disse Pastore.

Há, ainda, segundo o ex-BC, uma terceira forma, que é a qualidade das instituições.

"Vocês citam economistas, filósofos, etc, que me é uma literatura desconhecida; eu prefiro, como um bom sapateiro que cuida de seus sapatos, me aplicar ao meu campo, que é o da teoria econômica", disse o economista ao citar um livro que se baseia nas teorias do economista austríaco Joseph Schumpeter, que tratam de inovações que permitem criar novas formas de produção e que geram mais desenvolvimento econômico.

A opinião de Pastore é a de que o Brasil precisa de instituições que permitam a "criação destrutiva" ou "destruição criativa" - teoria de Schumpeter - que produza crescimento de produtividade e permita no fundo o que só se faz com capital físico e capital humano.

Carla Furtado, a presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas, ao responder a questão sobre como conciliar o aumento da produtividade exigido para atingir o nível dos alemães com o tecer da vida plena significante, perguntou até que ponto isso é do brasileiro e até que ponto é uma mera narrativa.

Ela citou o livro "Sociedade do Cansaço", do filósofo sul-coreano Byund-Chul Han, "que mostra que estamos mergulhados em uma narrativa de alta performance e que não é, necessariamente, uma demanda nossa".

"Quando se fala em produtividade é importante que a gente se olhe ao longo do tempo porque ser altamente produtivo imediatamente é uma coisa, mas manter um nível de alta produtividade ao longo do tempo é outra completamente diferente. O que a OMS aponta pra gente é que precisamos estabelecer esse olhar de longo prazo inclusive para a produtividade", disse Carla, acrescentando que, segundo a OMS, em 2030 o maior causador de depressão será o trabalho.

Neste contexto, segundo Carla Furtado, é preciso que se olhe para a produtividade de uma maneira sustentável porque a produtividade é coletiva também do ponto de vista sustentável. "Então não é fazer uma entrega incrível agora", disse.

No final, todos concordaram que na questão da previdência, com aumento ou não de produtividade, de se começar ou não a poupar mais cedo, que é preciso separar bem o que é previdência e o que é seguridade social.

De acordo com Giannetti, é preciso haver algum tipo de proteção para aquela pessoa, que por algum tipo de contingência ficou sem renda, por exemplo, ao envelhecer. "Isso é seguridade social, não é previdência", disse Giannetti.

"Esse é um ponto que concordo com você", disse Pastore a Giannetti, acrescentando que num regime capitalista como o Brasil, de mercado e de governo "supostamente é democrático", o Estado tem de ser segurador também.

"Ele é um segurador contra crises, ele é um segurador em pandemias, contra recessões e depressões econômicas e ele é um segurador de indivíduos que são afetados negativamente pelo azar como o velho, o doente, o indivíduo que perdeu o emprego. Essa é uma obrigação do Estado", disse.

O superintendente-geral da Abrapp, Denir Silva, também concordou com os dois economistas e disse, inclusive, que se há uma crítica que ele faz ao modelo de previdência do Chile é que ele substituiu o papel de segurador do Estado.

"Eu concordo integralmente com as avaliações do professor Pastore e do professor Gianetti. Aqui, roubando um pouco do conceito do saudoso Professor Celso Barroso Leite... ele dizia que seguridade social talvez seja a coisa mais engenhosa que a humanidade descobriu. O bem-estar social é um dever do Estado mesmo. Por isso sou crítico a alguns modelos aqui na América Latina, especialmente o Chile, que substituiu o dever do Estado", disse.

O patrimônio dos fundos de pensão somou R$ 959 bilhões em outubro de 2019, o equivalente a 13,4% do PIB. O total é 7% maior que o registrado em dezembro de 2018 (R$ 900 bilhões), segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

“A previsão é que o patrimônio chegue a R$ 1 trilhão ainda neste primeiro semestre e duplique para R$ 2 trilhões em duas décadas”, afirmou o presidente da Abrapp, Luís Ricardo Martins.

##RECOMENDA##

Segundo Martins, o sistema tem apresentado crescimento "consistente e robusto", puxado pela demanda reprimida, que procurou pelos fundos a partir de 2016, depois do anúncio da reforma da Previdência.

