João Goulart Filho defende interferência no BC

Ele também fala em interferência no sistema financeiro nacional para reduzir a taxa de juros real a 0,5% ao ano

ter, 04/09/2018 - 20:06
Marcelo Casal Jr/Agência Brasil Goulart Filho disse ainda que vai suspender o processo de privatização das estatais e analisar a reestatização da Vale Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

O candidato do PPL à Presidência da República, João Goulart Filho, defendeu a interferência no Banco Central e no sistema financeiro nacional para reduzir a taxa de juros real a 0,5% ao ano.

"Não podemos colocar os banqueiros conduzindo nossa taxa de câmbio, a nossa taxa de juros. É colocar a raposa cuidando do galinheiro", afirmou o candidato, que se apresenta como Jango Filho, em referência ao ex-presidente João Goulart, deposto em 1964. 

Segundo Goulart Filho, há 20 anos, o país tinha 25 bancos privados, mas atualmente quatro instituições detêm 75% dos ativos do sistema financeiro.

Goulart Filho disse ainda que vai suspender o processo de privatização das estatais e analisar a reestatização da Vale - empresa criada em 1942 e vendida em maio de 1997. "Nossas estatais são fundamentais e estratégicas para o país", disse o candidato, citando a Eletrobras, criada no governo de seu pai (1961-1964). 

O candidato do PPL foi o quinto entrevistado pelos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). As entrevistas, sempre ao vivo, ocorrem a partir das 17h30, com transmissão pela TV Brasil, Rádio Nacional, Portal EBC e Agência Brasil. 

O programa tem duração de 45 minutos, dividido em três blocos, e é realizado na sede da EBC, em Brasília, com a participação de profissionais da Agência Brasil, TV Brasil e Rádio Nacional. Participaram da entrevista com Jango Filho, a âncora Roseann Kennedy e os jornalistas Carolina Pimentel (Agência Brasil), Priscilla Mazenotti (Rádio Nacional) e Paulo Leite (TV Brasil).

O objetivo é mostrar à população as propostas e ideias de todos os candidatos, enriquecendo o debate dos grandes temas nacionais. A ordem das entrevistas foi definida por sorteio, em reunião na sede da EBC, com a participação de assessores dos candidatos à Presidência da República. O próximo entrevistado é o candidato Alvaro Dias (Pode), nesta quarta-feira (5).

Confira os principais trechos da entrevista de Goulart Filho:

Comunicação pública

O candidato defendeu um sistema público de comunicação. “Somente dessa maneira a gente pode se informar”.

Reestatização

Sobre uma possível reestatização, o candidato afirmou que as empresas estatais são fundamentais e estratégicas para o país. Disse que vai suspender as privatizações em curso, como a da Eletrobras, e reestatizar a Vale do Rio Doce.

Sistema bancário e juros

Goulart Filho disse que, se eleito, interferirá no Banco Central e no mercado de bancos privados. O candidato defendeu taxa de juros de 0,5% ao ano. “Não podemos deixar o banqueiro conduzindo a nossa taxa de juros e a nossa taxa de câmbio”.

Ele fez críticas à concentração das instituições financeiras no país. “Há 20 anos, nosso país tinha 25 bancos privados. Hoje, quatro instituições financeiras detêm 70% dos ativos financeiros”.

Emprego e salário mínimo

Goulart Filho defendeu a expansão do mercado interno, além de propor a duplicação do salário mínimo. Mas não explicou como geraria 20 milhões de empregos em 4 anos, como prevê seu programa de governo.

Bolsa Família

O candidato do PPL defendeu o programa Bolsa Família. “Ninguém pode ser contra. Mais de seis milhões de brasileiros estão abaixo da linha da pobreza. Não podemos prescindir [do programa] por uma questão humanitária”.

Saúde

O candidato afirmou que os repasses de recursos para as Organizações Sociais devem ser suspensos.

 Ele disse que saúde pública está às traças, mas não é problema do SUS e se mostrou contrário à Emenda 95, que limita o teto de gastos do país por 20 anos.

Ainda sobre saúde, o candidato criticou a DRU (Desvinculação de Receitas da União) e defendeu o funcionamento da máquina pública: “No nosso governo, distribuição de recursos, somente para instituições públicas”.

Segurança e porte de armas

Goulart Filho criticou uma política que facilite o acesso da população a armas. “Dar uma arma para cada pessoa é uma irresponsabilidade”.

Sobre a população carcerária, hoje de cerca de 750 mil,  ele disse que pretende fazer convênios com faculdades de direito para rever os processos dos presos provisórios, que não deveriam estar na cadeia.

Defendeu a descriminalização das drogas, cujos usuários, segundo ele, devem ser tratados como caso de saúde pública. Ele defendeu a descriminalização, mas não especificou de que forma isso ocorreria: “Temos de avaliar caso a caso”.

O candidato do PPL afirmou que é completamente contra o uso de militares na segurança pública em centros urbanos. “Não tenho nada contra militares, mas passamos por situação muito grave”, ressaltou. Goulart Filho citou a necessidade de capacitação da polícia de fronteira e união de informações de diferentes tipos de polícias.

Educação

Sobre recursos para educação, o candidato Goulart Filho disse que o Brasil paga R$ 380 bilhões pelo serviço da dívida e que, “na medida em que baixam os níveis de juros a preços internacionais, é possível ter recursos para saúde e educação”. Ele defendeu a federalização do ensino básico e as escolas de tempo integral.

Segundo Goulart Filho, as universidades privadas estão sendo compradas por empresas estrangeiras. Se eleito, o candidato afirmou que, no primeiro ano de governo, pretende criar novos cursos noturnos nas universidades públicas e gerar mais um milhão de vagas.

Sobre o ensino superior, o candidato disse ainda que o país vive uma situação atípica com 1,9 milhão de alunos nas universidades públicas e mais de 6 milhões nas universidades privadas. “Nossa proposta é que os recursos do MEC sejam só usados para as universidades públicas”.

Cultura

Goulart Filho disse que a Lei Rouanet é um bom instrumento, desde que os recursos sejam bem redistribuídos. “Devemos rever a Lei Rouanet para eventos apenas de caráter público”.

O candidato lamentou as perdas do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. "O que se perdeu não vamos recuperar nunca mais. Temos que reagir no Ministério da Cultura para uso público e não com coisas privadas".

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