Decretada prisão de PMs por morte de jovem após abordagem
Morador da favela do Areião foi encontrado com tiros no peito e na cabeça, sinais de tortura no corpo e usando roupas que não eram dele
O Tribunal de Justiça Militar (TJM) decretou a prisão preventiva de oito policiais militares de São Paulo suspeitos de participarem da morte de um homem de 23 anos após abordagem policial. A vítima foi encontrada com tiros no peito e na cabeça e sinais de tortura no corpo.
A Corregedoria da PM solicitou a prisão de oito policiais. O Ministério Público (MPM) indeferiu o pedido, mas o juiz de Direito Ronaldo João Roth determinou a prisão preventiva sem prazo determinado no domingo (3). Outros quatro policiais que estavam em outra viatura e não teriam participação direta no ocorrido estão afastados, mas não tiveram a prisão decretada.
Foi determinada a prisão dos seguintes militares: primeiro-sargento Carlos Antonio Rodrigues do Carmo, segundo-sargento Carlos Alberto dos Santos Lins, cabo Lucas dos Santos Espindola, cabo Mauricio Sampaio da Silva, cabo Cristiano Gonçalves Machado, soldado Vagner da Silva Borges, soldado Antonio Carlos Rodrigues de Brito e soldado Cleber Firmino de Almeida.
O vendedor David dos Santos Nascimento saiu de casa, na favela do Areião, na noite de 24 de abril para esperar a chegada de uma entrega de comida solicitada por aplicativo. Enquanto esperava, ele foi abordado por PMs e colocado no banco de trás da viatura. Foi encontrado morto horas depois.
Em depoimento, os policiais negaram ter matado o vendedor. Eles disseram ter abordado outro suspeito no local, de nome Pedro, que segue vivo.
O juiz destacou que houve suposta fraude processual, com alteração das vestes do vendedor e falsidade envolvendo o civil Pedro, "o qual poderá ser atemorizado pelos militares."
Na versão apresentada na delegacia, os militares contaram que perseguiam quatro homens em um veículo. Os criminosos teriam abandonado o carro na favela do Areião. Um deles, que seria David, teria atirado nos policiais e recebido cinco tiros. Os PMs afirmaram que o vendedor portava uma pistola 9 mm. Testemunhas negam essa versão.
A mãe do jovem, Cilene Geraldina dos Santos, de 38 anos, disse ao Ponte Jornalismo que o filho foi encontrado com uma roupa diferente da que usava quando saiu de casa. Um familiar que não quis se identificar relatou que dois carros têm rondado a casa da mãe de David. No dia do enterro, homens bateram no portão dela perguntando por ela e dizendo que precisavam levá-la ao local do crime. A família suspeita que eram policiais à paisana.
Além disso, policiais militares voltaram ao local da abordagem 24 horas depois da abordagem e mexeram na câmera que filmava a área.