"Tem uma demanda reprimida e temos obrigação de criar mecanismos para que essas pessoas possam ingressar em um plano fechado de previdência privada, começando pelos planos familiares. Mas acho que o segmento fechado nunca esteve tão aberto."

Dados da Abrapp mostram que a rentabilidade da carteira consolidada até outubrodo ano passado dos fundos de pensão foi de 10,69%, no acumulado do ano, bem acima da TJP (taxa que estabelece o rendimento mínimo das entidades), que ficou em 7,78%.

Para o ano de 2019, a projeção da Abrapp é que a rentabilidade do sistema chegue a 13,06%, acima da TJP (INPC+5,84% a.a) de 10,73%. O número divulgado é uma projeção, e não foi fechado, porque alguns planos ainda não terminaram o balanço do ano passado.

O resultado também é positivo quando se leva em conta prazos mais longos, que devem ser considerados quando se trata de previdência: nos últimos 15 anos (desde 2005), os fundos de pensão tiveram rentabilidade de 485,47%, em comparação à exigência atuarial de 419,64%.

O levantamento da Abrapp confirmou ainda o crescimento acelerado dos planos instituídos (criados por sindicatos, entidades de classe etc.), que somaram 442,1 mil participantes e outubro – praticamente o dobro do total registrado em 2013 (224,7 mil pessoas).

Novos produtos

Segundo o presidente da Abrapp, é preciso uma reinvenção do segmento, criando novos produtos previdenciários para o jovem trabalhador, da chamada geração dos millennials, também conhecidos como geração Y, os nascidos entre o período da década de 80 até o começo dos anos 2000.

“Precisamos de um plano de previdência flexível, identificando com muita transparência, porque se for muito complicado ele não vai entrar, esse é um primeiro ponto. Dentro dessa revolução o nosso segmento precisa se adaptar a isso e, nessa linha, estamos trabalhamos na reestruturação de novos produtos.”

 

Apesar da importância da reforma da Previdência para a saúde fiscal do governo e a confiança na economia, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) enxerga o texto aprovado como "paramétrico" e insuficiente para resolver a questão no longo prazo. "É uma reforma paramétrica que adequa o Brasil ao padrão internacional de tempo de trabalho, de contribuição, mas não resolve o problema final de que estamos tendo cada vez menos trabalho formal e cada vez menos jovens, com as pessoas vivendo mais", diz Luís Ricardo Marcondes Martins.

A avaliação é de que a nova previdência abre espaço para discussões sobre novos modelos estruturais para o setor, a exemplo do modelo de capitalização.

##RECOMENDA##

"Você só vai romper esse pacto de gerações com a capitalização de recursos do FGTS, de contribuição do trabalhador e do empregador", defende o presidente da entidade. "Sem isso, daqui a cinco anos estaremos revendo novamente esses parâmetros de idade. A demografia é implacável."

Agora, o objetivo da Abrapp é apresentar em 50 dias um projeto de Lei de Proteção ao Poupador Previdenciário - apelidado pela entidade como LPPP - para incentivar a poupança previdenciária de longo prazo. "É algo nos moldes do Código de Defesa do Consumidor (CDC), é o momento de se buscar isso."

A entidade quer, entre outras coisas, adequar o perfil de tributos para incentivar a poupança de longo prazo. O projeto deve ser apresentado pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP).

O déficit dos fundos de pensão no fim de junho alcançou R$ 84 bilhões, ante um déficit de R$ 76,7 bilhões em dezembro, de acordo com dados divulgado nesta segunda-feira (12) pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). No primeiro semestre do ano, a rentabilidade da carteira chegou em 8,44%.

Os planos BD, que são os de benefício definido, ficaram com rentabilidade de 8,28%, o que, explica o presidente da entidade José Ribeiro Pena Neto, o aumento do déficit no semestre.

##RECOMENDA##

Para o ano, a Abrapp estima que a rentabilidade fique entre 12,93% e 19,34%, o que depende, disse Pena Neto, do desempenho do portfólio de renda variável. O cenário mais pessimista coloca a Bolsa em 48,7 mil pontos e o mais otimista, o Ibovespa está em 65,9 mil pontos.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando